quarta-feira, 23 de maio de 2007

Tempo tempo tempo tempo

"Se elas [as viagens no tempo] existissem, os cientistas do futuro já as teriam descoberto e nossa época estaria cheia de turistas do tempo." (Stephen Hawking)

Pela Teoria da Relatividade, o tempo é uma dimensão – na verdade um conjugado espaço-tempo, o qual a gravidade deforma em escalas enormes de energia.

Quando nos movemos, deformamos esse espaço-tempo com nossa massa, interagindo com a gravidade. Por exemplo: os planetas são mantidos em suas órbitas devido à força gravitacional, entendida como encurvamento do espaço-tempo produzido pela enorme massa do Sol.

Segundo Einstein, uma certa quantidade de massa, como a de uma estrela, pode curvar até um raio de luz que passe por perto. Como a velocidade da luz não pode mudar, é o tempo que se adapta às curvaturas da paisagem.

Quanto maior a velocidade, maior a deformação do espaço-tempo, como uma bola de boliche rolando sobre um colchão macio. Digamos que, nesse âmbito, a curva é a menor distância entre dos pontos, como um atalho.

Deformando a quarta dimensão, o tempo passará mais devagar para nós do que para o resto do Universo: um astronauta num foguete numa velocidade próxima à da luz voltará da viagem mais jovem do que os que ficaram na Terra. Tudo porque ele pegou esse atalho cósmico, atingindo mais espaço em menos tempo.

Não existe velocidade maior que a da luz. Por isso, se conseguíssemos atingi-la (o que geraria um campo de energia suficiente para criar um buraco negro), o tempo simplesmente pararia para nós: atingiríamos uma singularidade temporal.

Ainda que uma viagem no tempo só seja possível com velocidades próximas à da luz (o que, pela equação E = mc², demanda uma quantidade monstruosa de energia), o que, pelo menos atualmente, inviabiliza tal empreitada, o fato é que ela é teoricamente possível. Ou seja, se conseguirmos viajar ao futuro, ele estará lá nos esperando. Caso não possamos ainda, ele continuará lá, do mesmo jeito.

Veja só a problemática: o futuro é um lugar que já está lá, assim como o passado ainda persiste. Imagine o termpo não como um fluxo, mas como algo estático. Lembra daquele negócio de que o movimento de um corpo depende do referencial? Pois então, é isso. Assim como os espaços existem o tempo todo, assim também são os instantes. Para um observador fora do Universo (um deus, digamos assim) o tempo seria como um rolo de filme estático, cena a cena, o qual ele pudesse ver inteiro.

E como fica o livre-arbítrio nessa história?

Esqueça filmes como De Volta Para O Futuro e concentre-se no tema. Pela teoria einsteniana, só podemos viajar para o futuro, uma vez que a Teoria da Relatividade, por si só, não dá margem a enigmas dessa ordem, pois em termos clássicos ninguém pode ser transportado ao passado. Não importa se um astronauta passeia em alta velocidade ou visita objetos densos: na volta, ele estará mais jovem, comparado às pessoas que ficaram em casa. Portanto pode-se falar que o viajante retornou ao futuro dos seus familiares. Mas não faz sentido dizer que o reencontro se deu no passado do astronauta, já que, para ele, o tempo também passou no sentido único tradicional, sempre rumo ao futuro.

Com os hipotéticos buracos-de-minhoca poderíamos viajar também para o passado, ou mesmo ir ao futuro e voltar antes da partida, além de outras maluquices. Mas como é apenas um devaneio dos cientistas, pois nunca foi observado nada parecido com um desses túneis, vamos manter o foco nas viagens para o futuro.

Só cabe aqui um adendo, que talvez possa até se desdobrar numa futura postagem: viagens ao passado têm outro problema que não o do livre-arbítrio – os paradoxos (que também trataremos a seguir, nas viagens futurísticas). Você pode viajar ao passado e matar o próprio avô antes que você nasça (o famoso “paradoxo do vovô”)?

Visto que o tempo não é uma sucessão de eventos, mas uma única explosão harmônica, tudo já aconteceu (e acontece continuamente); logo não há livre-arbítrio, uma vez que seu eu de amanhã já está fazendo o que você ainda acha que nem decidiu (e pelo jeito, nem vai decidir mesmo). Seremos meros peões do joguinho cósmico?

A saída para isso é tão ou mais inusitada: segundo os preceitos da mecânica quântica, como o Princípio da Incerteza e o Gato de Schrödinger, uma partícula (subatômica) pode estar em qualquer lugar até que se tente observá-la, pois qualquer instrumento de medida que usarmos acabará interagindo com ela.

Por exemplo: incidimos sobre um elétron algum tipo de radiação. Neste caso, quanto menor for o comprimento de onda (maior freqüência) maior a precisão. Contudo maior será a energia cedida pela radiação (onda ou fóton, tanto faz) em virtude da Constante de Planck (relação entre energia e freqüência da radiação) e o elétron sofrerá um recuo tanto maior quanto maior for essa energia, em virtude do Efeito Compton. Como conseqüência, a velocidade sofrerá uma alteração não de todo previsível.

Isso foi meio complicado, eu sei. Mas continuemos. O importante é que esse conceito pode ser usado como mote para uma alternativa à predestinação cósmica: universos infinitos que já existem. O multiverso.

Imagine que, assim como uma partícula subatômica, exista a probabilidade de você tomar qualquer decisão. Uma vez que a decisão é tomada, sua posição se revela e você segue o rumo normalmente. Há infinitos universos paralelos para cada decisão que você toma ou poderia tomar. Enquanto neste universo você está lendo este blog, outros vocês nas realidades paralelas estão fazendo outras coisas quaisquer, como tomar banho ou dormir.

Assim nós pularíamos de universo em universo, sabe-se lá como, a cada decisão; e as escolhas não feitas continuariam existindo nas dimensões alternativas.

E então, o que é mais bizarro: imaginar que não temos livre-arbítrio ou que possuímos infinitos clones em infindáveis universos paralelos, um para cada escolha possível em cada momento? Dá pra imaginar a quantidade de universos para todas as decisões de todas as pessoas que já viveram, vivem e viverão no mundo? Será que existem universos alternativos para os outros animais? Ou é mais terrível imaginar que tanto faz o que você fizar agora ou depois, visto que já está tudo predeterminado e seu eu de amanhã já está sentindo os efeitos das decisões que você irá tomar (na verdade, já tomou) e nem sabe?

São situações-limite para a mente humana, pelo menos por ora. Como pensar num universo infinito (como é algo sem fim?) ou finito (o que tem depois do fim dele?); ou imaginar a matéria por si só (ou Deus) com atributos eternos ou algo antes da singularidade/criação.

De qualquer forma, é fato que seu eu de amanhã, seja ele um só ou uma multidão, já está sentindo os efeitos do que você faz hoje, incluindo uma eventual tomada de consciência após ler este texto. E se você fizer inúmeras viagens no tempo, seja ao passado ou ao futuro, encontrará um de você para cada instante.

Agora o que pode acontecer quando duas da mesma pessoa se encontram (seja no passado ou no futuro, confirmando-os ou alterando-os,) já é assunto para outro post, quem sabe um dia. Quem sabe a dificuldade para a realização das viagens não seja um “seguro contra paradoxos” do Universo?

Este assunto vai longe, muito longe. E você, o que me diz?

2 comentários:

Carolina Molina disse...

Eu digo... ai caramba, como eu sou burra, não entendi nada.

E vc tá vendo muito Donnie Darko..

Vou ler isso mais uma cinco vezes e depois comento.

Anônimo disse...

E eu preciso de, no mínimo, mais umas 8 leituras :/