Irmão Sol, Irmã Lua: uma pouco de açúcar além da conta. Mas eu já esperava isso; afinal, é um filme do Zefirelli. Mesmo assim é uma obra belíssima, leve, terna, edificante (no bom sentido), a qual não busca julgar motivações religiosas ou esquizofrênicas de Francisco de Assis, mas apenas mostrar o quanto a vida simples, repleta apenas do essencial, pode conduzir à felicidade e à verdade interior a qual todos procuram. Talvez o único cristão que viveu como Jesus. Claro que uma exceção não invalida a tese d’O Anticristo de Nietzsche (“O Evangelho morreu na cruz”), mas, ainda assim, esse jovem nobre que escolhe a mendicância da natureza tem muito a nos ensinar com sua loucura (ou seria iluminação?). Altamente recomendável para tardes ensolaradas de domingo.
Fora De Rumo: engenhoso thriller sobre adultério, chantagem e crimes afins. Clive Owen, como quase sempre (Rei Arthur é dose) manda muito bem, enquanto Vincent Cassell convence bastante e Janiffer Aniston não compromete. O filme me prendeu bastante até o final, ainda que nos 10min finais tenha havido umas presepadas. Divertido.
O Senhor Das Armas: não gosto do Nicholas Cage, isso não é segredo. Acho-o péssimo, do nível de bobocas meramente esforçados como Tom Cruise e Reinaldo Gianecchini. Sabem que são ruins, até tentam melhorar, mas não conseguem. A cara de mané do Cage pode servir a melecas como Cidade Dos Anjos, e até não comprometer dramas leves como Asas Da Liberdade. Mas, em filmes pesados, como 8mm e este Senhor Das Armas, o resultado é desastroso. Só mesmo coadjuvantes de peso, direção bastante segura e um ótimo roteiro para segurar a onda. Felizmente temos todos esses ingredientes neste caso. Mas como irrita a eterna expressão abobalhada do protagonista: ele passa de filhinho de papai a negociante de armas com os piores escroques do planeta, presencia tragédias, tensões e massacres, mas não muda: o personagem continua raso, pálido, pífio, graças à “interpretação” de Cage. Sorte que o roteiro é formidável e não descamba, em nenhum momento, para atalhos e caminhos fáceis do sentimentalismo e do maniqueísmo. Jared Leto e Ethan Hawke estão OK e o filme é impactante.
Juventude Transviada: eu não estava exatamente no pique para vê-lo, mas, ainda assim, é um grande filme, bastante atual e moderno, fazendo jus à fama de clássico. James Dean é o típico rebelde sem causa, refletindo, com seus amigos e rivais, a típica atitude dos jovens e da sociedade em geral do pós-Segunda Guerra: niilismo, inconseqüência, sensação de presente absurdo. Sensação essa que parece não ter passado, em todos nós, até hoje. A náusea e a angústia parecem ter se instalado permanentemente na sociedade.
Gandhi: clássica cinebiografia do líder indiano (não apenas hindu) Mohandas “Mahatma” Gandhi. Filme marcante em todas as suas centenas de minutos. Nas cenas tocantes e nas cenas chocantes. Caracterizado de forma muito semelhante a Gandhi tanto na juventude quando na maturidade, Ben Kingsley dá show durante todo o filme, conferindo a doçura e a dignidade necessárias ao papel. Nem a extensão do filme pode ser criticada: as mais de 3h passam voando. Irretocável.
O Evangelho Segundo São Mateus: o primeiro Pasolini a gente nunca esquece. Rústico, feito com pouquíssima grana e, aparentemente, com atores amadores, esta deve ser o mais fiel retrato da vida de Jesus (pelo menos admitindo como verdade o Evangelho). Dando ênfase à vida monótona e pálida naquela parte rude e empobrecida do planeta, o filme dâ mais ênfase ao caráter político de Jesus, sua sanha revolucionária, por (várias) vezes assustadora, por vezes complacente. Vale notar que quase não há sofrimento físico para o Jesus de Pasolini. A violência maior está na fotografia e nas tomadas inquietantes. Vale a pena ser visto e revisto, deve melhorar a cada nova visão.
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