segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Com minha música (I de II)

Vai terminando mais um ano, e eis a primeira parte da minha retrospectiva musical, o que ouvi de mais legal das coisas lançadas em 2016, começando com os discos internacionais.


Arktis (Ihsahn)
Ihsahn, nascido Vegard Sverre Tveitan, é um gênio. Não contente em, recém-saído da adolescência, revolucionar a música extrema, levando-a a outro patamar de sofisticação com o Emperor (e ainda vender milhões de discos), ele mantém uma carreira-solo incrivelmente consistente e inventiva, e este Arktis não é exceção: tem black metal ríspido, tem prog metal psicodélico com vocais celestiais à Enslaved, tem industrial, tem jazz, tem coisa pop, tem coisa dançante, mas nada óbvio, nada previsível. As músicas sempre vão aonde você menos imagina, e, mesmo assim, parece natural, inevitável. Disco do ano e música do ano, sem sombra de dúvida.
Ouça: South Winds

 



Come To Mexico (Totorro)
Um Weezer instrumental tocado bem mais rápido”. Foi como descrevi o recém-descoberto Home Alone, debute desses moçoilos norte-americanos do math rock. A descrição, acho, ainda vale, na falta de coisa melhor pra adjetivar esse som ao mesmo tempo quebrado, ensolarado e ultramelódico. Coloque o disquinho na vitrola, abra uma cerveja draft e sinta-se no verão de um parque – um parque complexo, mas ainda um parque, e bem divertido.
Ouça:
Saveur Cheveux
 



Guidance (Russian Circles)
Grandioso, monumental. Imagine um Explosions In The Sky mais contemplativo que emocionante. A música vem numa lenta e longa caminhada, do horizonte pra cá, solene, mas não feito marcha, é um passeio altivo mesmo. Lento e confiante. E então tudo se torna uma marcha inexorável, tensa, pesada. Pois o post-metal desses norte-americanos é sempre surpreendente. Uma definição possível seria “um Pelican mais paciente”.
Ouça: Afrika

 



La Niebla Y La Autopista (Julio Y Agosto)
Este hepteto argentino, em pouco mais de dez anos, com quatro discos e um EP, e shows em vários países latinos e na Europa, traz uma típica ‘comfort music’ com seu folk criollo – pop, melancolia e latinidade. Malcomparando, é um Belle & Sebastian sem deficiência aguda de vitaminas.
Ouça: Elena

 



Mariner (Cult Of Luna & Julie Christmas)
Este não tem muito erro pra quem curte post-sludge-metal: Cult Of Luna com a Julie, que já participou dos clássicos Battle Of Mice e Made Out Of Babies. Já se sabe o que esperar aqui: muito peso, muito clima, músicas se desenvolvendo sem pressa, ora explodindo em distorções, ora flutuando em dedilhados e percussões discretas. E o vocal de Julie Christmas serpenteia em meio a tudo isso com desenvoltura e malícia. Poderoso.
Ouça: Cygnus

 




Mayhem In Blue (Hail Spirit Noir)
Direto da Tessalônica, Grécia, vem este jovem power-trio (desde 2010) que já conta com três full lenghths, incluindo este Mayhem In Blue. Está no meio do caminho entre o debute do Kvelertak e os discos mais recentes do Nachtmystium, com ecos do finado Lifelover: ou seja, um black rock-metal doentio, cheio de tensão, psicodelia e sem nenhum compromisso com rótulos.
Ouça: The Cannibal Tribe Came From The Sea


 


Safehaven (Tides From Nebula)
Estes poloneses de Varsóvia vêm com o terceiro álbum ‘cheio’ em 8 anos, mantendo sempre a consistência: uma dinâmica mais, digamos, dinâmica que o habitual do post-rock/metal, passagens com peso à Pelican, eletrônica de leve (como o atual Explosions In The Sky) e trechos muito interessantes que remetem às paisagens sonoras de Brian eno com U2 na fase The Unforgettable Fire. Deve agradar até quem não tem muita paciência com o estilo.
Ouça: Traversing

 


Señoras (Los Valentina)
Este quarteto chileno recém-nascido (de 2015) já surge com seu primeiro trabalho, um EPzinho de 6 faixas em 23 minutos, de surpreendente segurança. Um pop rock meio final dos 80s, meio começo dos 90s, mas sem os timbres datados dessa[s] época[s] (mas espere eventuais teclados jovem guarda); pop de guitarras limpas, bonitinho e melancólico, na tradição que vai de Byrds a REM (e outros tantos), enquanto a bela voz de Valentina canta sobre cotidiano e nostalgia.
Ouça: Serpientes

 


Stranger To Stranger (Paul Simon)
Paul Frederic Simon é um prodígio: após levar o folk rock um passo adiante, com letras e harmonias mais sofisticadas nos 1960s, tem uma longa e sólida carreira-solo em que, inventando a world music décadas antes de o rótulo existiu, já misturou tudo que é cultura existente e existida do mundo. Hoje, do alto de seu 1,60m e de seus 75 anos, segue desafiando, instigando, experimentando. Sem nunca se deitar nas melodias confortáveis da parceria prolífica e turbulenta com Art Garfunkel.
Ouça: Wristband

 



Luz Satelital (Tobogán Andaluz)
Ora indiezinho, ora powerpop, mas tudo com certa leveza, dir-se-ia vagar típico oitentista; não vai mudar a vida de ninguém, mas é muito agradável ouvir este disquinho da atual banda do prolífico Facu Tobogán – não tão lo-fi e nada experimental como seus trabalhos-solo. A voz dele talvez seja o ponto fraco do álbum, um tanto desleixada demais, porém, vale a pena mesmo assim curtir esse rockinho porteño honestíssimo.
Ouça: Partido En Dos

 


De bônus tem: epônimo dos horrendos alemães do Bethlehem, que, após alguns anos perdidos em um arremedo de Rammstein com rock gótico, retornaram ao que sabem fazer melhor, um dark metal grotesco, grosseiro e desolador (ainda que sem a inspiração da fase áurea); e o tiozão do soul Charles Bradley, que, qual Cartola, só apareceu na mídia após só 60 anos (em 2013, com um single-cover de Changes, do Sabbath, relançado neste segundo álbum), e surge na lista como exemplo de álbum muito tocante e honesto, ainda que sem pretensões de inovação.




Também curti os rocks moderninhos e melódicos dos chilenos Medio Hermano (Lucha Libre) e Ases Falsos (El Hombre Puede), o incansável black metal norte-americano do Cobalt (Slow Forever) – ainda que inferior ao anterior e já clássico Gin, de 2009 e o blackgaze belga Rheia, do Oathbreaker, uma trombada entre Julie Christmas e Deafheaven; e esperava mais dos lançamentos dos franceses Alcest (Kodama) e Deathspell Omega (The Synarchy Of Molten Bones) e do italiano Frostmoon Eclipse (The Greatest Loss), pelo tanto que os aguardei.


Ainda nesta semana sai a parte II de II, com minha seleta de discos nacionais.

Um comentário:

SuperDriveFan disse...

tortorro <3