segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fall of seraphs

Branco, loiro, de país rico
Terrorista?
De jeito nenhum!
É maluco, atirador, criminoso
Menos a alcunha dirigida aos muçulmanos
T E R R O R I S T A
Os quais, aliás,
Foram os primeiros culpados
Sem nem saberem de nada.
Ah, ele não é um cristão de verdade!
É um dissidente, pecador, maçom, darwinista
É agente infiltrado pela esquerda
Para denegrir a sacrossanta direita
Católica apostólica desumana
Mas tudo fica tão confuso!
Eles nem sabem o que pensar
Direita, cristão, loirão, ricão
Era pra matar pretos, bichas, árabes
Não outros loirões feitos anjinhos de Deus
Para a Igreja e para a Direita, só mais uma dezena
De cadáveres pra baixo de tronos e carpetes
Gabinetes e palácios, catedrais e parlamentos
E azar de quem morreu – e nem pode se defender.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

BraveMurderDay

_Oi.
_Oi
_Quanto tempo!...
_É, quanto tempo.
_Você não me reconheceu?
_Não, na verdade não reconheci.
_Por que, nem mudei, nem faz tanto tempo que nos falamos...
_Sei lá, tava desligado.
_Ah, tá.
_E então, tudo bem?
_Ah...
_Não, pelo visto.
_Não, e você?
_Nada bem também.
_Então por que sempre perguntamos coisas de que sabemos a resposta?
_E por que sempre respondemos o que supostamente a pessoa quer ouvir.
_Mesmo sabendo ser mentira.
_Pois é.
_Pois é.
_Ninguém nunca tá bem.
_E as pessoas devem estar em dúvida entre educação ou ouvir problemas banais?
_É, banais.
_Por que banais?
_Por que nossos maiores problemas são os mesmos desde sempre,
_Tipo desde o mais antigo da civilização?
_É e nada nunca foi resolvido.
_É, nada mesmo.
_Nem será.
_Pouco provável.
_Ah, então é isso.
_Fica bem, tá?
_Você também.
_Quer um drinque?
_Tipo uma noite, um açoite, um acinte?
_Sim, uma pura provocação.
_De sim ou de não?
_Hmmm de dúvida?
_De úmida língua no dissabor?
_De horror, de horror!

terça-feira, 19 de julho de 2011

A parte que coube em sorte aos filhos de José

Esperávamos a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. E ele havia me dito, em sonho ou delírio, que para ver Deus era preciso morrer. Viajar pelo empíreo, pelo cosmo, e deitar aos pés do Senhor, da Causa Primeira. Minhas filhas iam a contragosto ao culto, por isso às vezes eu precisava batê-las com uma vara, assim como manda a Bíblia. Era puro amor. As marcas de sangue pisado e punição eram o amor divino e a humildade perante a quem morreu por nossos pecados. As chagas no lado, os cravos nas mãos e nos pés, tudo era parte do plano. Éramos messias sem traição, só com amor e sofrimento, aquele que liberta, consome, purifica. E a purificação é sempre pela negação, pela entrega, pelas chamas, pela dor, pelo sangue, pela morte. A morte é a redenção, a via dolorosa. E o próprio Deus feito carne havia me dito que éramos todos pecadores e que precisávamos entregá-lo nossas almas; afinal pertenciam a ele. Por isso preguei meus amados filhos, com todo o fervor, com cavilhas de ferrovia, na cerca do jardim, furei com uma pá a costela de cada um e, por fim, para cumprir o plano perfeito do Deus Vivo, enforquei-me na árvore mais próxima, feito Judas. Estava consumado. O Paraíso nos esperava com os anjos e suas hosanas.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Nem lembrança, nem saudade

Tudo que é antigo fica automaticamente legal. Foram-se os revivals dos anos 80s, chegaram os temidos 90s. Festa aqui, ali e acolá, naquele clima bêbado saudoso de porcarias e ”ai como minha pré-adolescência foi legal.”.

Nada mais chato do que a nostalgia da modernidade. Sei lá, talvez romancistas russos e filmes da nouvelle vague, mas enfim.

“Isso que era música, não essas porcarias de agora!”

Amigo, havia tanta ou mais porcaria. Só que você também era um porcaria, um moleque peidão e virgem que abraçava tudo que a então respeitável MTV lançava como moda. Para cada Cranberries ou Nirvana havia um monte de Lagoa 66, The Nixons e CBJr.

Por que se pintar de emo e usar roupas coloridas é mais vergonhoso do que vestir roupa de flanela em nosso calor tropical ou se entupir de batida de melancia e pogar em Killing In The Name no som mecânico?

Molecada que passou a década vestida de preto e xingando pagode agora se empolga pra ir à balada dançar a "dança da cordinha".

"Se você não se fodeu tirando música de ouvido no rádio, não gravou fitas Basf cheias de locutores falando merda no meio das músicas, nem teve vinis riscados e de prensagem péssima, você não foi feliz."

Porra! Que coisa mais contramão da História.

O público fica véio e bundão... e ainda cobra dos antigos artistas que mantenham a verve. Vai entender.