quinta-feira, 30 de julho de 2009

Não acredita no que vê, não daquela maneira.

Joãozinho acorda de manhã bem cedo
Com as costelas tremendo de frio e medo
E vai até a porta de seu barraco de madeira
Olha com desdém onde jaz ali à beira
Seu padrasto desmaiado de aguardente
Naquela cena tão comum e deprimente
E vai olhar o sol se levantar dos destroços
Pedindo com os olhos a companhia dos moços
Que saem logo bem cedo para trabalhar
Em obras, lixões, em balcões de bar.

A luz da manhã lhe arde os olhos pequenos
Com o cheiro do esgoto e seus tantos venenos
Ratos passando pelo chão batido de terra
Todos animais, vivendo na mesma guerra
Não tem nada para comer ou beber na mesa
Não há nada senão confiar na mesma reza
Que a mãe faz para as coisas melhorarem na vida
Para que a desventura resolva dar partida
Na carroça de miséria que puxa aquelas almas
Para tão longe de onde vem a calma.

Longe do grande estereótipo de preto
Mais longe ainda do caminho mais correto
Ele é seguido pela sombra criminosa
A saída, creia em mim, mais honrosa
Do que passar fome ou esperar ajuda
Do que ouvir o ronco da barriga muda
Que grita sozinha por uma intervenção
Da política que jamais traz solução
E das propagandas que anunciam promoções
Que requerem dinheiro aos borbotões.

Joãozinho fecha os olhos, imaginando
Outro mundo se lhe desvendando
Com a mesa posta, a família unida
Seus quatorze irmãos e muita comida
Seu pai fora da cadeia, com ele no colo
Verdes plantas nascendo num fértil solo
O perfume das flores, brinquedos de verdade
Nada de imaginar mais mortes e maldade
Mas os olhos se abrem, cheio de lágrima
E o livro da sua vida ainda está na mesma página.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Goodbye... and it's emotional.

Momento corneta: faz uns dez minutos que recebi a notícia de que André Santos (que já estava a fim de sair desde o meio do ano passado), lateral titular da seleção de Dunga, e o gladiador e mata-bambi Cristian, foram negociados com o pífio Fenerbahçe, da Turquia.

O mais legal é comprar o inútil do Morais por R$ 6 milhões, pagar R$ 175 mensais ao Souza, e, enquanto isso, vender dois jogadorzaços e ainda menosprezar Herrera, que custaria módicos R$ 2 milhões.

Não é à toa que Andres Sanchez, a despeito de ter mandado muitíssimo bem ao contratar Mano Menezes, não nega seu passado incompetente de vice- do nefasto Dualibi e quer fazer dinheiro vendendo jogador bom e comprando cabeça-de-bagre.

Agora é ver como o Mano vai repor essas duas importantíssimas peças. E, no mais, valeu André Seleção, valeu Cristian Gladiador.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Wake up: time to die!

Uma das poucas coisas nas quais Sartre e Freud concordavam era sobre o fato de as relações humanas serem impossíveis, pois, cada um ao seu modo, os sexos idealizavam a si mesmos. Ainda que mais do que a outrem que os completassem, e, por isso, nada se acertava jamais. Estaríamos todos fadados ao fracasso pelo instintivo egoísmo de procurar-nos outros nós mesmos, e não o que nos completasse.

Vou falar sobre suicídio, Sísifo à parte, que é um tema caro (vendido barato) a toda nossa sociedade ocidental. Todo mundo tem medo, receio, tabu justamente por ser um ato que de nunca que as pessoas fazem apostas indevidas umas sobre as outras, e se decepcionam e carregam pessoas inexistentes quando tudo falha. O inferno é a monotonia, por isso todos se arriscam pateticamente em empreitadas fracassadas, como pusessem pular as chamas eternas e justas da condenação. Abismo que atrai sempre outro abismo.

Investimos nas pessoas e elas se matam, como assim? Que fracasso, que ingratidão!

Dói-nos saber e todo o esforço em enquadrar tais pessoas na sociedade fracassou. Por isso transformamos tudo em tabu: quem abdica da própria existência é proscrito, maldito, desdito tampouco merece menção em qualquer sufrágio; aos suicidas, um círculo infernal terrível, sem esperança de redenção, muito menos reabilitação em terra com os pertences e valores deixados. Matar-se e covardia, derrota, desterro. O certo é saber que o certo é certo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Eternidades da semana

Como naquele infame verso do último disco do Frejat, “dar um photoshop na realidade” é o que a imprensa resolveu fazer. É o New New Journalism: sob a desculpa de que “sabia que ia desafiar as convenções do jornalismo“, o repórter ignorou, isso sim, a ética, a vergonha na cara e o bom senso, no afã de querer “dar furo” numa época em que a internet engole os impressos na questão da velocidade. Que tal os assinantes ganharem um aplicativo NoticeYourself!, com temas-chave, daqueles “de gaveta” e umas fotos para serem editadas no PaintBrush?

Eu queria morar numa favela: Serra e Kassab, sempre antenados com as incríveis políticas sociais do PSDB/DEMo, não satisfeitos com as rampas antimendigo, o extermínio de moradores de rua por policiais (lembram?), o sucateamento dos albergues, agora os moradores de rua são expulsos da cracolândia original, sob a pretensa revitalização da região, apenas para instalarem suas carcaças umas quadras acima, com os mesmos problemas. Com a direita brasileira, e a bela classe média que a elege, é assim: se não estou vendo, não é mais problema meu. E o Haiti não é só aqui: todo reduto de viaduto tem um muito de campo de concentração. Ser notícia velha embrulhada no jornal.

No Brasil, 11,5% das crianças são analfabetas. E o pessoal preocupado em legalizar a maconha.

Júlio de Mesquita Filho, o mesmo do infame editorial “Basta!”, anti-Jango e pró-ditadura, é celebrado como modelo de caráter.

Vendo televisão, descobri que a dignidade vale uns R$ 200 para fingir que namora alguém, que você dá dinheiro ao pastor, e, num passe de mágica, fica com mais dinheiro, e que a felicidade é uma mão de tinta numa parede descascada. Ah, e que todas as operadoras de telefonia funcionam direito, os diretores de arte das agências são extremamente criativos nos conceitos, que, com dinheiro, uma cópia barata vira uma cópia cara.