sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Like a song I have to sing [III de III]

Chegamos ao fim de mais um #ListãoDoVanzão, desta vez com a lista internacional, tradicionalmente mais variada. Confira também as listas nacional e latina.


Acedia [Odraza]
Citando eu mesmo, do Twitter: "Acedia, novo EP do bizarro duo polaco Odraza, tem apenas uma música, 20min51s: post-metal, drone, bizarrices meio Abruptum, death percussivo, ambient/eletrônico, uns minutos de black metal dissonante, SILÊNCIO, dungeon synth/trilha de giallo e é isso."
Ouça: Acedia


An Evening With Silk Sonic [Silk Sonic]
Primeiro disco do projeto de Anderson Paak e Bruno Mars, com participação de Bootsy Collins, não traz nada de realmente novo – segue a linha da black music 60s-70s –, mas as composições aqui são TÃO boas que o disco se torna imperdível e imprescindível na lista. Ouça já.
Ouça: Put On A Smile



Afrique Victime [Mdou Moctar]
Psicodelia, afrobeat, post-rock, fusion, vocais entre o pop e o folclórico, timbres retrô e guitarras tuaregues. Esta é a proposta de Mahamadou Souleymane, o nigerense de nome artístico Mdou Moctar. Disco pra terminar e começar o ano em altíssimo astral.
Ouça: Afrique Victime




Ετερόφωτος [Spectral Lore]
Do Twitter, minhas impressões: "Deathspell Omega grego de esquerda? Não que o som pareça, mas é tão massivo quanto [ainda que menos dissonante] e o jeito como as melodias progridem, além das complicadas letras filosóficas, requer bastante atenção. Discaço."
Ouça: Atrapos





Infinite Granite [Deafheaven]
Deafheaven é das favoritas da casa – não à toa, desde que existe o #ListãoDoVanzão, eles compareceram os dois discos lançados no período [New Bermuda (2015) e Ordinary Corrupt Human Love (2018)]. E não poderiam faltar neste ano: mais um disco belíssimo, em que o abandono das estruturas do [post-]black metal acontece em favor de melodias mais melancólicas, menos desesperadas, em um pop-rock/shoegaze muito bem trabalhado. Lindo disco.
Ouça: Great Mass Of Color




Vale também mencionar a odisseia black The American Negro, de Adrian Younge, cujo único defeito é que metade das faixas são apenas faladas, e o classudo piano neoclássico de Chad Lawson [que começou tocando com Julio Iglesias!], no EP Comfort.



 

Tenham todos um grande 2022 com muita música legal. Até mais!
 

domingo, 26 de dezembro de 2021

Like a song I have to sing [II de III]



Depois da lista brasileira, vamos ao rol latino de discos que mais curti em 2021.


Como Es [Dorotheo]
Em seu terceiro lançamento de inéditas [em dez anos], este duo de Guadalajara pratica um som psicodélico [em grande parte instrumental] que te circunda sem pressa, em tons de post-rock que resvalam em lisergia nordestina setentista, sem perder o Pink Floyd ’71 de vista. Conecte-se e vá.
Ouça: Caetanave



El Eco De La Nada [Reyno]
Me fui por un camino solo y desierto | Pensaba que era necesario, pero entendí | Que no hay por qué sufrir.” As baladinhas retrô e as letras melancólicas continuam lá, mas este disco de despedida do duo mexicano traz uma tranquilidade, uma paz de quem sabe que o relacionamento foi bom e rendeu bem, mas que é hora de cada um seguir seu caminho – e, de fato, os trabalhos solo de Cristian Jean e Pablo Cantú estão ótimos. Obrigado, Reyno.
Ouça: Abismo



Okay! [Ev]
Y en la ventana la misma vista y todo está bien.” De Medellín, temos Ev, nome artístico de Evelyn Delgado, DJ, produtora e guitarrista de 28 anos, com seu segundo lançamento, um EP do chamado ‘bedroom pop’, com climas pop tranquilos e influência declarada de Elsa y Elmar e Natalia Lafourcade [também vejo um Yorka aqui]. Melhor disco pro recesso.
Ouça: Bien



Recopilatorio [Martina Lluvias]
Após dois EPs na década passada, de tons mais folk, a chilena Martina traz seus pop rock tristonho em formato elétrico, e funciona demais: as guitarras indie/shoegaze são variadas, cheias de sentimento e personalidade, e a cozinha segura a onda, deixando tudo redondo. Uma belíssima surpresa.
Ouça: Cuántas Veces


Sonidos De Karmática Resonancia [Zoé]
Os mexicanos do Zoé são a maior banda da América Latina em muito tempo. E este disco está no nível dos clássicos Reptileletric [2008] e Programáton [2013]
Tem synthpop, baladas típicas do MexPop [inventei agora o termo], os indiezinhos da banda mesmo, com os refrãos personalíssimos de León Larregui; mas o que pega aqui, mais do que em outros discos, são as tintas psicodélicas. Deu num pop rock ao mesmo tempo acessível e sofisticado. Disco do ano, sem qualquer dúvida.
Ouça: Esse Cuadro No Me Pinta




Merecem ser lembrados também dois argentinos: Mateo ‘El Ruso’ Sujatovich [filho do tecladista do Spinetta Jade], com seu projeto Conociendo Rusia, no qual atira pra tudo que é lado em matéria de pop argentino e acerta 100%, e a Carolina Donati, que mistura, também com muito sucesso, indie lo-fi, temas dançandinhos, pop beatle, guitarras marotas e baladas agridoces.


Até logo mais com a parte III, com os discos internacionais.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Like a song I have to sing [I de III]

Com menos tempo que em anos anteriores – por isso os textos mais curtos e menos menções honrosas –, porém, mantendo a tradição, vamos com a primeira parte [nacional] do #ListãoDoVanzão, com os discos nacionais que mais gostei de ouvir em 2022.


Abandono E Desilusão [Pessimista]
Mais um poderoso lançamento da one-man band do paulistano Jaketeme Zapelloni, post-black metal atmosférico e depressivo, com muito desespero na voz e antifascismo nas letras – com vendas doadas para caridade. Toda a angústia e revolta de viver num ex-país em ruínas.
Ouça: Abandono E Desilusão




Corisco [Bonifrate]
Em 1/12, tuitei: “Demorei pra ouvir, mas: 'Corisco', do Bonifrate, é meu disco nacional preferido do ano até agora”. Eu curtia sua ex-banda, o Supercordas, mas sua carreira solo é mais madura, consciente, com os elementos ‘vintage’ e psicodélicos mais bem dosados e mais apontados à música atual, digamos assim. E este é seu melhor trabalho: tem muita viagem, tem eletrônica, climas de post-rock, mas o todo soa orgânico e coeso.
Ouça: Lunário



Dentro Da Caixa, Fora Do Mundo [Eugênio]
Indie [90s gringo, 00s daqui], pop, psicodélico, jovem guarda, tropicália... dá pra encher um parágrafo com tudo que rola nesta estreia ‘cheia’ do quarteto sorocabano. A impressão é que o som simplesmente saiu assim, sem tentativas de mistureba. Baita disco legal.
Ouça: Bem-Vindo



Pacífica Pedra Branca [Jennifer Souza]
Jennifer, belorizontina que já colaborou com o Transmissor e atualmente também participa do Moons, traz aqui um indie pop com elegância jazzística, passagens folk-psicodélicas, e um belo clima Clube da Esquina - mas sem pastiche de timbres 70s, como tanto artista fez na última década. Tudo bem tocado e bem produzido.
Ouça: Ultraleve


Véspera [Isabel Lenza]
Brisa fresca | Pela estrada | Semblante tranquilo | Pra recomeçar.” Em seu segundo disco, a paulistana mostra seu universo bem particular: voz, arranjos, caminhos, letras, tudo é bem resolvido [e quase tudo tocado por ela], com [dream]pop, mpb, quase-rockinhos. Bela melancolia.
Ouça: Eu Sou Meu Lugar


Vale também conferir outro projeto de Jaketeme Zapelloni, Osso & Madeira, mais sombrio-depressivo e menos político - Cicatrizes E Feridas - e o sólido Meu Coco, de Caetano, espécie de cruza de Abraçaço com Livro. E até logo mais, com as seletas internacional e latina.

segunda-feira, 29 de março de 2021

Eu sou trezentos, eu sou trezentos-e-cinquenta.

Mil por dia, cem mil ao todo, dois mil por dia, duzentos mil ao todo, três mil por dia, trezentos mil ao todo. São só números, são apenas dias, um após o outro. Semanas, meses, vão passando, com tantas vidas tão ocupadas, com seus trabalhos, com suas festas, com fome, dor, dinheiro, crença. As vidas seguem, se perseguem, se ocupando de morrer. O dia nasce, o dia morre; os corpos descem, almas se esvaem. E é sempre um sol infernal de meio do dia. É sempre o fundo da noite mais escura. No fundo do abismo, outro abismo [outro abismo]; a gente morre e não dá conta de morrer tudo que tem. O luto por nós mesmos está fora de moda. Mergulhamos até o fundo em lúgubre monotonia: na grandíssima marcha pro vazio, o esquecimento, a obliteração, fila da qual já não se lembra o início e nem se pode ver o fim, nos tornamos um borrão indistinguível pra quem vê de fora, para quem povoa o mundo. Vai faltar morto pra tanta morte. Não tem terra pra isso de caixão. Nem existe esse tanto de gente no mundo. Estão errando nas contas, certeza. Esse jornal é de anteontem, eu vi. Quem vai sobrar pra contar os mortos? Aonde vamos todos quando não houver mais chão? Alguém já apagou todas as nossas luzes. Chegou a nossa hora e é sempre o momento errado, incompleto, anterior. Os horrores se sucedem, estertores: jornais enchem as capas de pontos, traços, cruzes. Cartuns com sangue e mil covas nas fotos. Vamos nos indignar com o quê?, vamos nos entristecer por quê?, por quem? A dor é dos outros. O silêncio é só nosso. Bandeiras em trapos, roídas pelo tempo: empresas, partidos, os donos de tudo – de todos os corpos, os vivos e os mortos – nos deixam à margem, à míngua dos dias, atropelados, aturdidos, em silêncio, em gemidos, triturados pela roda, na moenda do fim da história, do que restou de memória do que a gente ia ser e não foi. Falta ar no oco do peito. Como é que está aí no fundo do poço? [Não te ouço, não te ouço]. Vejo a pós-humanidade, descivilizada, moribunda, cinzenta, e ninguém, ninguém, ninguém, ninguém jamais se responsabiliza. Ante a solene imprecisão de nossas virtudes, as palavras escorrem do canto dos lábios, as lágrimas morrem no fundo dos olhos. A consolação derradeira: há quem diga saber todos os mortos, e conhecê-los muito bem. Apenas vejo todos vocês. De uma vez. Nunca mais.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

The Sound Of Perseverance [III de III]

Chegamos à terceira e última parte do Listão do Vanzão [a primeira, internacional, está aqui, e a segunda, latina, aqui]; esta seção tupiniquim da jornada não seria possível sem o auxílio luxuoso da querida Laíssa Barros, que me indicou um monte de coisa boa que saiu por aqui neste ano.


Isabela Morais [Do Absurdo]

É provável que você me conheça de diversos projetos: seja Ummagumma, The Brazilian Pink Floyd, sejam os tributos a Elis e Vinicius de Moraes, a antiga banda Marginália, ou ainda como professora de sociologia, produtora cultural, astróloga, taróloga… mas hoje estou aqui como compositora e intérprete gravando o primeiro disco depois de uns bons quase 20 anos nos bailes da vida”. Assim Isabela se apresenta, no bem-sucedido crowdfunding possibilitou este Do Absurdo. Dá pra imaginar a salada cultural que ela tem pra apresentar. E apresenta: a voz, em muitos momentos, lembra Adriana Calcanhotto, o som é um pop com tintas de psicodélico/progressivo e música brasileira, meio torto e bastante inesperado – ainda que totalmente fluido, você nem percebe o tempo passar. Ah, e as letras, que vão de Ian Ramil a Maurício Pereira, são ótimas. Pode ir sem medo.
Ouça: a faixa-título


 

 

Jadsa + João Meirelles [Taxidermia Vol. 1 (EP)]
O segundo EP de Jadsa, jovem multi-instrumentista baiana radicada em São Paulo, é parceria com João Meirelles [do Baianasystem, banda que todo mundo ama mas na qual não vejo graça], tem ecos de Metá Metá e Vanguarda Paulista, com guitarra fuzzy, cantos afro, eletrônica/loops, ritmos ora quebrados, ora sincopados, tudo indo e vindo, sem jamais deixar que os versos enigmáticos de Jadsa deixem o protagonismo. Não é um disco agradável de ouvir, no sentido estrito, de ser uma experiência leve, fácil: a atmosfera, tanto faz se semidançante ou arrastada, não te deixa muito espaço pra respirar, as quatro faixas, de duração típica de música pop, parecem se demorar muito mais no tempo, algo suspensas, trôpegas. Ouça com calma e disposição.
Ouça: Sou Gente




 Julico [Ikê Maré]
Integrante do The Baggios – banda que nunca me chamou a atenção –, Julico tem umas loshermanices, tem muita mpb lisérgica anos 70s [tem horas toda a doideira conceitual e sonora da época parece desembocar em uma só música] e mais batuques & sambas afins, o pique de sua banda de origem e um conceito lírico tão doido que nem tentei entender. Parece ruim né. Mas é bom, é muito bom, o disco nacional que mais curti ouvir em 2020. Aparentemente Julico toca todos os instrumentos, mas não tem a autoindulgência costumeira desse tipo de empreitada, parece som de banda mesmo. E se tem hora que parece com tudo, no geral não parece nada, soa muito vivo e fresco. Álbum foda, daqueles de ouvir por anos e sempre descobrir um timbre novo aqui, uma passagem diferente ali…
Ouça
: Nuvens Negras

 

 


Kaatayra [Só Quem Viu o Relâmpago À Sua Direita Sabe]

A prolífica banda candanga – quatro meses depois deste disco, lançou mais um (não tão bom), Toda História Do Mundo – vem com um black metal ambientalista, ligado à natureza e às raízes ancestrais, com letras cheias de reflexões espirituais, no que seria uma mistura de Wolves In The Throne Room/Falls Of Rauros/Panopticon e Corubo. Só isso já seria interessantíssimo, mas o Kaatayra nos reserva mais uma ótima surpresa: no meio do black metal massivo, que preenche o Universo inteiro, temos backing vocals limpos, hipnóticos, teclados bonitinhos, temos seções com violões folk e percussões indígenas, como se um ritual do Alto Xingu invadisse o estúdio. E essa bagunça toda funciona, flui otimamente nas longas faixas do álbum. Seria o Holy Land do black metal? Só sei que é bom, muito intenso, cheio de beleza invulgar e informação sonora extremamente diversa. De ficar desnorteado após a audição.
Ouça: Chama Terra, Chama Chuva



 

O Hipopótamo Alado [Meu Coração Pingando Sangue Na Varanda Do Planeta (EP)]
Agora eu estou num projeto com o Lourenço Monteiro (baterista do D2), o Humberto Barros (tecladista) e o Fabiano Calisto, que é um poeta paulista. Chama Hipopótamo Alado, são só músicas longas, eletrônicas, muito pra baixo, pra retratar os tempos de hoje”. (…)O Hipopótamo Alado é um coletivo musical formado por Leoni (vocal, violão, baixo), Lourenço Monteiro (bateria, percussão, programação e vocais), Humberto Barros (teclados, baixo e vocais) e Fabiano Calixto (voz, ruídos, metáforas)”. Bom, essas duas citações dão o tom do que temos aqui: o jeito de compor é Leoni puro, mas acrescido de forte poesia nas letras e arranjos menos pop e mais, digamos, de vanguarda: na mesma música tem bateria e percussão eletrônica, violões, loops, backing vocals sombrios, pianinhos de dar taquicardia e barulhos incômodos quase ao ponto da irritação. Ou seja, é total Leoni e nada Leoni. Entendeu? Nem eu, mas é isso aí. Baita EP, é legal demais ver um artista pop ‘velho’ e consagrado se arriscando tanto, totalmente fora de qualquer zona de conforto em que ele já esteve na carreira. Só por isso merecia estar na lista, mas o disquinho é tão bom que o único defeito e acabar rápido demais. Imperdível.
Ouça: Na Esquina Mais Escura Do Mundo



 

Merecem lembrança também o ótimo disco do Marcelo D2, com uma seleção do rap nacional de convidados e seu melhor disco desd’A Arte Do Barulho [2008], a ambient music à Brian Eno de Felipe Ayres, do ruído/mm, e o pop tristinho à Hello Seahorse! do Carne Doce.



Que 2021 seja cheio das doideiras musicais. Até lá!



terça-feira, 15 de dezembro de 2020

The Sound Of Perseverance [II de III]

Depois da primeira parte, com os discos internacionais, vamos à versão latina do Listão do Vanzão 2020.


Abel Ibáñez G [De Vuelta En Casa (EP)]
O mexicano Abel Ibañez G. [ex-Goodnight Japan], vem com um EP composto e gravado durante uma estadia de quatro anos na Austrália. Não temos nada de revolucionário aqui, ‘apenas’ boa voz, bons timbres e belas melodias, com aquela pegada bem característica do pop rock mexicano atual [às vezes o vocal lembra Zoé, o que é sempre salutar], além de letras sobre chegadas e partidas, encontros e despedidas. Tudo bem ¿pop-rock lo-fi melódico? Belíssimo EP.




Cristóbal Briceño [En Mi Rincón]
O prolífico chileno Cristóbal – líder de importantes bandas locais, como Fother Muckers, Ases Falsos e Las Chaquetas Amarillas y Los Castigos, também tem carreira solos de grande qualidade, e neste álbum não é diferente: voz & violão, tudo caseiro, composto e gravado em mais ou menos um mês, durante o começo da pandemia, algo que seria pura autoindulgência no caso de um artista com menos talento. Felizmente, não é o caso: mesmo quando os temas são de incerteza e pesar, a música é simples e leve como a vida precisa ser no momento.
Ouça: Y Cuando Muera




Elsa Y Elmar [Cuatro Veces 10]

Conheci Elsa Y Elmar – nome do projeto musical da colombiana Elsa Carvajal – participando de um [ótimo] disco dos venezuelanos [radicados no México] Los Mesoneros; mas, diferentemente do indie pop daqueles, aqui temos o que ela chama de ‘spiritual pop’: um som delicado, etéreo, ao mesmo tempo redondinho e inesperado. Tudo flui com beleza e leveza, e quase dá pra dançar as suaves canções. No geral é bem ‘radiofônico’, com timbres bem moderninhos, se você não prestar atenção nas texturas. Pois, preste.
Ouça: Fuerte Para Volar



Enjambre [Próximos Prójimos]
Esta banda mexicana sempre teve muita qualidade, porém, se inspirava mais do que o necessário em The Strokes e afins no começo da carreira. Por isso é gratificante ver o quanto os caras vêm crescendo artisticamente, fazendo um pop rock com cada vez mais personalidade – forte, melódico, emotivo. Cheio de músicas sobre o período em que vivemos: fraqueza x força, morte x memória, distância x afeto. Se há obras para desanuviar e melhorar o tempo, este Próximos Prójimos é como uma forte chuva que chega a machucar, mas deixa o tempo limpo depois. Disco do ano.
Ouça: El Derrumbe





TIMØ [Algo Diferente (EP)]

Os colombianos do TIMØ vêm com seu 'tropipop', meio eletrônico, meio acústico, meio pop, meio folk, um som bem latino, porém, sem clichês - a mesma música pode misturar reggaeton e violões ensolarados – que dá pra dançar ou curtir relaxado numa poltrona, o efeito revitalizante é o mesmo. Num ano como este, são absolutamente necessários.
Ouça: Pase Lo Que Pase




Merecem destaque o sempre ótimo pop melancólico do mexicano Hello Seahorse! e duas bandas chilenas: o rockinho agridoce do Los Castigos e o indie-metal? de responsa do Adelaida.



Por hoje é só, pessoal. Daqui a pouco sai a terceira e última etapa [nacional].


domingo, 13 de dezembro de 2020

The Sound Of Perseverance [I de III]

Vamos à primeira parte [internacional] do tradicionalíssimo Listão do Vanzão com os discos que mais curti ouvir em 2020.


Hail Spirit Noir, Eden In Reverse

Este ex-power-trio [hoje um sexteto] grego já passou por aqui com Mayhem In Blue [2016], 'apenas' um black metal psicodélico com ecos e timbres de thrash/punk, dando em uma ótima desgraceira. Porém, neste disco, parece outra banda [por mais clichê que isso seja]: tá certo que eles já demonstravam certo desprezo por rótulos musicais, mas este Eden In Reverse me deixou boquiaberto. É progressivo, psicodélico, labiríntico, cheios de timbres vintage de teclado [saídos de algum porão do krautrock], vocais quase gregorianos contrastando com o peso e a tensão cósmica do som – ainda que não haja nada de black metal aqui. Falei de krautrock ali? Bom, é o tipo de som estranho que parece ter ecos aqui. As músicas se desenvolvem sem pressa ou indicação de aonde vão te levar. Temos aqui o mesmo espírito ‘metal adulto’ de Ihsahn e Enslaved, mas os conceitos são totalmente diferentes – e, desta vez, melhores. Disco do ano, fácil.
Ouça
: o disco inteiro




Ihsahn, Pharos [EP]

Como eu já disse na resenha de Arktis [2016], “Ihsahn, nascido Vegard Sverre Tveitan, é um gênio. Não contente em, recém-saído da adolescência, revolucionar a música extrema, levando-a a outro patamar de sofisticação com o Emperor [e ainda vender milhões de discos], ele mantém uma carreira solo incrivelmente consistente e inventiva”, misturando black metal com progressivo, eletrônico, jazz e até pop. Pop, aliás, é o que mais tem neste novo EP, aparentemente feito para irritar os metaleiros mais toscos: ao lado de três singles bastante acessíveis [mas não menos trabalhados que o resto de sua obra], duas surpreendentes covers – Portishead [Roads] e A-Ha [Manhattan Skyline, com participação de Einar Solberg, do Leprous, nos vocais]. Após se desprender das amarras do metal extremo, e do próprio metal, agora nem mesmo o rock limita os horizontes de Ihsahn.

Ouça: Losing Altitude



Iress, Flaw

Eu não conhecia o Iress, esta banda de Los Angeles com quase 25 anos de carreira; tampouco lembro como esbarrei neles por essas esquinas da internet. Mas foi uma grata surpresa: aparentemente o grupo é definido como ‘doomgaze’ – ignorava a existência do rótulo até então, mas olha, faz sentido. É pesadão, tem horas que quase esbarra no sludge e/ou no metal moderno americano, mas tem climas bem bonitos de vocais femininos que ora lembram Kylesa, ora The Gathering. O resultado é ao mesmo tempo agradável e intenso. Taí uma banda que certamente aparecerá novamente por aqui em listas futuras.

Ouça: Underneath



Kły, Wyrzyny

Não é minha lista de discos internacionais preferidos do ano, de qualquer ano, se não tiver um black metal polonês bem esquisito e doentio. Pois ei-lo: vocais psicóticos [com eventuais declamações com voz limpa], guitarras melancólicas, som cru mas tudo bem audível [as linhas de baixo são bem interessantes, aliás] e um persistente sentimento de isolamento e fragilidade. É bem menos brutal do que os polacos que costumam dar as caras por aqui, pois há momentos bonitos e doídos durante todo o disco. Pra quem acha que black metal mais cru se resume, ou precisa se resumir, a barulheira desenfreada, taí o Kły. Ah, e Pode agradar fãs de Lifelover e/ou Bethlehem, em matéria de vocais angustiados e passagens de instrumental mais esparso.

Ouça: Gwiezdny Wiatr



Ulver, Flowers Of Evil

Já começa com a capa mais bonita do ano: a sofrida Maria Falconetti em La Passion De Jeanne D'Arc [1928], de Carl Theodor Dreyer. Aprofundando a linha iniciada em The Assassination Of Julius Caesar, de 2017, estes noruegueses, que já foram black metal melódico, black metal esporrento, acústico, psicodélico, eletrônico minimalista, eletrônico mais dark, indie... entregam mais um trabalho excelente, ao mesmo tempo profundo e pop, melancólico e dançante, simples e misterioso.

Ouça: Little Boy



Menções honrosas para retorno do trio japonês [dois teclados e uma bateria] Mouse On The Keys ao som mais intenso e menos relaxado do que no álbum anterior; a sempre inclassificável avant-garde one-man band húngara Thy Catafalque e o ex-thrash e atual black metal atmosférico cheio de guitarras tristes e sopros entremeando os vocais impiedosos dos holandeses do Dystopia.






Logo mais tem a segunda [latina] e a terceira [nacional] partes da lista, fiquem ligadinhos.