Agora uns filmes sem (muita) polêmica.
Colheita Do Mal: tem Hillary Swank quase bonita, efeitos especiais fascinantes um tema interessante (missionária que vira cética após sua família ser morta por fundamentalistas religiosas, começa a percorrer o mundo, à James Randi, desmascarando crendices religiosas cientificamente, até que começam a surgir indícios de pragas semelhantes às que Jeová jogou nos egípcios). Só que o resultado e horrível: a resolução da história é pífia e a Ciência sai desmerecida ao final da projeção, com uma apologia às pseudociências e ao obscurantismo. Sem dúvida um desserviço.
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O Exorcista II – O Herege: tentei ver de novo, pela terceira vez, acho, e num tem jeito, é muito ruim. John Boorman deve ter feito sob efeito de entorpecentes (ou, sei lá, na falta deles) e comete um filme confuso, de má vontade, com “defeitos especiais”, uma história frouxa que tenta explicar (e nem consegue) coisas que sequer precisavam ser explicadas do primeiro filme, aquela obra-prima imortal que já até mereceu post aqui. Junte isso a uma Linda Blair gorduchinha, já se entupindo de bolinhas, e um Richard Burton visivelmente constrangido. Sorte de Kubrick, que recusou o projeto, e de Max Von Sydow, que aparece pouco. Ah, o terceiro filme eu nem vi; e o prequel (O Início) é medonho.
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Joe Kiddo, Django e A Marca Da Forca: três bons exemplares do western spaggethi, gênero que ao mesmo tempo profanou (onde já se viu italianos filmando italianos em paisagens italianas – e tudo como se fosse o Velho Oeste) e levou o estilo a um patamar mais elevado (mais crueza e realismo – e ao mesmo tempo mais expressionismo –, menos prefonceitos ou estereotipações contra índios e mexicanos. O primeiro é o mais fraco dos três, mas rende boas cenas de ação, com direito até a um trem invadindo um bar cheio de vagabundos e Clint saindo dele já passando fogo geral. O segundo traz Franco Nero arrastando seu caixão, cujo conteúdo ninguém sabe, pelas pradarias enlameadas, cena imortal que foi homenageada pelo mariachi de Tarantino. E o terceiro começa num ritmo alucinante (Clint com o pescoço na forca logo aos 4min de filme) e tem cenas antológicas com enquadramentos idem, a despeito do ritmo irregular.
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O Fora-Da-Lei Josey Wales: este bangue-bangue merece um parágrafo à parte, pois é impecável, dos melhores que já vi. Trilha sonora, direção de arte, fotografia, atuações, equilíbrio entre drama e ação sem queda no ritmo, roteiro, tudo é perfeito. Vale muito a pena ver, especialmente para quem tem preconceito contra esse gênero cinematográfico. A cena de Josey Wales (Clint, claro) propondo um acordo de paz com o chefe dos comanches é de chorar; daqueles momentos em que penso “PQP, é por isso que eu amo cinema.”. Imperdível.
[Obrservação: uso o termo faroeste italiano e seu correlatos mesmo patra filmes americanos, como os feitos pelo Clint quando foi filmar na América, que usem da estética criada por mestres como Leone e Corbucci.]
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Crash – Estranhos Prazeres (não confunda com o recente e oscarizado Crash – No Limite): como a maioria dos filmes do David Cronenberg, este aborda os aspectos grotescos, insólitos, animalescos e bizarros da condição humana, o que faz com que cheguemos a pensar de realmente devemos gostar do que ele nos mostra. Porém nada é exatamente gratuito: quem entende de cinema sabe que a obra do diretor é extremamente ímpar, coerente e conceitual... e para estômagos fortes e cabeças-feitas.
Se você já curte, experimente, mas vá preparado. Caso não esteja familiarizado com a mente doentia desse canadense maluco, procure títulos não-tão-pesados como Gêmeos – Mórbida Semelhança, Marcas Da Violência (meu preferido) ou Spider – Desafie Sua Mente (PQP, olha os subtítulos que eles colocam). Curiosamente, saiu no Estadão deste domingo uma matéria sobre o relançamento do livro que deu origem ao filme.
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Os Duelistas: o visual deste primeiro filme de Ridley Scott impressiona, mas tudo se explica quando se sabe que ele já tinha milhares (!) de comerciais de televisão no currículo; não era, portanto, um debutante das câmeras. O que parece um tema banal (dois soldados napoleônicos duelando a vida inteira por um motivo fútil que acaba se perdendo com o passar dos anos) torna-se uma monumental metáfora sobre o sentido da vida (Bergman deve ter adorado), com um final que, nas mãos de um palerma qualquer, seria o desfecho previsível de um filme repetitivo, mas que é inesperado e belíssimo. Enfim, como sempre e desde sempre, é Ridley Scott mostrando como se faz.
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Amor À Flor Da Pele: Wong kar-wai também sabe o que faz, sempre nos brindando com pérolas de delicadeza narrativa e conceitual, trilha sonora arrebatadora e visual deslumbrante, além de atuações sóbrias e marcantes. Este aqui não tem o visual tão incrível quanto o de 2046, nem a beleza de Zhang Zyhi, mas Tony Leung está lá, as belas canções também, o romantismo poético... e a já veterana Maggie Cheung também dá show. Deve ser o mais belo, poético e delicado romance que já vi na tela. Obra-prima.
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