sexta-feira, 30 de março de 2012

Todos os horizontes lhe acenavam da mesma maneira.

_Olá, como vai, tudo bem?

_Eu vou rindo, e você, tudo bem?

_Vou voltando, aliás, quem é você?

_Eu sou eu, ué. Mas também sou você. E você?

_Eu também sou eu, e também sou você. E agora?

_E agora tipo “o que faremos” ou “e neste momento quem é quem”?

_Tanto faz, acho. Na verdade sou o que sempre foi e sempre será.

_E eu, somente estive, nunca fui?

_Exatamente.

_Então quem sou eu?

_Você simplesmente não é.

_E você, então, quem pensa que é?

_Eu sou o seu eu do eterno retorno.

_Meu eu da ruína e do abismo?

_Eu sou seu eu do esquecimento.

_E eu, quem sou?

quinta-feira, 8 de março de 2012

Toda casa tem um terreiro e uma mucama para lhe servir.

Preto pode lutar pelos seus direitos. Homossexual também pode. Desempregado, subempregado, sem-terra, sem-teto, idem. Crente, ateu, todo mundo pode e deve lutar por seus direitos. O índio pode. Estudante, classe média sofrida, qualquer fucking minoria (ou maioria) pode subir no caixote de maçã e bater bumbo. Até cigano pode reclamar do Houaiss. Todo mundo tem voz.

Porém, quando é a vez da mulher, sempre há uma má vontade, um escárnio excessivo, como se “ah, vocês já num votam, tomam pílula, trabalham, podem até se desquitar!, querem mais o quê?”.

Até as mulheres têm receio da data, afinal ninguém quer parecer uma balzaquiana com um ouriço em cada sovaco, um buço maior que o do Olívio Dutra e roupas mais feias que a da Simone de Beauvoir.

Nenhuma outra militância é tão estereotipada quanto a feminista. Ah, é só comércio. São mal amadas. Mulheres é que são machistas.

Agora imagina só uma mulher-preto, mulher-índio, mulher-crente.

Pois é.

O Dia Internacional da Mulher existe para a gente não esqueça de que ainda falta muito para que ele possa deixar de existir.