Morreu. Caralho, morreu mesmo. E agora? Morreu. Não pode falar de
política hoje. Ou pode? Não pode. Pode. Não pode. Ih, já falaram. Acabei
falando também. Tão reclamando de quem tá falando. E de quem não tá.
Reclamei de quem tava reclamando. Vai, finge que tá consternado. Não, eu
tô mesmo. Ó lá, agora tão falando que ela vai assumir. Ela quem, a
esposa? Não, a vice? Não são a mesma pessoa? Não. Já tem gente falando
da campanha na tevê. Que horror, não têm respeito? O próprio partido tá
pesquisando já. Ih, já tem um monte de texto falando que ele não era meu
candidato, mas que lamento muito, etc. e tal. Um montão? Todos mais ou
menos iguais. Ah, deixa eles. Liga a tevê que já é o velório. Liguei, liguei. Olha
quanta gente. Tão chorando. Tão tirando foto. Tem imprensa, tem
político. Que horror, olha a candidata empoleirada no caixão. Nem
respeita a viúva. Não é ela ali do lado? Eita, ela mesma. Família toda
usando camisetas. Tão distribuindo bandeiras ali no canto, olha. Pode
dar risada em velório? Não, né. Não? Ah, só um pouco. Não pode parecer
muito feliz. O morto acha ruim? Acho que ele não acha nada, né. Mas a
pessoa fica falada. Viu um monte de gente reclamando, tem um monte de
texto. Tudo igual. Tudo igual. Na verdade metade falando que pode rir,
metade falando que não pode. Faz um reclamando de quem tá reclamando de
quem tá reclamando então. Ah, agora já enterraram. Sete palmos de opinião em cima do cara.
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