segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Yet we admire this insignificance: oh shameful, pathetic!

[Hi.po.cri.sia, s.f. Manifestação de fingidas virtudes, sentimentos bons, etc. Fingimento, falsidade.]

O Oscar é chato? É, ainda mais com os comentários do Rubens Evald Filho e do José Wilker, patéticos de fraque no estúdio. Mas a festa em si é feita pelo cinema americano e para o cinema americano. E quem diz “ah, eu gosto de cinema, mas não gosto de filmes hollywoodianos” está falando besteira e não entende nada de cinema. Cinema é cinema americano – e essa frase nem é minha, é do Godard. Os ianques inventaram a técnica, construíram a indústria, acumularam os maiores gênios e suas obras-primas e são eles que mantêm a indústria, sem a qual o cinema teria tanto alcance artístico atualmente quanto a xilogravura.

Falando no Rubens, ontem ele soltou duas gafes impagáveis: uma quando Rbert Boyle foi receber o prêmio pé-na-cova, digo conjunto-da-obra, e ele soltou um “Nossa, como ele ‘tá velho, acho que nunca ninguém tão velho recebeu um Oscar”. De uma elegância ímpar, não é? Mas o melhor da noite foi quando do indefectível clipe com os melhores filmes das edições anteriores, ocasião (assim como em qualquer outra coletânea de imagens fílmicas) em que o Rubens aproveita pra ficar desesperado dizendo os nomes, tentando acompanhar as imagens, na tentativa de mostrar olha-como-eu-sou-foda-e-sei-tudo. Mas como esse clipe específico tinha legenda com ano e nome dos filmes, restava a ele tentar repetir o título em português sibilar com língua bifurcada coisas como “Braveheart, Coração Valente, prêmio discutível” (detalhe que ele não disse nada de bombas como Shakespeare Apaixonado ou O Paciente Inglês, mas enfim...); e foi hilariante quando apareceu a Hillary Swank socando uma pêra com a legenda “2003 – A Million-Dollar Baby” e nosso inefável crítico se embananou e falou “Dois mil e três... Garota Dourada....”. Fiquei imaginando ela, o Clint e o Morgan ao som de Rádio Taxi, todos de mullets e paletós de ombreira.

Também não entende nada de cinema quem alardeia todo ano nos jornais que “o Oscar está mais político” só porque têm sido premiados filmes como Crash – No Limite e Onde Os Fracos Não Têm Vez. Na verdade desde que Midnight Cowboy foi premiado que nenhum filme realmente contundente foi contemplado com um Oscar. Filmes como Beleza Americana e Crash são domesticados, são meros arranhões na superfície de coisas muito mais horríveis. Ou alguém discorda de que Brokeback Mountain era muito mais filme e não foi premiado porque os velhinhos judeus da academia não queriam saber de caubóis queimando a rosca? Nem vou mencionar o caso Taxi Driver + Todos Os Homens Do Presidente x Rocky, né. O dia em que algum filme do Danny Boyle, do Cronenberg ou do David Fincher ganhar Oscar de melhor filme, aí a gente conversa.

Não tenho mais paciência pra isto: quem acha que Tropa De Elite é fascista não sabe direito nem o que é fascismo, nem o que é cinema – e tenho dito. Aliás o filme foi tão mal compreendido pela sociedade, tanto de esquerda quanto de direita, que cai no assunto do post anterior, sobre os estereótipos. As pessoas vão ao cinema (ou ao DVD piratão) já com opiniões de_formadas com base em disse-que-disses e nos próprios preconceitos. E é engraçado como cada época tem seu xingamento desmoralizador-símbolo, aquele que as pessoas usam quando querem rotular algo com o qual não querem nem discutir. Já foi, mais ou menos nesta ordem, pagão, leproso, bruxo, pestilento, herege, judeu, nazista, comunista... agora é fascista. Talvez poderiam xingar o filme de emo também.


***

PS: dupla filhadaputagem... o Paraguai querendo dar uma de Bolívia, tentando rever contratos de cessão dos direitos de Itaipu (que eles não usam porque sequer têm capacidade, por isso cederam a energia a que teriam direito), como se estivessem sendo explorados (no caso da Bolívia era diferente, o Brasil pagava uma mixaria mesmo) ao passo que eles contribuem com o Brasil enormemente com a indústria da falsificação, do contrabando e da bandidagem (com carros roubados aqui e desmanchados lá). E nosso governo ainda anuncia medidas de infra-estrutura para ajudar o país-irmão. Eu falo que às vezes o Governo Lula é muito bunda-mole. Ah, e a filhadaputagem parte dois é a discriminação que os brasileiros têm sofrido para entrar na Inglaterra, coisa que se estende ao resto a Europa e não só a nós, mas aos imigrantes principalmente do norte da África. É um sistema tão hipócrita que, assim como fazem no EUA, o próprio sistema demagogicamente rígido oferece as brechas para que seja burlado. Afinal, alguém, nesses países tão nobres e ricos, precisa ser chapeiro do Burger King, limpador de bueiro e garçom, não é? Os europeus parecem se esquecer que, assim como os japoneses, vieram como retirantes paraibanos mendigar subemprego aqui nas épocas de guerra. É a mesma coisa de os paulistas (sempre eles) destilarem preconceito contra os nordestinos, quem em verdade construiu não só a cidade, mas o país.

Nenhum comentário: