Afundando São Paulo
Tucanos afundam São Paulo. Em 8 anos, SP tem 941 mil grávidas na adolescência. Dieese: São Paulo deveria empregar mais. Renda na Grande SP cresce abaixo da média do Brasil. Assembléia aprova criação da disciplina "Deus na escola" em São Paulo.
Afundando mesmo
Erro no metrô causa desencontro de túneis. Metrô de São Paulo: buracos de túneis não se encontram. Metrô agora vê falha primária em desencontro de túneis. Desvio em túneis de Metrô pode ser de 1,4 metro. "Dados de Serra são tão precisos quanto túneis do Metrô". Serra omite informação sobre crime.
Afundando o Brasil e se afundando
De onde vem o $ do valerioduto? Os documentos do mensalão mineiro. Verba do Bemge foi para valerioduto, diz PF. Ação vai cobrar dinheiro desviado de estatais pelo mensalão mineiro. A caixa de Pandora de Marcos Valério. As diferenças entre mensalões. Marcos Valério, o operador de aluguel. Editora Abril é citada como suspeita no relatório da Polícia Federal sobre Mensalão do PSDB Mineiro. Azeredo afirma que ajudou na campanha de FHC em 98. Mensalão ou caixa 2; os gráficos ignorados pela investigação. A armadilha do PSDB.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
The Manchurian Candidate
Demo_cracia é isto mesmo. Pluripartidarismo, etc. e tal. Até a imprensa pode montar seu próprio partido partido político, tomando partido desavergonhadamente, sem medo nem vergonha de ser feliz. Tem os secretários da antipropaganda, que tratam de "esconder o que é ruim e faturar o que é pior". Tem o presidente-de-desonra, que não foi apelidado de Farol de Alexandria à toa, pois adora dar palpite sobre tudo (e reclamam do Caetano Veloso), com direito a coluna períodicas e entrevistas domingo-sim-domingo-também nos dois maiores jornais do país.
Rape me
Brasil Legal
"O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer.
O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Dizem que há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer.
O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Dizem que há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer."
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer.
O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Dizem que há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer.
O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Dizem que há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer."
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Caetano Veloso em sessenta canções
É Proibido Proibir (versão de estúdio e versão do festival de 1968): cansado da patrulha ideológica da esquerda, mais do que da repressão da direita, Caetano aproveita para sabotar o 3° Festival Internacional da Canção (FIC), da TV Globo, no Teatro da PUC num discurso furioso e antológico.
Vida Boa (do disco Prenda Minha, de 1999; cover de Armandinho e Fausto Nilo): o que originalmente era um frevo eletrificado tornou-se um samba-frevo-gafieira carnavalesco que levanta até defunto.
A Voz Do Morto (ao vivo com Os Mutantes num compacto de 1967): canção inédita só lançada nesse compacto ao vivo. “Eles querem guardar as glórias nacionais... coitados!”
Acrilírico (Caetano Veloso, 1969): incursão pelo experimentalismo de colagens à la Revolution #9 (Beatles) e uma letra inspirada no concretismo. Originalmente a letra diria “Santo Amargo da Putrificação”, mas Caê temeu que sua mãe, Dona Cano (que, aliás, fez 100 anos semana passada), toda católica, ficasse chateada. Ah, e entre os ruídos da canção, tem participação de Gilberto Gil e até uma flatulência do maestro Rogério Duprat.
Alegria, Alegria (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção do Caetano Veloso, de 1967): além da canção que inaugurou a linguagem pop (de colagens do cotidiano, fragmentadas – o título era um bordão de Wilson Simonal) no Brasil, essa versão do último show de Caê e Gil antes do exílio faz parte de um medley com o hino do Esporte Clube Bahia (que era comumente tocado em trios elétricos e, dizem, cantado até por torcedores do Vitória, por causa de seu forte refrão) e a inédita Aquele Abraço; como era proibida qualquer menção à prisão ou ao exílio, restava o recado poético.
Araçá Azul (Araçá Azul, 1974): canção que encerra o disco homônimo, é uma das mais climáticas e menos experimentais; o araçá (goiaba) azul vem de um sonho que Caetano teve, no qual Bethânia estava trepada em uma árvore, devorando esse estranho fruto. Quanto a letra, o ateu Caetano diz que “com fé em Deus, não vai morrer tão cedo”. Ironia ou apenas lirismo impessoal?
Atrás Do Trio Elétrico (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção de Caetano Veloso, do mesmo ano): a música que fez os trios elétricos ficarem famosos no Brasil inteiro; homenagem de Caê ao talento pioneiro de Armandinho, Dodô e Osmar, com a pegada roqueira de um jovem Pepeu Gomes (com 14 anos) na guitarra.
Cajuína (Cinema Transcendental, 1979): quando o poeta piauiense e tropicalista Torquato Neto cometeu suicídio, em 1972, Caetano foi a Teresina e, de um encontro com o pai do falecido, regado a suco de caju, saiu essa conversa filosófica (um forró/xaxado existencialista?) e uma rosa de presente.
Cambalache (Caetano Veloso, 1969 – canção de E. S. Discépolo): Caetano encara qualquer ritmo em qualquer língua, inclusive esse tango de letra mais-que-ácida.
Canto Do Povo De Um Lugar (Jóia, 1975): talvez a canção mais convencional (tirando a cover beatle) deste disco que é tão experimental nas letras (seguindo a estética de Oswald de Andrade – cubofuturismo, poema-pílula, pema-piada – inclusive com um poema seu musicado no fim do disco) quanto Araçá Azul é na sonoridade (Jóia já é basicamente voz & violão).
Chuvas De Verão (Caetano Veloso, 1969 – canção de Fernando Lobo): tristíssima canção do irmão de Edu Lobo, bem ao estilo dos velhos sambas despedaça-coração. Caetano canta-a com verdadeira dor na voz.
Cinema Olympia (Barra 69 Ao Vivo): versão ao vivo da canção (gravada por Gal Costa) sobre um antigo cinema de Belém do Pará (hoje extinto).
Cobra-Coral (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Noites Do Norte, de 2000): parceria com Wally Salomão (obrigado ao Daniel pela correção), esta bela canção é cantada ao vivo com Lulu Santos, no dia do aniversário de Caetano. Seria a formosa e colorida serpente da canção uma mulher insinuante?
Ela Ela (Circuladô, 1991): estranha vinheta com guitarras nada melódicas fazendo ruído e uma letra com referências a lesbianismo.
Ele Me Deu Um Beijo Na Boca (Cores, Nomes, 1982): conversa filosófica de Caê eu seu pai, incluindo religião, existencialismo e citações do enigmático poeta maranhense Sousândrade.
Épico (Araçá Azul, de 1974): dá-lhe experimentalismo... início climático como uma trilha sonora, até que Caetano entra cantando, entre sons ambientes de pessoas e carros, cantando como uma velha lavadeira nordestina, fala de Hermeto (Pascoal) e (Walter) Smetak (músicos vanguardistas)... e Muzak (música ambiente para elevadores), segue com colagens sonoras e poéticas, falando sobre a vida conturbada e poluída em São Paulo, complicada especialmente como um nordestino – seria o épico de cada retirante no Brasil, por isso os sons ambientes e a trilha cinematográfica imponente – até arrematar com os geniais versos “Destino eu faço não peço / Tenho direito ao avesso / Botei todos os fracassos / Nas paradas de sucessos”. E tudo é engolido por uma barulheira claustrofóbica à la A Day In The Life, dos Beatles).
Eu E Ela Estávamos Ali Encostados Na Parede (Doces Bárbaros, 1967 – parceria com Gil): “E sem perceber a chegada da paz, nós dois estávamos alojados dentro dela.”
Eu Quero Essa Mulher (Araçá Azul, 1973 – canção de Monsueto Menezes, Lanny, e José Batista): pesada e estridente, talvez a mais barulhenta que Caetano já gravou.
Eu Sou Neguinha (Caetano, 1987): enigmática canção com toques de reggae; seria uma descrição das mil faces e possibilidades não só de Caê, mas de todas as pessoas?
For No One (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Lennon & McCartney): neste disco, lançado simultaneamente com Jóia (era pra ser duplo, mas a gravadora não deixou), também calcado uma sonoridade acústica, porém recheada de covers, traz esta canção de onde Caê tirou parte da melodia de Superbacana. Repare na letra, a melhor que Sir McCartney já fez.
Fora Da Ordem (Circuladô, 1991): auto-explicativa... “Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”. Pessoas incompletas num país incompleto.
Haiti (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Tropicália 2, de 1992): com toques de rap, esta pesada canção deve ser o mais certeiro relato sobre a degradação da nossa sociedade, desde sempre até hoje. Não deixe de notar a construção cinematográfica das imagens “do alto da Fundação Casa de Jorge Amado”.
Help! (Jóia, 1975 – canção de Lennon & McCartney): a delicada e melancólica versão nos faz atentar para a triste letra de Lennon. Só não sei porque justamente essa canção no concretista Jóia.
If You Hold A Stone (Transa, 1972): quando em 1969 Caetano adaptou a canção de domínio público Marinheiro Só, nem devia imaginar que a citaria novamente aqui, com mais propriedade (“Não sou daqui, eu não tenho amor, eu sou da Bahia de São Salvador”) enquanto exilado do outro lado do Atlântico.
In The Hot Sun Of A Christmas Day (Caetano Veloso, 1971): assim como em London London, a beleza de Londres – que ele consegue ver, mas não sentir – deixa-o ainda mais triste e só.
Irene (Caetano Veloso, 1969) com um clima de “ao vivo no estúdio” (com direito a falsos começos e brincadeiras de Gil) e um palíndromo ocasional (“Irene ri” – que Caetano só percebeu quando alertado pelos irmãos concretistas de Campos), Caê homenageou uma de suas irmãs nesta canção.
It’s A Long Way (Transa, 1972): seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
La Flor De La Canela (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Chabuca Granda): talvez a única canção peruana conhecida no Brasil além de El Condor Pása (famosa na versão de Simon & Garfunkel).
Lady Madonna (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Lennon & McCartney): mais uma cover do Fab Four, personalíssima como sempre.
Língua (Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Velô, de 1984): o primeiro samba-rap brasileiro (quem é Marcelo D2?), com letra absolutamente genial e inventiva e, graças a Zeus, sem a irritante presença de Elza Soares, que canta o refrão na versão de estúdio. Ah, e sim, “Hollywood” quer dizer “Azevedo” mesmo... e a "Holanda" do Chico Buarque está com um “L” só porque é menção à peça buarquiana Calabar, na qual o protagonista (personagem real da nossa História) “trai a pátria” e luta do lado dos holandeses no Nordeste.
London London (Caetano Veloso, 1971): Caetano deprimido e só no exílio londrino, triste porém com esperança no futuro... e a mais bela aliteração em língua inglesa já feita (“Green grass blue eyes grey sky God bless silent pain and hapiness”).
Lua Lua Lua Lua (Jóia, 1975): delicada e singela ode ao nosso satélite – tema caro a poetas de todas as gerações.
Marcianita (ao vivo com Os Mutantes num compacto de 1967 – cover de J.I.Marcone e G.V.Aldreto): clássico trash da Jovem Guarda e regravada por meio mundo até hoje; repare na declamação nonsense que Caê no final, com direito a menção até ao famoso “caso das máscaras de chumbo”.
Maria Bethânia (Caetano Veloso, 1971): uma carta para a irmã, pedindo força e querendo notícias do Brasil.
Maria Bethânia (Caetano Veloso E Maria Bethânia Ao Vivo, de 1979 – canção de Capiba): esta o próprio Caetano explica... "Pouco antes de eu completar quatro anos de idade, nasceu nossa irmã mais nova, para quem eu escolhera o nome de Maria Bethânia, por causa de uma bela valsa do compositor pernambucano Capiba, que começava com estas linhas majestosas e, à época, indecifráveis para mim: "Maria Bethânia, tu és para mim/ a senhora do engenho", e era grande sucesso na segunda metade da década de 40, na voz potente de Nelson Gonçalves. Naturalmente todos achavam graça no fato de eu saber cantar canções de gente grande, e mais ainda na minha determinação de nomear minha irmãzinha segundo uma dessas canções. Mas ninguém se sentia com coragem de realmente pôr esse nome "tão pesado" num bebê. Como havia várias outras sugestões (iam de Cristina a Gislaine), meu pai resolveu escrever todos os nomes em pedacinhos de papel que, depois de dobrados, ele jogou na copa de meu pequeno chapéu de explorador e me deu para tirar na sorte. Saiu o da minha escolha. Meu pai então pôs um ar resignado (que era uma ordem para que todos também se resignassem) e disse: "Pronto. Agora tem que ser Maria Bethânia". E saiu para registrar a recém-nascida com esse nome. Recentemente, ouvi de minhas irmãs mais velhas uma versão que diz que meu pai escrevera Maria Bethânia em todos os papéis. Não é de todo improvável. E, de fato, na expressão resignada de meu pai era visível - ainda hoje o é, na lembrança - um intrigante toque de humor. Mas, embora me encha ele orgulho o pensamento de que meu pai possa ter trapaceado para me agradar, eu sempre preferi crer na autenticidade do sorteio: essa intervenção do acaso parece conferir mais realidade a tudo o que veio a se passar desde então, pois ela faz crescerem ao mesmo tempo as magias (que nos dão a impressão de se excluírem mutuamente) do presságio e da unicidade absolutamente gratuita de cada acontecimento."
Minhas Lágrimas (Cê, de 2006): a primeira das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne, no disco quase inteiramente dedicado a isso.
Mora Na Filosofia (Transa, 1972 – canção de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos): este clássico da música brasileira ganha aqui uma versão climática, densa, tensa e pesada.
Não Me Arrependo (do disco Cê, de 2006): a segunda das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne.
Neolithic Man (Transa, 1972): a mais convencional canção, pelo menso liricamente, deste disco, é um legítimo blues-rock em forma de vinheta.
Nicinha (Qualquer Coisa, 1975): delicada vinheta para outra irmã de Caetano.
Nine Out Of Ten (Transa, 1972): provavelmente a primeira vez em que se ouviram acordes de reggae no Brasil (na música, ele desce a Portobello Road, em Londres, ao som desse ritmo). Atualmente, de volta ao setlist, ela é acrescida de toques de rock e ska.
No Dia Em Que Eu Vim-Me Embora (Caetano Veloso, de 1967): inventiva e paródica na estrutura melódica, própria dos primórdios tropicalistas, a letra, que começa um tanto irônica, termina melancólica, num retrato da solidão e dos temores juvenis de Caetano indo do interior à capital da Bahia.
Nostalgia (Transa, 1972): assim como em It’s A Long Way, seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
O Cu Do Mundo (Circuladô, 1991): a violência urbana, especialmente o ato do linchamento – crime punido, sem julgamento, com outro crime –, como ápice da degradação humana.
O Quereres (versão ao vivo do Totalmente Demais, de 1986, para a canção do Velô, 1984): não há tema batido nem esgotado quando falamos de um gênio como Caetano; nesta impecável letra, a eterna luta entre querer e não querer alguém , poder e não poder ficar com uma pessoa... a “bruta flor do querer”.
Onde Andarás (Caetano Veloso, 1967): segunda canção tropicalista, de quando Caê foi tentar a vida no Rio de Janeiro, traz imagens de lugares como Ipanema, um clima de tristeza bossanovista no início e no final; no meio, paródia a cantores de “grande voz”como Orlando Silva.
Oração Ao Tempo (Cinema Transcendental, 1979): um ode ao tempo, da fase hippie tardia de Caetano, de volta do exílio havia já alguns anos, pós "milagre econômico" e pós fiasco do "milagre", e sabendo que a Ditadura não era uma invasão alienígena, mas uma manifestação, infelizmente, do desejo de parte da população.
Os Argonautas (Caetano Veloso, 1969): mais um gênero interpretado com propriedade por Caê – o fado, com direito a citação Pessoana e sotaque português (homenagem e paródia ao mesmo tempo, sempre) no refrão.
Outro (Cê, de 2006): a terceira das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne.
Paisagem Útil (Caetano Veloso, 1967): primeira canção tropicalista, de quando Caê foi tentar a vida no Rio de Janeiro, é uma lenta marchinha com arranjo onipresente de cordas e uma bela visão do Aterro do Flamengo, porém com a visão (própria da Tropicália) ao mesmo tempo reverente e crítica da modernização tardia do Brasil, incluindo uma paródia à voz de cantores como Orlando Silva.
Pipoca Moderna (Jóia, 1975 – canção da Banda De Pífanos De Caruaru, letra de Caetano): já gravada na versão instrumental por Gil no Expresso 2222, uns três anos antes, com a própria tosca banda de pífanos, aparece aqui em versão mais delicada e com letra (nonsense).
Shoot Me Dead (Caetano Veloso, 1971): samba-blues acústico, uma mistura que só Caetano poderia fazer dar certo.
Sugar Cane Fields Forever (Araçá Azul, de 1974): além da óbvia paródia a Strawberry Fields Forever, dos Beatles (cinco anos depois haveria outra paródia, Chuckberry Fields Forever, no disco Doces Bárbaros), tem a folclórica Dona Edith do Prato e sua voz, digamos, peculiar.
Superbacana (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção do Caetano Veloso, de 1967): além da já mencionada citação a For No One, dos Beatles, esta canção de ar lúdico e ensolarado, quase infantil, faz um retrato de uma sociedade jeca metida a modernizada, onde todos os produtos, como Supervicky e Super-Hist, tinham grandes adjetivos.
Tigresa (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Bicho, de 1977): homenagem a Sônia Braga e crítica à geração “engajada” que tanto o patrulhou e criticou nos 1960s e, na década seguinte, entregou-se à “descerebrada” discoteca, em voga na época (“Frenetic Dancin’ Days” era a danceteria, no Morro da Urca, de propriedade do jornalista-forrest-gump Nélson Motta).
Trem Das Cores (Cores, Nomes, 1982): letra das mais geniais – uma singela viagem de trem pelo interior de algum lugar retratada unicamente pelas memórias das cores. Inigualável.
Tropicália (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Caetano Veloso, de 1967): com nome de instalação do artista plástico Hélio Oiticica, é, digamos, o manifesto do movimento, com sua relação e seu confronto de tudo que o país tinha e tem de urbano e rural, moderno e atrasado, incluindo menções ao filme Viva Maria (de Louis Malle), à canção A Banda, de Chico, ao movimento dadaísta, ao subgênero musical “fossa” e ao programa O Fino da Bossa. O movimento tropicalista ao mesmo tempo parodiava e homenageava tudo isso, pois sabia-se inserido no contexto.
Tu Me Acostumbraste (Araçá Azul, de 1974 – canção de F. Dominguez): num disco tão radical que ganhou o rótulo de campeão de devoluções nas lojas e foi retirado de catálogo por 13 anos, até a canção mais “bonitinha” teria que ser anarquizada, gravada com qualidade ruim e com Caê arriscando cantar uma oitava acima na segunda parte. Mesmo assim, dilacerante de tão bela.
Um Índio (versão do Circuladô Vivo, de 1992, para a canção originalmente no Doces Bárbaros, de 1976 – na voz de Bethânia, e no Bicho, de 1977): o índio representando uma tomada de consciência do povo brasileiro para uma nova e esperançosa realidade, um “novo aeon”.
You Don’t Know Me (Transa, 1972): tal como em Nostalgia e It’s A Long Way, seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
Vida Boa (do disco Prenda Minha, de 1999; cover de Armandinho e Fausto Nilo): o que originalmente era um frevo eletrificado tornou-se um samba-frevo-gafieira carnavalesco que levanta até defunto.
A Voz Do Morto (ao vivo com Os Mutantes num compacto de 1967): canção inédita só lançada nesse compacto ao vivo. “Eles querem guardar as glórias nacionais... coitados!”
Acrilírico (Caetano Veloso, 1969): incursão pelo experimentalismo de colagens à la Revolution #9 (Beatles) e uma letra inspirada no concretismo. Originalmente a letra diria “Santo Amargo da Putrificação”, mas Caê temeu que sua mãe, Dona Cano (que, aliás, fez 100 anos semana passada), toda católica, ficasse chateada. Ah, e entre os ruídos da canção, tem participação de Gilberto Gil e até uma flatulência do maestro Rogério Duprat.
Alegria, Alegria (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção do Caetano Veloso, de 1967): além da canção que inaugurou a linguagem pop (de colagens do cotidiano, fragmentadas – o título era um bordão de Wilson Simonal) no Brasil, essa versão do último show de Caê e Gil antes do exílio faz parte de um medley com o hino do Esporte Clube Bahia (que era comumente tocado em trios elétricos e, dizem, cantado até por torcedores do Vitória, por causa de seu forte refrão) e a inédita Aquele Abraço; como era proibida qualquer menção à prisão ou ao exílio, restava o recado poético.
Araçá Azul (Araçá Azul, 1974): canção que encerra o disco homônimo, é uma das mais climáticas e menos experimentais; o araçá (goiaba) azul vem de um sonho que Caetano teve, no qual Bethânia estava trepada em uma árvore, devorando esse estranho fruto. Quanto a letra, o ateu Caetano diz que “com fé em Deus, não vai morrer tão cedo”. Ironia ou apenas lirismo impessoal?
Atrás Do Trio Elétrico (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção de Caetano Veloso, do mesmo ano): a música que fez os trios elétricos ficarem famosos no Brasil inteiro; homenagem de Caê ao talento pioneiro de Armandinho, Dodô e Osmar, com a pegada roqueira de um jovem Pepeu Gomes (com 14 anos) na guitarra.
Cajuína (Cinema Transcendental, 1979): quando o poeta piauiense e tropicalista Torquato Neto cometeu suicídio, em 1972, Caetano foi a Teresina e, de um encontro com o pai do falecido, regado a suco de caju, saiu essa conversa filosófica (um forró/xaxado existencialista?) e uma rosa de presente.
Cambalache (Caetano Veloso, 1969 – canção de E. S. Discépolo): Caetano encara qualquer ritmo em qualquer língua, inclusive esse tango de letra mais-que-ácida.
Canto Do Povo De Um Lugar (Jóia, 1975): talvez a canção mais convencional (tirando a cover beatle) deste disco que é tão experimental nas letras (seguindo a estética de Oswald de Andrade – cubofuturismo, poema-pílula, pema-piada – inclusive com um poema seu musicado no fim do disco) quanto Araçá Azul é na sonoridade (Jóia já é basicamente voz & violão).
Chuvas De Verão (Caetano Veloso, 1969 – canção de Fernando Lobo): tristíssima canção do irmão de Edu Lobo, bem ao estilo dos velhos sambas despedaça-coração. Caetano canta-a com verdadeira dor na voz.
Cinema Olympia (Barra 69 Ao Vivo): versão ao vivo da canção (gravada por Gal Costa) sobre um antigo cinema de Belém do Pará (hoje extinto).
Cobra-Coral (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Noites Do Norte, de 2000): parceria com Wally Salomão (obrigado ao Daniel pela correção), esta bela canção é cantada ao vivo com Lulu Santos, no dia do aniversário de Caetano. Seria a formosa e colorida serpente da canção uma mulher insinuante?
Ela Ela (Circuladô, 1991): estranha vinheta com guitarras nada melódicas fazendo ruído e uma letra com referências a lesbianismo.
Ele Me Deu Um Beijo Na Boca (Cores, Nomes, 1982): conversa filosófica de Caê eu seu pai, incluindo religião, existencialismo e citações do enigmático poeta maranhense Sousândrade.
Épico (Araçá Azul, de 1974): dá-lhe experimentalismo... início climático como uma trilha sonora, até que Caetano entra cantando, entre sons ambientes de pessoas e carros, cantando como uma velha lavadeira nordestina, fala de Hermeto (Pascoal) e (Walter) Smetak (músicos vanguardistas)... e Muzak (música ambiente para elevadores), segue com colagens sonoras e poéticas, falando sobre a vida conturbada e poluída em São Paulo, complicada especialmente como um nordestino – seria o épico de cada retirante no Brasil, por isso os sons ambientes e a trilha cinematográfica imponente – até arrematar com os geniais versos “Destino eu faço não peço / Tenho direito ao avesso / Botei todos os fracassos / Nas paradas de sucessos”. E tudo é engolido por uma barulheira claustrofóbica à la A Day In The Life, dos Beatles).
Eu E Ela Estávamos Ali Encostados Na Parede (Doces Bárbaros, 1967 – parceria com Gil): “E sem perceber a chegada da paz, nós dois estávamos alojados dentro dela.”
Eu Quero Essa Mulher (Araçá Azul, 1973 – canção de Monsueto Menezes, Lanny, e José Batista): pesada e estridente, talvez a mais barulhenta que Caetano já gravou.
Eu Sou Neguinha (Caetano, 1987): enigmática canção com toques de reggae; seria uma descrição das mil faces e possibilidades não só de Caê, mas de todas as pessoas?
For No One (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Lennon & McCartney): neste disco, lançado simultaneamente com Jóia (era pra ser duplo, mas a gravadora não deixou), também calcado uma sonoridade acústica, porém recheada de covers, traz esta canção de onde Caê tirou parte da melodia de Superbacana. Repare na letra, a melhor que Sir McCartney já fez.
Fora Da Ordem (Circuladô, 1991): auto-explicativa... “Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”. Pessoas incompletas num país incompleto.
Haiti (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Tropicália 2, de 1992): com toques de rap, esta pesada canção deve ser o mais certeiro relato sobre a degradação da nossa sociedade, desde sempre até hoje. Não deixe de notar a construção cinematográfica das imagens “do alto da Fundação Casa de Jorge Amado”.
Help! (Jóia, 1975 – canção de Lennon & McCartney): a delicada e melancólica versão nos faz atentar para a triste letra de Lennon. Só não sei porque justamente essa canção no concretista Jóia.
If You Hold A Stone (Transa, 1972): quando em 1969 Caetano adaptou a canção de domínio público Marinheiro Só, nem devia imaginar que a citaria novamente aqui, com mais propriedade (“Não sou daqui, eu não tenho amor, eu sou da Bahia de São Salvador”) enquanto exilado do outro lado do Atlântico.
In The Hot Sun Of A Christmas Day (Caetano Veloso, 1971): assim como em London London, a beleza de Londres – que ele consegue ver, mas não sentir – deixa-o ainda mais triste e só.
Irene (Caetano Veloso, 1969) com um clima de “ao vivo no estúdio” (com direito a falsos começos e brincadeiras de Gil) e um palíndromo ocasional (“Irene ri” – que Caetano só percebeu quando alertado pelos irmãos concretistas de Campos), Caê homenageou uma de suas irmãs nesta canção.
It’s A Long Way (Transa, 1972): seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
La Flor De La Canela (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Chabuca Granda): talvez a única canção peruana conhecida no Brasil além de El Condor Pása (famosa na versão de Simon & Garfunkel).
Lady Madonna (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Lennon & McCartney): mais uma cover do Fab Four, personalíssima como sempre.
Língua (Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Velô, de 1984): o primeiro samba-rap brasileiro (quem é Marcelo D2?), com letra absolutamente genial e inventiva e, graças a Zeus, sem a irritante presença de Elza Soares, que canta o refrão na versão de estúdio. Ah, e sim, “Hollywood” quer dizer “Azevedo” mesmo... e a "Holanda" do Chico Buarque está com um “L” só porque é menção à peça buarquiana Calabar, na qual o protagonista (personagem real da nossa História) “trai a pátria” e luta do lado dos holandeses no Nordeste.
London London (Caetano Veloso, 1971): Caetano deprimido e só no exílio londrino, triste porém com esperança no futuro... e a mais bela aliteração em língua inglesa já feita (“Green grass blue eyes grey sky God bless silent pain and hapiness”).
Lua Lua Lua Lua (Jóia, 1975): delicada e singela ode ao nosso satélite – tema caro a poetas de todas as gerações.
Marcianita (ao vivo com Os Mutantes num compacto de 1967 – cover de J.I.Marcone e G.V.Aldreto): clássico trash da Jovem Guarda e regravada por meio mundo até hoje; repare na declamação nonsense que Caê no final, com direito a menção até ao famoso “caso das máscaras de chumbo”.
Maria Bethânia (Caetano Veloso, 1971): uma carta para a irmã, pedindo força e querendo notícias do Brasil.
Maria Bethânia (Caetano Veloso E Maria Bethânia Ao Vivo, de 1979 – canção de Capiba): esta o próprio Caetano explica... "Pouco antes de eu completar quatro anos de idade, nasceu nossa irmã mais nova, para quem eu escolhera o nome de Maria Bethânia, por causa de uma bela valsa do compositor pernambucano Capiba, que começava com estas linhas majestosas e, à época, indecifráveis para mim: "Maria Bethânia, tu és para mim/ a senhora do engenho", e era grande sucesso na segunda metade da década de 40, na voz potente de Nelson Gonçalves. Naturalmente todos achavam graça no fato de eu saber cantar canções de gente grande, e mais ainda na minha determinação de nomear minha irmãzinha segundo uma dessas canções. Mas ninguém se sentia com coragem de realmente pôr esse nome "tão pesado" num bebê. Como havia várias outras sugestões (iam de Cristina a Gislaine), meu pai resolveu escrever todos os nomes em pedacinhos de papel que, depois de dobrados, ele jogou na copa de meu pequeno chapéu de explorador e me deu para tirar na sorte. Saiu o da minha escolha. Meu pai então pôs um ar resignado (que era uma ordem para que todos também se resignassem) e disse: "Pronto. Agora tem que ser Maria Bethânia". E saiu para registrar a recém-nascida com esse nome. Recentemente, ouvi de minhas irmãs mais velhas uma versão que diz que meu pai escrevera Maria Bethânia em todos os papéis. Não é de todo improvável. E, de fato, na expressão resignada de meu pai era visível - ainda hoje o é, na lembrança - um intrigante toque de humor. Mas, embora me encha ele orgulho o pensamento de que meu pai possa ter trapaceado para me agradar, eu sempre preferi crer na autenticidade do sorteio: essa intervenção do acaso parece conferir mais realidade a tudo o que veio a se passar desde então, pois ela faz crescerem ao mesmo tempo as magias (que nos dão a impressão de se excluírem mutuamente) do presságio e da unicidade absolutamente gratuita de cada acontecimento."
Minhas Lágrimas (Cê, de 2006): a primeira das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne, no disco quase inteiramente dedicado a isso.
Mora Na Filosofia (Transa, 1972 – canção de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos): este clássico da música brasileira ganha aqui uma versão climática, densa, tensa e pesada.
Não Me Arrependo (do disco Cê, de 2006): a segunda das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne.
Neolithic Man (Transa, 1972): a mais convencional canção, pelo menso liricamente, deste disco, é um legítimo blues-rock em forma de vinheta.
Nicinha (Qualquer Coisa, 1975): delicada vinheta para outra irmã de Caetano.
Nine Out Of Ten (Transa, 1972): provavelmente a primeira vez em que se ouviram acordes de reggae no Brasil (na música, ele desce a Portobello Road, em Londres, ao som desse ritmo). Atualmente, de volta ao setlist, ela é acrescida de toques de rock e ska.
No Dia Em Que Eu Vim-Me Embora (Caetano Veloso, de 1967): inventiva e paródica na estrutura melódica, própria dos primórdios tropicalistas, a letra, que começa um tanto irônica, termina melancólica, num retrato da solidão e dos temores juvenis de Caetano indo do interior à capital da Bahia.
Nostalgia (Transa, 1972): assim como em It’s A Long Way, seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
O Cu Do Mundo (Circuladô, 1991): a violência urbana, especialmente o ato do linchamento – crime punido, sem julgamento, com outro crime –, como ápice da degradação humana.
O Quereres (versão ao vivo do Totalmente Demais, de 1986, para a canção do Velô, 1984): não há tema batido nem esgotado quando falamos de um gênio como Caetano; nesta impecável letra, a eterna luta entre querer e não querer alguém , poder e não poder ficar com uma pessoa... a “bruta flor do querer”.
Onde Andarás (Caetano Veloso, 1967): segunda canção tropicalista, de quando Caê foi tentar a vida no Rio de Janeiro, traz imagens de lugares como Ipanema, um clima de tristeza bossanovista no início e no final; no meio, paródia a cantores de “grande voz”como Orlando Silva.
Oração Ao Tempo (Cinema Transcendental, 1979): um ode ao tempo, da fase hippie tardia de Caetano, de volta do exílio havia já alguns anos, pós "milagre econômico" e pós fiasco do "milagre", e sabendo que a Ditadura não era uma invasão alienígena, mas uma manifestação, infelizmente, do desejo de parte da população.
Os Argonautas (Caetano Veloso, 1969): mais um gênero interpretado com propriedade por Caê – o fado, com direito a citação Pessoana e sotaque português (homenagem e paródia ao mesmo tempo, sempre) no refrão.
Outro (Cê, de 2006): a terceira das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne.
Paisagem Útil (Caetano Veloso, 1967): primeira canção tropicalista, de quando Caê foi tentar a vida no Rio de Janeiro, é uma lenta marchinha com arranjo onipresente de cordas e uma bela visão do Aterro do Flamengo, porém com a visão (própria da Tropicália) ao mesmo tempo reverente e crítica da modernização tardia do Brasil, incluindo uma paródia à voz de cantores como Orlando Silva.
Pipoca Moderna (Jóia, 1975 – canção da Banda De Pífanos De Caruaru, letra de Caetano): já gravada na versão instrumental por Gil no Expresso 2222, uns três anos antes, com a própria tosca banda de pífanos, aparece aqui em versão mais delicada e com letra (nonsense).
Shoot Me Dead (Caetano Veloso, 1971): samba-blues acústico, uma mistura que só Caetano poderia fazer dar certo.
Sugar Cane Fields Forever (Araçá Azul, de 1974): além da óbvia paródia a Strawberry Fields Forever, dos Beatles (cinco anos depois haveria outra paródia, Chuckberry Fields Forever, no disco Doces Bárbaros), tem a folclórica Dona Edith do Prato e sua voz, digamos, peculiar.
Superbacana (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção do Caetano Veloso, de 1967): além da já mencionada citação a For No One, dos Beatles, esta canção de ar lúdico e ensolarado, quase infantil, faz um retrato de uma sociedade jeca metida a modernizada, onde todos os produtos, como Supervicky e Super-Hist, tinham grandes adjetivos.
Tigresa (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Bicho, de 1977): homenagem a Sônia Braga e crítica à geração “engajada” que tanto o patrulhou e criticou nos 1960s e, na década seguinte, entregou-se à “descerebrada” discoteca, em voga na época (“Frenetic Dancin’ Days” era a danceteria, no Morro da Urca, de propriedade do jornalista-forrest-gump Nélson Motta).
Trem Das Cores (Cores, Nomes, 1982): letra das mais geniais – uma singela viagem de trem pelo interior de algum lugar retratada unicamente pelas memórias das cores. Inigualável.
Tropicália (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Caetano Veloso, de 1967): com nome de instalação do artista plástico Hélio Oiticica, é, digamos, o manifesto do movimento, com sua relação e seu confronto de tudo que o país tinha e tem de urbano e rural, moderno e atrasado, incluindo menções ao filme Viva Maria (de Louis Malle), à canção A Banda, de Chico, ao movimento dadaísta, ao subgênero musical “fossa” e ao programa O Fino da Bossa. O movimento tropicalista ao mesmo tempo parodiava e homenageava tudo isso, pois sabia-se inserido no contexto.
Tu Me Acostumbraste (Araçá Azul, de 1974 – canção de F. Dominguez): num disco tão radical que ganhou o rótulo de campeão de devoluções nas lojas e foi retirado de catálogo por 13 anos, até a canção mais “bonitinha” teria que ser anarquizada, gravada com qualidade ruim e com Caê arriscando cantar uma oitava acima na segunda parte. Mesmo assim, dilacerante de tão bela.
Um Índio (versão do Circuladô Vivo, de 1992, para a canção originalmente no Doces Bárbaros, de 1976 – na voz de Bethânia, e no Bicho, de 1977): o índio representando uma tomada de consciência do povo brasileiro para uma nova e esperançosa realidade, um “novo aeon”.
You Don’t Know Me (Transa, 1972): tal como em Nostalgia e It’s A Long Way, seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Eternidades da semana
Semana de Renan Encalheiros: a mídia, que virou mesmo partido político, fez de tudo, com seu agenda setting descarado, para lobotomizar a opinião pública (hein?) grudando a absolvição do já-culpado-antes-mesmo-de-julgado Renan, que, pra imprensa marrom-merda, virou petista de carteirinha. Enquanto isso em São Paulo, reduto dos “cansados” e do tucanato – além de reaças em geral –, temos choque de gestão nos transportes, na saúde, e na alimentação (choque “digestão”?). Enquanto isso, na Sala de Justiça mesmo que não deixem o homem trabalhar, ele trabalha. E dá trabalho. Ta certo que há notícias tristes, mas, no final, tudo vai melhorar.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Nada fácil, cara.
Não é fácil ser turista em São Paulo. Nem paulistano em São Paulo. Nem filha do Camus. Nem Lygia. Nem suicida.
Sem Deus, sem lei.
Cazaquistão sem lei. Estradas sem lei. Bélgica sem lei. Deus sem lei. Guiné-Bissau sem lei. Eutanásia sem lei. Vítimas do Césio sem lei. "Bob Dylan" sem lei. CPIs sem lei. Mídia (cada vez mais) golpista sem lei, nenhuma lei.
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