terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Quem é ateu

Uma queria amiga me deu de Miguxo Secreto (confraternização do pessoal d'A Doze Mãos) o livro Serial Killer: Louco Ou Cruel, da Ilana Casoy. Até aí, tudo ótimo, eu já estava começando a ler outro livro dela, Serial Killers Made In Brazil. O mais engraçado é que os dois marcadores têm propaganda de livros espíritas. E um deles é tão impagável que vou reproduzir aqui.
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O ATEU
Romance do Espírito
Antônio Carlos
Psicografa (sic) da médium
Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho
O que leva alguém a não acreditar em Deus? Jean Marie, o Ateu, e seus amigos (sic, sem vírgula mesmo) são farristas que vivem apenas para o presente. Residentes na Toca – outrora conhecida como a Fazenda São Francisco –, transformaram o lugar em palco de festejadas reuniões, onde reinam o vício e a chantagem. Jean Marie reserva-se o direito de não apenas descrer do Criador, mas também de influenciar os outros com seus escritos. Perseguido por um espírito que deseja vingar-se, pressente o perigo: uma terrível ameaça ronda a Toca...
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Preciso comentar? Depois, quando os ateus reclamam de perseguição e discriminação, os crentes contemporizam...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

City of blinding lights

Morar em São Paulo é uma experiência engraçada: enquanto 80% da população aprova do governo Lula, aqui vivemos em um reduo tucano/pefelista, cheio de “cidadãos de bem” que lêem Veja, vêem Jornal Nacional, cursam Direito, Medicina ou Economia, acham que “direitos humanos são para humanos direitos”, São Paulo é a locomotiva do Brasil” e “o problema aqui são os nordestinos”. Temos bairros de baladas caras, bairros de cafonas prédios neoclássicos, bairros de publicitários descolados. Temos academias cheias de marombados e esticadas, com seus pitbulls mal educados e suas crianças gordas educadas pela TV. Os prédios da Berrini são todos espelhados e modernosos, o trem que passa por lá é melhor do que os outros e tem aé uma ponte lá perto que deve ter custado uns três eurotúneis. São Paulo mais pára, no trânsito e nas idéias, do que anda. Como diz nosso governador, “finge que funciona”.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Hollow-hearted, heart-depart

[Texto escrito de supetão, e, logo, passível de incongruências, inverdades... e de ser uma porcaria mesmo.]

Pensando em um amigo e no pai de outro amigo que morreram (coincidentemente, ambos de infarto) no final-de-semana frio e chuvoso, revendo a solidão de Travis Bickle em Taxi Driver, os desencontros e a tristeza dos personagens de Dolls, lutando contra meus males do corpo e do espírito, e fazendo um check-up desajeitado das pessoas que entraram na minha vida e saíram dela este ano – algumas fizeram ambas as coisas em 2008 mesmo – pensei em como todo mundo idealiza a vida como um dom sagrado ou se faz de mártir com ela servindo de cruz, o que é a mesma coisa, só que com o sinal trocado; obrigação de ser feliz ou tentativa contínua de ficar triste, ou de parecer um ou outro. Não faz diferença, na verdade, sena nos entregando as pessoas ou apenas as usando – e todo mundo usa enquanto finge se entregar. Qual personagens de Genet ou Caio Fernando Abreu, estamos à deriva, e muito pouco podemos fazer ante às contingências. E, mesmo assim, infelizmente, somos responsáveis por nossos inevitáveis fracassos. Todo mundo é parecido quando sente dor; depois, se julga individual.

[É, ficou uma porcaria mesmo.]

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Te alcanço em cheio o mel e a ferida.

Escrever bem é sexy. Não sei se é com todo mundo, mas, para mim, poucas coisas ('tá, não tão poucas) são sensuais como textos redigidos com estilo e correção, com aquele algo mais apaixonante que mostra o igual tesão da pessoa que emite as palavras.
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Ênclises no início das sentenças, travessões separando apostos mais longos, mesóclises oportunas como um bom sexo oral, hifenes que são verdadeiras carícias, e até o trema, ah, que delícia, que pretendem tirar de nós como se fosse uma perversão para a sociedade.
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O cidadão comum, do dia-a-dia, tem agora patrulhado até seu prazer mais íntimo, o de se perder no gozo da linguagem. Logo estaremos todos insatisfeitos sexualmente com ditongos separados, lugares-comuns, letras maiúsculas depois de reticências.
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O papel é um infinito de possibilidades prazerosas no qual a única regra é a de você fazer o que tem vontade, mesmo que seja o de realizar seu desejo mais inconfessável.
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Particularmente não gosto de construções pretensiosas e prolixas como posições de kama-sutra. Não são necessárias invencionices para o texto levar ao orgasmo intenso.
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Tal como no sexo, o segredo na literatura é entrega.