[Texto do final de setembro de 2011, publicado num site sobre literatura que não existe mais.]
_Andei de ônibus e a pé a vida inteira.
_Por que quis?
_Nunca tive dinheiro pra comprar um carro.
_Nem meus pais tiveram.
_Bom, às vezes eu até tive, mas não conseguiria mantê-lo depois, com manutenções, impostos e combustíveis.
_E bicicleta?
_Nunca aprendi a andar.
_É fácil.
_Não é não. Mas o fato é que, quando passei mal, tive que ir a pé e de ônibus para o pronto-socorro, esperar em pé durante horas pra ser atendido, até morrer num corredor fedendo a éter.
_E aí?
_Aí não sei, devem ter me carregado de lá pra cá, de IML pra cemitério.
_E agora você está aqui.
_Pois é. Essa merda de espiritismo.
_Que tem?
_Só por que não acreditei em carma e aquela porra toda, agora me ferro mais ainda?
_Você não soube aproveitar a vida.
_Ah, tenta aproveitar algo em São Paulo, pegando condução.
_Agora você terá que vagar pelo umbral por um tempão.
_É, porra. NEM DEPOIS DE MORTO VOU DEIXAR DE ANDAR A PÉ?
_Andei de ônibus e a pé a vida inteira.
_Por que quis?
_Nunca tive dinheiro pra comprar um carro.
_Nem meus pais tiveram.
_Bom, às vezes eu até tive, mas não conseguiria mantê-lo depois, com manutenções, impostos e combustíveis.
_E bicicleta?
_Nunca aprendi a andar.
_É fácil.
_Não é não. Mas o fato é que, quando passei mal, tive que ir a pé e de ônibus para o pronto-socorro, esperar em pé durante horas pra ser atendido, até morrer num corredor fedendo a éter.
_E aí?
_Aí não sei, devem ter me carregado de lá pra cá, de IML pra cemitério.
_E agora você está aqui.
_Pois é. Essa merda de espiritismo.
_Que tem?
_Só por que não acreditei em carma e aquela porra toda, agora me ferro mais ainda?
_Você não soube aproveitar a vida.
_Ah, tenta aproveitar algo em São Paulo, pegando condução.
_Agora você terá que vagar pelo umbral por um tempão.
_É, porra. NEM DEPOIS DE MORTO VOU DEIXAR DE ANDAR A PÉ?
Um comentário:
adorei.
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