quarta-feira, 15 de abril de 2009

¿Where do they all belong?

Corredor do posto de saúde: atendimento atrasado em algumas dezenas de minutos, vaivém de pacientes e impacientes, todos misturados em doenças e especialidades médicas, entre portas fechadas e cadeiras desconfortáveis para a espera. Uma senhora de sessenta e tantos anos, vestido marrom, cabelos brancos e mau cheiro que denunciava a falta de banho havia alguns dias, adentrou o ambiente. Nervosa, transtornada, perturbada, disse à recepcionista, com ânsia, que precisava falar com a psiquiatra. Indicaram-na um banco para esperar, junto à porta de Saúde Mental. Quando a sala ficou aberta, mal o paciente que lá estava saiu e a senhora entrou falando que o marido havia morrido no dia anterior, o neto havia roubado seu carro, o banco, cancelado sua conta, e não dormia ou comia desde o enterro. Com um papel que, segundo ela, era a certidão de óbito do marido, pediu à médica algo que não consegui entender, dada a confusão da fala da senhora. A psiquiatra, consternada, indicou-a a assistente social, que, supostamente, ajudá-la-ia. Antes disso, contou a mesma história meio sem nexo a um senhor que esperava atendimento, acrescentando, entre outros aparentes devaneios, que não saía de casa com medo de a roubarem, e que havia perdido um brinco quando se inclinou no caixão à cova. Ao entrar na sala da assistente social, que pedia à psiquiatra que prescrevesse algum calmante para aquele caso, a mulher cujo odor já ocupava todo o posto virou-se para mim e disse: “Você vê? A vida tem dessas coisas”.

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