terça-feira, 16 de outubro de 2007

.cinema falado.

Em Nome Do Pai (In The Name Of The Father – Jim Sheridan, 1993): Daniel Day-Lewis, que já havia vencido o Oscar de melhor ator por Meu Pé Esquerdo (My Left Foot, 1989) deu show neste filme, pra variar, concorreu novamente por este filme e, pasmem, perdeu para Tommy Lee Jones, vilão d’O Fugitivo (The Fugitive). Se ainda perdesse para o também nomeado John Malkovitch, que estava ótimo como o vilão de Na Linha De Fogo (In The Line Of Fire), vá lá, mas enfim (em 2002 Daniel perdeu novamente, com o meia-boca Gangues De Nova York (Gangs From New York) desta vez para Adrien Brody, do chatíssimo O Piano (The Piano). O que parece ser só mais um filme sobre tribunais e condenações injustas (no caso um rapaz babaca irlandês associado erroneamente a um atentado do IRA na Inglaterra e condenado à prisão perpétua), à la Hurricane (Hurricane, 1999, com Denzel Washington), torna-se uma parábola sobre acertar as contas com o passado, a vida, as atitudes, as relações consigo e com a família. Filmaço, emocionante – e baseado em fatos reais.

Fugindo Do Inferno (The Great Escape – John Sturges, 1963): sim, um filme de guerra (oficiais ingleses e americanos aprisionados pelos nazistas em 1943 – história verídica) pode ser divertido – mesmo com atores carrancudos e machões como Steve McQueen, James Garner, James Coburn, Charles Bronson e Richard Attenborough (sim, ele mesmo, que depois virou diretor). É um filmaço que, ao longo de 170min (que passam voando) entretem, deixa tenso, diverte, assusta e comove. E McQueen dá show. Apesar de não ser considerado um clássico do cinema, eu recomendo-o com certeza. Diversão garantida por três horas, esteja você sozinho, com seu par, amigos ou família. Todo mundo vai gostar.

Matar Ou Morrer (High Noon – Fred Zinnemann, 1952): Zinnemann, que no ano seguinte se consagraria definitivamente com A Um Passo Da Eternidade (From Here to Eternity, 1953) traz aqui um faroeste único, atemporal e visionário. Pena que o cinema americano não seguiu essa tendência e foi preciso virem os italianos (!), uma década e meia depois, para trazer maturidade ao gênero, que então ainda mostrava mocinhos lustrusos e donzelas indefesas contra mexicanos vagabundos e índios sendo tratados com cenário. Mas vamos ao filme em si: em tempo real (sim, uns 50 anos antes de 24 Horas), o filme nos mostra a apreensão do recém-casado xerife Will Kane e o dilema entre sair em lua-de-mel ou cumprir sua função uma vez mais e enfrentar o vilão Fank Miller (Ian MacDonald) que saiu da cadeia e está vindo, com sede de vingança, no trem que chega ao meio-dia. Aí são uns 40min em que toda a covardia, a hipocrisia e a falsidade da sociedade (não só da época, mas de todos os tempos) vai se revelando – e deixando o protagonista sozinho para o confronto final. Formidável crescendo de tensão sem nenhuma ação (apenas no final), apenas com as tomadas inovadoras e os diálogos fulminantes. Os únicos pontos negativos são para as atuações da então-infante Grace Kelly (inexpressiva) e da desconhecida Kati Jurado (caricata como numa novela mexicana). Lloyd Bridges – com a canastrice já no sobrenome – não compromete, e o então-novato Lee Van Cleef sequer abre a boca. Por isso o filme é só-e-somente-só de Gary Cooper, que dá ao mesmo tempo força, humanidade e dignidade para o xerife Will Kane, e foi “oscarizado” com justiça. Clássico obrigatório; mate se precisar, mas não morra sem vê-lo.

O Exorcista (The Exorcist – William Friedkin, 1973): é sempre um prazer rever este filmaço, ainda mais numa madrugada chuvosa e de vento balançando as árvores. Linda Blair angelical (e depois demoníaca), Max Von Sidov [o ator preferido de Ingmar Bergman nos anos 1950s, tendo estrelado pérolas como O Sétimo Selo (Det Sjunde inseglet, 1957) e A Fonte Da Donzela (Jungfrukällan, 1960)] com toda austeridade, Ellen Burstyn um ano antes de ganhar o Oscar de melhor atriz por Alice Não Mora Mais Aqui (Alice Doesn’t Live Here Anymore), do Scorsese. Mas o filme é, sem dúvida, de Jason Miller, o atormentado padre Damien Karras. O resto deixo pra vocês lerem aqui.

Os Abutres Têm Fome (Two Mules For Sister Sarah – Don Siegel, 1969): sim, não só filmes de guerra, como também faroestes podem ser divertidos. Don Siegel, um dos mestres de Clint Eastwood (depois de Sérgio Leone), conduz uma quase-comédia de faroeste – acho que filme-de-aventura-passado-no Velho-Oeste seria mais adequado – sobre um pistoleiro carrancudo (Clint, claro) e uma freirinha vigarista (Shirley Maclaine, ótima) que se unem para uma arriscada aventura na fronteira com o México. Ação, aventura e risadas, tudo na medida. E o auxílio luxuoso da batuta do mestre dos mestres Ennio Morriconne comandando a trilha sonora. Outro filme para toda a família – e ótimo para desfazer qualquer preconceito contra o gênero faroeste.

Sindicato De Ladrões (On The Waterfront – Elia Kazan, 1954): ex-comunista, Elia Kazan denunciou colegas de seu ex-partido no Comitê de Investigações de Atividades Anti-Americanas. Atitude deplorável daqueles tempos macartistas; porém mais deploráveis são aqueles que desprezam sua obra por causa de sua opção política e/ou de seus erros na vida pessoal. O fato é que, além deste, ele realizou outros clássicos como Vidas Amargas (East Of Eden, 1957) e Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire, 1951). Respeito e consideração, etc.; porém o filme me decepcionou um pouco. É bom, tem algumas cenas marcantes, mas creio que, no geral, envelheceu mal, carece de ritmo e acaba caindo naquela vala de “filmes de transição” daquela época mais ingênua, que iria até o final dos anos 1960s.

Tudo Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, Mas Tinha Medo De Perguntar (Everything You Always Wanted To Know About Sex * But Were Afraid To Ask – Woody Allen, 1972): visivelmente inspirado pelos esquetes do programa inglês Monty Python's Flying Circus (1969–1974), o filme traz diversas historias que fazem paródia a algumas perguntas do livro (sério) homônimo, grande sucesso naquela época de liberação sexual. Embora irregular, o filme vale pelos dois incríveis (e famosos) momentos do Doutor Ross (Gene Wilder) apaixonado pela ovelha Daisy e dos espermatozóides (o próprio Woody Allen entre eles) se preparando para “entrar em ação”.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Febeapá

O golpismo (vulgo tucanagem) está em todas, não perdoa uma. Enquanto isso, vai tudo bem em São Paulo, repito. Transportes, administração das estatais, níveis de segurança, níveis de educação... enquanto isso os pássaros bicudos vão se desentendendo entre si e sendo desmascarados quando o circo não é previamente combinado. Ainda bem que o Legislativo é confiável.

De tudo que é humano, nada me é estranho.

O que você está fazendo no Vietnã? Churrasco! O que você está fazendo no velório? Churrasco! Ei, este é meu, vá fazer o seu!

Como vovó já dizia, pedra que quica não cria musgo e chaminé de bêbado não tem dono.

Mondo bizarro: pobres violas sendo violadas, um filme imperdível investimentos eclesiásticos diversificados, "Procon é o caralho" e desemprego que vai estar chegando a níveis alarmantes.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

In the Electric Cinema or on the telly

Agora uns filmes sem (muita) polêmica.

Colheita Do Mal: tem Hillary Swank quase bonita, efeitos especiais fascinantes um tema interessante (missionária que vira cética após sua família ser morta por fundamentalistas religiosas, começa a percorrer o mundo, à James Randi, desmascarando crendices religiosas cientificamente, até que começam a surgir indícios de pragas semelhantes às que Jeová jogou nos egípcios). Só que o resultado e horrível: a resolução da história é pífia e a Ciência sai desmerecida ao final da projeção, com uma apologia às pseudociências e ao obscurantismo. Sem dúvida um desserviço.

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O Exorcista II – O Herege: tentei ver de novo, pela terceira vez, acho, e num tem jeito, é muito ruim. John Boorman deve ter feito sob efeito de entorpecentes (ou, sei lá, na falta deles) e comete um filme confuso, de má vontade, com “defeitos especiais”, uma história frouxa que tenta explicar (e nem consegue) coisas que sequer precisavam ser explicadas do primeiro filme, aquela obra-prima imortal que já até mereceu post aqui. Junte isso a uma Linda Blair gorduchinha, já se entupindo de bolinhas, e um Richard Burton visivelmente constrangido. Sorte de Kubrick, que recusou o projeto, e de Max Von Sydow, que aparece pouco. Ah, o terceiro filme eu nem vi; e o prequel (O Início) é medonho.

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Joe Kiddo, Django e A Marca Da Forca: três bons exemplares do western spaggethi, gênero que ao mesmo tempo profanou (onde já se viu italianos filmando italianos em paisagens italianas – e tudo como se fosse o Velho Oeste) e levou o estilo a um patamar mais elevado (mais crueza e realismo – e ao mesmo tempo mais expressionismo –, menos prefonceitos ou estereotipações contra índios e mexicanos. O primeiro é o mais fraco dos três, mas rende boas cenas de ação, com direito até a um trem invadindo um bar cheio de vagabundos e Clint saindo dele já passando fogo geral. O segundo traz Franco Nero arrastando seu caixão, cujo conteúdo ninguém sabe, pelas pradarias enlameadas, cena imortal que foi homenageada pelo mariachi de Tarantino. E o terceiro começa num ritmo alucinante (Clint com o pescoço na forca logo aos 4min de filme) e tem cenas antológicas com enquadramentos idem, a despeito do ritmo irregular.

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O Fora-Da-Lei Josey Wales: este bangue-bangue merece um parágrafo à parte, pois é impecável, dos melhores que já vi. Trilha sonora, direção de arte, fotografia, atuações, equilíbrio entre drama e ação sem queda no ritmo, roteiro, tudo é perfeito. Vale muito a pena ver, especialmente para quem tem preconceito contra esse gênero cinematográfico. A cena de Josey Wales (Clint, claro) propondo um acordo de paz com o chefe dos comanches é de chorar; daqueles momentos em que penso “PQP, é por isso que eu amo cinema.”. Imperdível.

[Obrservação: uso o termo faroeste italiano e seu correlatos mesmo patra filmes americanos, como os feitos pelo Clint quando foi filmar na América, que usem da estética criada por mestres como Leone e Corbucci.]

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Crash – Estranhos Prazeres (não confunda com o recente e oscarizado Crash – No Limite): como a maioria dos filmes do David Cronenberg, este aborda os aspectos grotescos, insólitos, animalescos e bizarros da condição humana, o que faz com que cheguemos a pensar de realmente devemos gostar do que ele nos mostra. Porém nada é exatamente gratuito: quem entende de cinema sabe que a obra do diretor é extremamente ímpar, coerente e conceitual... e para estômagos fortes e cabeças-feitas.

Se você já curte, experimente, mas vá preparado. Caso não esteja familiarizado com a mente doentia desse canadense maluco, procure títulos não-tão-pesados como Gêmeos – Mórbida Semelhança, Marcas Da Violência (meu preferido) ou Spider – Desafie Sua Mente (PQP, olha os subtítulos que eles colocam). Curiosamente, saiu no Estadão deste domingo uma matéria sobre o relançamento do livro que deu origem ao filme.

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Os Duelistas: o visual deste primeiro filme de Ridley Scott impressiona, mas tudo se explica quando se sabe que ele já tinha milhares (!) de comerciais de televisão no currículo; não era, portanto, um debutante das câmeras. O que parece um tema banal (dois soldados napoleônicos duelando a vida inteira por um motivo fútil que acaba se perdendo com o passar dos anos) torna-se uma monumental metáfora sobre o sentido da vida (Bergman deve ter adorado), com um final que, nas mãos de um palerma qualquer, seria o desfecho previsível de um filme repetitivo, mas que é inesperado e belíssimo. Enfim, como sempre e desde sempre, é Ridley Scott mostrando como se faz.


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Amor À Flor Da Pele: Wong kar-wai também sabe o que faz, sempre nos brindando com pérolas de delicadeza narrativa e conceitual, trilha sonora arrebatadora e visual deslumbrante, além de atuações sóbrias e marcantes. Este aqui não tem o visual tão incrível quanto o de 2046, nem a beleza de Zhang Zyhi, mas Tony Leung está lá, as belas canções também, o romantismo poético... e a já veterana Maggie Cheung também dá show. Deve ser o mais belo, poético e delicado romance que já vi na tela. Obra-prima.

Meu Brasil brasileiro

TURISTAS: eu sabia que seria ruim, como meu irmão havia me advertido, porém tinha certeza de que me divertiria. E foi o que aconteceu – o filme é tão tosco e surreal que é invariavelmente engraçado. Esqueça toda aquela melindragem da mídia brasileira, da Embratur e de outros babacas: é um filme ruim de terror porque é um filme ruim de terror, independentemente de denegrir ou não nosso Brasil varonil.

É ruim porque segue o que há de pior no subgênero de terror slasher: na primeira hora do filme não acontece nada, apenas somos apresentados aos personagens, babacas e tão estereotipados que você mal consegue distingui-los e nem sente falta quando um dele é morto – às vezes você até torce para que determinado babaca seja estripado logo e pare de estorvar; o roteiro tem mais buracos que um chocolate aerado, com erros de continuidade (não dá pra saber nem em que lugar do Brasil exatamente eles estão), de lógica (brasileiro que começa falando inglês de Tarzan e termina o filme quase um nativo ianque, vilão caricato com falas clichê que mata um comparsa sem quê nem por quê) e sequer consegue chocar [ainda que bem feitinho, com uma produção correta, as cenas de suspense e horror são pífias e tudo ainda culmina numa perseguição chatíssima sob a água (!)].

[Aliás brasileiro precisa se decidir se tem orgulho só em época de Copa, Olimpíada, filme ruim e episódio d'Os Simpsons, está ficando ridículo. Nossos patrícios ficam o ano inteiro falando mal dos conterrâneos, do país, da situação, dos políticos, do tal “espírito malandro” – mas, num arroubo de “do meu país só eu posso falar mal”, surge da tumba esse patriotismo bobo e essa indignação torpe à movimento “Cansei”. Você viu algum australiano reclamando de Wolf Creek ou dos rednecks americanos protestanto contra todos os filmes em que aparecem como jecas psicóticos racistas, desde Amargo Pesadelo e Texas Chainsaw Massacre, nos 1970s?]

Quanto ao Brasil mostrado no filme: olha, exceto pelo tráfico de órgãos (do qual nada sei, mas, vai saber, né), é mais ou menos aquilo mesmo. As mulheres daqui estão sempre de graça pros gringos, quando você precisa de polícia na “quebrada”, nunca consegue ajuda, os motoristas de ônibus cariocas correm demais e são imprudentes, os gringos são bobos, se entopem de caipirinha e levam golpe de prostitutas, coisas assim. Nada grave. Mas ainda prefiro a jibóia engolindo o Bart n’Os Simpsons.

Enfim vale para dar risadas, especialmente pelo final, no qual toca uma música hilariante (durante o filme rola pancadão carioca e Marcelo D2).