sábado, 26 de novembro de 2011

Os homens e os deuses são a mesma aposta.

[Finalzinho de 2010.]

[18h26min] Eu acordava de um sonho e ia comer batatas cozidas com atum, tipo aquelas saladas frias, enquanto esperava uma carne fritar. Enquanto isso lembrava de um sonho dentro de um sonho, no qual eu sonhava³ com uma Morte solene feito a d’O Sétimo Selo, com a aparência de uma carta de tarô, dizendo que ela era puríssima e verdadeira, e o homem mera imitação porque Deus nos fez simulacro dele mesmo, e mais, do Adão, do ser primordial. [18h27min]

Só sei que, ao redor, tudo era silêncio e treva.

[Final de 2010]

Sonhei que estava num terreno baldio bem extenso, com mais uma pessoa, quando começamos a ouvir uma voz sombria repetir inexoravelmente “qualquer dia é sexta-feira, qualquer hora é meia-noite”, quando veio correndo, do horizonte para a nossa direção, uma criatura monstruosa, quimérica, com partes de lobo, demônio e outros bichos. Começamos a correr em fuga, pulando arbustos, muretas e arames, até que essa pessoa que estava comigo e foi apanhada. Eu, covarde, para não morrer, comecei a entoar o coro maldito também. Apareceram então os caras da minha banda e mais uns amigos, e íamos fazer um show, acho. Um dos caras falava muito sobre nós, quando chegamos numa parte do terreno em que havia uma espécie de muro de vidro, com vários negros e três mulheres com roupas africanas, fossem de uma tribo ou dançarinas típicas. Elas pegaram nas minhas mãos, ficaram esfregando os dedos nos meus enquanto me faziam girar numa ciranda ao som de outro cântico estranho, com um nome que parecia ser de dança tribal. Deixei-me levar e enlevar, até perceber que meus dedos estavam inchadíssimos, grudados, queimados e grudados. Doíam demais! – e como eu iria fazer o tal show? Um dos meus amigos foi procurar ajuda no que parecia ser a praça central da cidade, mas eu só pensava em um bebedouro para molhar aquelas queimaduras. Então lavei aquelas mãos deformadas e desci escadas obscuras para não sei onde.

.Ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn.

[Últimos dias de dezembro de 2010]

Sonhei que estava num cenário típico das histórias de HP Lovecraft, mais precisamente Sombras Perdidas No Tempo. Aquelas coisas gigantescas, descomunais, em arquiteturas de pesadelo, ciclópicas e gotejantes, de pavor e aflição cósmica, criptografias monstruosas anunciando o inevitável despertar dos Grandes Antigos. E quer saber? Foi mais divertido, bem mais, do que aqueles sonhos em que você tenta resolver coisas do período de vigília… e também não consegue.

And in confusing anger, they fall so low.

[Último trimestre de 2010.]

[14h53min] Uma noite dessas sonhei que estava em uma estação de trem, uma que eu costumava freqüentar, quando, ao amanhecer, o sistema de som anunciou que havia um maníaco atacando mulheres em outra linha. Eu ficava te esperando, você não aparecia, eu me preocupava, até que você chegava e sentava, em silêncio, ao meu lado no trem. O vagão, que estava cheio de seres obscuros e indefinidos, feito aquele bicho preto do trem que a Chihiro pega no final do filme (a parte mais intrigantemente bela), parava em uma estação, as portas abriam e assim permaneciam por tempo suficiente para que eu pudesse ver, nos trilhos, uma criança deformada, com vestidinho de menina e cabeça virada feito a Linda Blair possuída, mas com um sorriso demente, perverso, diabólico, andando enviesada pela via permanente e batendo a cabeça deliberadamente nos dormentes, repetidamente. Então ela raspava as mãos nos pedregulhos até que os dedos virassem uma pasta sanguinolenta, e assim também infinitas vezes. A porta se fechava, começava uma briga entre os seres indefinidos. Eu olhava sua bolsa, dela escorria uma meleca: era o sumo de frutos apodrecidos que você carregava. A briga então me tomava: eu era atingido em cheio por um extintor de incêndio, que fazia jorrar meu sangue ao abrir meu crânio e fazer pender meu maxilar. Antes que o pesadelo acabasse eu ainda permanecia uns instantes, desfigurado, tentando entender tudo aquilo. [14h58min]

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Fascistas de direita, fascistas de esquerda

O bom/ruim das redes sociais é que um assunto se desgasta tanto, mas TANTO, em poucos dias, com o turbilhão de programas alternativos no YouTube, blogueiros ~formadores de opinião~, escrevinhadores de notas no Facebook e guerrilheiros de Twitter é tamanha que poupa este blog (e seu saco) de muito palpite meu.

Eu ia falar da USP, depois da maconha, depois da PM, mas em dois ou três dias eu já não aguentava mais a irracionalidade dos dois lados nem a profusão de vídeos e textos com A VERDADE SOBRE ___________ (complete com a polêmica de sua preferência).

É aluno, professor, político, policial, todo mundo desesperado pra se mostrar cabeça-feita, “Ei, eu tenho uma opinião, não sou manipulado!”. E, até que a imprensa, a mesma que todos amam odiar, consiga apurar fatos (após desviar das pedras reais e virtuais) e apurar as coisas até com certo atraso (em termos de internet), porém com embasamento e FATOS (basta notar a diferença entre este e este texto em relação ao resto), fica esse rebosteio todo.

Não vou chutar cachorro morto – no caso, quem clamou por Lula no SUS, Bope no Congresso, simples remoção de mendigos e viciados pra PQP, ROTA na FFLCH. O negócio aqui são as nuances, sempre mais perigosas.

Disso, ficam alguns postulados lamentáveis:

1. A esquerda exige uma venda casada.

Você precisa necessariamente abraçar umas porras de bandeiras que sei lá quem decidiu que são obrigatórias para a obtenção do diploma esquerdista: tem que apoiar maconha, movimento estudantil, feminismo, Cuba, etc., caso contrário (não pode nem questionar, hein), você vira “direitão enrustido”.

2. O preconceito são os outros.

Não pode fala que maconheiro financia o tráfico, que feministas são intransigentes ou que o movimento estudantil é coisa de vagabundo; mas falar que PM é tudo cuzão, que os antidroga são moralistas ou que os detratores da USP têm inveja é OK.

3. A imprensa é sempre reduzida ao absurdo.

Tal como a PM, a imprensa é evocada quando ELES querem: “Durante essa ação, a moradia estudantil (CRUSP) foi sitiada com o uso de gás lacrimogêneo e um enorme aparato policial. Paralelamente, as tropas da polícia levaram a cabo a desocupação do prédio da reitoria, impedindo que a imprensa acompanhasse os momentos decisivos da operação.”.

Ué, a imprensa foi | é | será hostilizada por eles, em quaisquer manifestações. Tudo é reduzido a Globo e Veja. Então fiquem com a incrível cobertura dos próprios estudantes. E pensar que, de longe, os melhores textos foram da Carta Capital e da Época, ou seja, jornalistas.

Essa baderna, essa desunião e esse despreparo mostram porque, no fim, é sempre a Direita que acaba mandando nos destinos do país. Eles sempre estão unidos pelo bem comum (deles), o poder, enquanto o resto fica nesse macartismo de sinal trocado. A witch! A witch!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Crepúsculo dos ídolos

Parece que artistas não sabem mesmo usar a internet; nisso estão no mesmo nível dos jogadores de futebol. Talvez porque ambos sempre tenham vivido uma relação distante com os fãs (e detratores), uma coisa eles-lá-e-eu-aqui.

Enquanto no futebol os boleiros-tuiteiros falam bobagens diárias, e depois precisam apagar os posts (rezando pra que ninguém tenha dado printscreen), dar desculpas esfarrapadas ou ficar se explicando pelo resto da carreira, os artistas, de quem, geralmente, se espera um pouco mais de esclarecimento e visão, estão na mesma toada – dir-se-ia pior, já que esses deveriam estar muito mais acostumados a todas as mídias.

Pois a coisa vem degringolando com as redes sociais. Se antes o que havia era artista consagrado como o Scott Ian, do Anthrax (que devia dar graças à net por alguém ainda lembrar-se dele), reclamando dos downloads “ilegais” ou gente ingrata que fez carreira na web e agora fala mal dela, como a Lilly Allen, agora a onda é queimar o próprio filme geral, mostrar que é realmente um babaca quando não está no palco ou na tevê (tá, alguns são babacas também lá, mas você entendeu).

Temos as categorias:

palpiteiro (Marcelo Tas, Edu Falaschi, Luiz Ceará, Tico Santa Cruz): esse artista-jornalista-apresentador-whatever acha que o mundo não pode girar em paz sem seus opúsculos virtuais de sabedoria, geralmente repletos de ressentimento tolo e pouca educação; pouco importa se ele é jornalista de esportes, vai comentar até sobre o colisor de hádrons na coluna dele.

malcriado (Luana Piovani, Roger Moreira, Marcos Kleine [quem?]): esse se adaptou mal, muito mal, à era em que qualquer pessoa pode criticá-lo diretamente, ou mesmo fazer um chiste. Claro que, se o cara é ofendido com @ e tudo, tem todo o direito de se ofender e se defender. Porém esses supracitados não só reclamam e “dão carteirada” (“eu faço sucesso”, “faz melhor“, “pelo menos já cheguei lá [err, aonde]?”), como às vezes xingam mesmo a qualquer menção a ele, por um narcisista pero inseguro search com o próprio nome ativado no TweetDeck.

jurássico (90% dos artistas): esse se limita a retuitar mídias em que ele aparece, ou dizer “indo pro show” e “a estreia foi legal”. Zero de interesse geral ou interação com os fãs (ou com a realidade); não sei que parte de “social” ele não entendeu.

A impressão que se tem é que, contaminados pelos mimos de puxa-sacos, empresários/patrões desde sempre, além da pouca opção de mídia de outrora (sem net ou TV a cabo), eles estão perdendo o bonde, enquanto artistas mais espertos estão evoluindo e adaptando suas carreiras a essa realidade inevitável em que o artista precisa entender melhor sua figura pública, seus fãs e sua relevância.