terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O som do sim (I de II)

Eis a primeira parte, nacional, da tradicional seleta de melhores discos de 2017 segundo a preferência da casa. Divirtam-se.


Cosmos
(My Magical Glowing Lens)

Quatro anos após a estreia com o belo EP epônimo, o quartero capixaba de rock psicodélico (com boas doses de dream pop) liderado por Gabriela Deptulski faz bonito com seu primeiro full length: psicodelia bem mais direcionada e coesa que Boogarins, por exemplo, sem excesso como Os Mutantes, ou mesmo sem tanto pastiche como um monte de bandas atuais e gringas (alguém pensou em Tame Impala?). Bom para viajar, relaxar, caminhar. Não é ensolarado (nem sombrio), apenas onírico e contemplativo.
Ouça: Raio De Sol



Deixa Quieto (Macaco Bong)
Uma das grades bandas instrumentais brasileiras, Bruno Kayapy lidera aqui seus comparsas em sólidas, inusitadas e suingadas (e menos pesadas que o habitual da banda) versões para músicas do Nevermind, clássico do Nirvana, sempre com muita esperteza – desde o título da obra e os nomes das músicas. E foi uma boa opção tirar o ‘barulho’ das canções originais em prol de mais melodia, coisa em que Kurt Cobain sempre foi subestimado.
Ouça: Móviaje (releitura d'On A Plain)




Elã (Kalouv)

O disco anterior, Pluvero, de 2014, não me chamou atenção – tanto que só fui curtir o quinteto pernambucano ao vê-lo ao vivo. Após apreciar o show, também achei bacana o EP seguinte, Planar Sobre O Invisível, que até entrou na lista do ano passado como ‘menção honrosa’. Já este Elã é coisa finíssima, um post-rock sólido e maduro, de caos controlado flutuando sem pressa entre as melodias, que nunca são perdidas de vista. Se você gosta d’E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, ou mesmo dos momentos mais eletrônicos de God Is An Astronaut (porém, sem tanta melancolia), este disquinho vai descer macio.
Ouça: Depois Do Escuro



Exit (Dado Villa-Lobos)
Descobri por acaso que este disco havia saído, e que surpresa agradável: depois do sem-graça Jardim De Cactus, de 2009 (nem ouvi o seguinte, O Passo Do Colapso, de 2012), Dado aparece aqui com a voz menos hesitante – o que já melhora bastante a experiência – e com um instrumental mais ‘certo de si’, refletindo também ideias mais bem desenvolvidas. O pop e a experimentação, a desilusão e a esperança, o barulho e a melodia, tudo convive em harmonia neste disquinho classudo, tudo guiado pelas guitarras minimalistas sobrepostas que sempre foram marca registrada de Dado, desde os tempos da Legião. Enfim, a surpresa mais agradável desta lista, a começar pela belíssima capa.
Ouça: Fogueira De Natal



Fodido Demais
(Do Amor)

Os discos anteriores (um autointitulado, de 2010, e Piracema, de 2013) sempre me davam a ideia de que a trupe indie carioca de Gabriel Bubu e Marcelo Callado era melhor de conceito que de execução – ou mais hype que bala na agulha mesmo. Pode ter sido má vontade minha, ou simplesmente não ter me conectado com o som dos caras por algum motivo, mas este Fodido Demais, se não é tanto assim feito o título, é auspicioso: tem bastante experimentação, mas sem perda do controle. Peso, melodia, bom humor, mau humor, sujeira, limpeza, tensão relaxamento. E tudo, ainda assim, muito pop, trampado e redondo.
Ouça: Fodido Demais



Frágeis Como Flores (Phillip Long)
Nosso "prolífico Elliott Smith de Araras (SP)", como eu mesmo o chamei na lista do ano passado, lançou dois discos em 2017, e escolho este por ser mais pop rock oitentista (notadamente Legião Urbana) e menos acústico que os demais, dando uma diferenciada do que já ouvi dele. No mais, não tem erro: beleza e melancolia para tardes de sábado garoentas.
Ouça: As Horas


Galanga Livre (Rincón Sapiência)
Rincón, que vinha lançando singles desde 2009, sem me chamar a atenção em nenhum deles, vem surpreendentemente (pelo menos pra mim) poderoso e preciso neste debute: bases tradicionais de rap, levadas afro, batidas funk, pegada rock, tudo evitando ao mesmo tempo algum anacronismo 1990s e a frouxidão de muito do rap atual. Ainda que a segunda parte perca um pouco em impacto, é o melhor disco nacional de rap que ouvi neste ano, de longe.
Ouça: Crime Bárbaro




Japanese Food
(Giovani Cidreira)

Com uma desenvoltura (e voz limpa/feminina) à la Guilherme Eddino (que liderou a lista de 2015), o baiano Giovani passeia por pop antigo e moderno, mpb e pós-punk, sempre com muita propriedade e sem perder a veia pop ou a coesão. Reserve tempo para absorver as muitas ideias que passeiam pelo disco, em meio a guitarras, baterias, sintetizadores e saxofones ruidosos, e se divirta bastante (relevando a capa tosca).
Ouça: Um Capoeira



Tempo Dos Mestres
(Fabiano do Nascimento)

Se você gosta de Edu Lobo, Baden-Powell, Milton Nascimento na fase Milagre Dos Peixes, Egberto Gismonti e dos discos instrumentais do Tom Jobim, este disco é pra você: violões com ótima timbragem percorrendo paisagens como sertões, caatingas e cerrados, sempre em clima épico, com direito a releituras de Brasileirinho e Canto De Xangô. Tudo comandado pelo seguro violão de sete cordas (e às vezes pela límpida voz) do carioca Fabiano.
Ouça: Oya Nana



Todas As Bandeiras
(Maglore)

Vale citar aqui o que escrevi sobre o disco anterior, III, que entrou na lista de melhores de 2015: “Maglore vem com o setentão III, disco muito bonito, ainda que derrape nos vocais loshermanísticos em muitas partes (quando isso não acontece, são os pontos altos do disco”. Felizmente isso aconteceu, e os vocais neste disco estão mais próximos de Los Porongas do que dos infames barbudos cariocas. As músicas são um pouco parecidas demais umas com as outras, em questão de levadas e timbres, mas, de repente, pode-se dizer que é sinal de unidade, certeza, coesão. Enfim, estão melhorando a cada disco, e este já é bem agradável de ouvir, sem ranços.
Ouça: Clonazepam 2 mg


Deu pra perceber, pelos textos e pelas escolhas, que minha preferência é pelas experimentações que não perdem o foco da canção, né. Não importa o que o artista faça em disco, aonde vá, o que misture, o resultado precisa parece mais que uma colagem de ideias.

O próximo post é sobre a lista de discos internacionais, até daqui a pouco!

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