Vamos à primeira parte [internacional] do tradicionalíssimo Listão do Vanzão com os discos que mais curti ouvir em 2020.
Hail Spirit Noir, Eden In Reverse
Este ex-power-trio [hoje um sexteto] grego já passou por aqui com Mayhem In Blue [2016], 'apenas' um black metal psicodélico com ecos e timbres de thrash/punk, dando em uma ótima desgraceira. Porém, neste disco, parece outra banda [por mais clichê que isso seja]: tá certo que eles já demonstravam certo desprezo por rótulos musicais, mas este Eden In Reverse me deixou boquiaberto. É progressivo, psicodélico, labiríntico, cheios de timbres vintage de teclado [saídos de algum porão do krautrock], vocais quase gregorianos contrastando com o peso e a tensão cósmica do som – ainda que não haja nada de black metal aqui. Falei de krautrock ali? Bom, é o tipo de som estranho que parece ter ecos aqui. As músicas se desenvolvem sem pressa ou indicação de aonde vão te levar. Temos aqui o mesmo espírito ‘metal adulto’ de Ihsahn e Enslaved, mas os conceitos são totalmente diferentes – e, desta vez, melhores. Disco do ano, fácil.
Ouça: o disco inteiro
Ihsahn, Pharos [EP]
Como eu já disse na resenha de Arktis [2016], “Ihsahn, nascido Vegard Sverre Tveitan, é um gênio. Não contente em, recém-saído da adolescência, revolucionar a música extrema, levando-a a outro patamar de sofisticação com o Emperor [e ainda vender milhões de discos], ele mantém uma carreira solo incrivelmente consistente e inventiva”, misturando black metal com progressivo, eletrônico, jazz e até pop. Pop, aliás, é o que mais tem neste novo EP, aparentemente feito para irritar os metaleiros mais toscos: ao lado de três singles bastante acessíveis [mas não menos trabalhados que o resto de sua obra], duas surpreendentes covers – Portishead [Roads] e A-Ha [Manhattan Skyline, com participação de Einar Solberg, do Leprous, nos vocais]. Após se desprender das amarras do metal extremo, e do próprio metal, agora nem mesmo o rock limita os horizontes de Ihsahn.
Ouça: Losing Altitude
Iress, Flaw
Eu não conhecia o Iress, esta banda de Los Angeles com quase 25 anos de carreira; tampouco lembro como esbarrei neles por essas esquinas da internet. Mas foi uma grata surpresa: aparentemente o grupo é definido como ‘doomgaze’ – ignorava a existência do rótulo até então, mas olha, faz sentido. É pesadão, tem horas que quase esbarra no sludge e/ou no metal moderno americano, mas tem climas bem bonitos de vocais femininos que ora lembram Kylesa, ora The Gathering. O resultado é ao mesmo tempo agradável e intenso. Taí uma banda que certamente aparecerá novamente por aqui em listas futuras.
Ouça: Underneath
Kły, Wyrzyny
Não
é minha lista de discos internacionais preferidos do ano, de qualquer
ano, se não tiver um black metal polonês bem esquisito e doentio. Pois
ei-lo: vocais psicóticos [com eventuais declamações com voz limpa],
guitarras melancólicas, som cru mas tudo bem audível [as linhas de baixo
são bem interessantes, aliás] e um persistente sentimento de isolamento
e fragilidade. É bem menos brutal do que os polacos que costumam dar as
caras por aqui, pois há momentos bonitos e doídos durante todo o disco.
Pra quem acha que black metal mais cru se resume, ou precisa se
resumir, a barulheira desenfreada, taí o Kły. Ah, e Pode agradar fãs de
Lifelover e/ou Bethlehem, em matéria de vocais angustiados e passagens
de instrumental mais esparso.
Ouça: Gwiezdny Wiatr
Ulver, Flowers Of Evil
Já começa com a capa mais bonita do ano: a sofrida Maria Falconetti em La Passion De Jeanne D'Arc [1928], de Carl Theodor Dreyer. Aprofundando a linha iniciada em The Assassination Of Julius Caesar, de 2017, estes noruegueses, que já foram black metal melódico, black metal esporrento, acústico, psicodélico, eletrônico minimalista, eletrônico mais dark, indie... entregam mais um trabalho excelente, ao mesmo tempo profundo e pop, melancólico e dançante, simples e misterioso.
Ouça: Little Boy
Menções honrosas para retorno do trio japonês [dois teclados e uma bateria] Mouse On The Keys ao som mais intenso e menos relaxado do que no álbum anterior; a sempre inclassificável avant-garde one-man band húngara Thy Catafalque e o ex-thrash e atual black metal atmosférico cheio de guitarras tristes e sopros entremeando os vocais impiedosos dos holandeses do Dystopia.
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