terça-feira, 12 de agosto de 2008

Don't believe the hype

O que bombava em 68?
O que bombava em 78?
O que bombava em 88?
O que bombava em 98?
O que bomba em 2008?

Pense.

A música melhorou ou piorou?

Claro que não piorou (até porque isso é muito subjetivo); é muita ingenuidade artística achar que a qualidade da música pode ser medida pela mídia, que existem "movimentos", que há épocas melhores ou piores para a música.

Em todas as épocas há gente inovando, buscando caminhos instigantes, e gente a favor da maré, tentando se enquadrar no que a mídia deseja. E como a indústria cultural só estende seus tentáculos massificadores ano após ano, cada vez mais tem negociatas de empresários que colocam os cifrões acima da qualidade e gente que se prostitui por grana e fama. Como correr atrás da onda é o mesmo que tentar morder o próprio rabo, cada coisa minimamente nova que surge vem acompanhada de uma porção de aproveitadores loucos para surfar na marola que a última onda causou.

Só para citar exemplos: os Raimundos, extremamente originais, e descobertos de formas genuína pelos Titãs e pelo Miranda, geraram uma enorme febre de forró-core, de modo que tivemos que aturar horripilâncias como Catapulta e outra do qual nem lembro o nome, mas que tinha uma versão forrocorizada de Tudo Azul, do Lulu Santos; quando o já fabricado Charlie Brown Jr. apareceu, o Dr. Bonadio Frankenstein não se contentou em faturar uma vez só e clonou sua cria não só uma, mas duas vezes (Tihuana e O Surto).

Bobagem achar que não há mais boas bandas em Seattle desde 1992, por exemplo; só deixaram de procurá-las por lá, assim como deve haver um monte de caipiras cheios de laquê fazendo hard-farofa em New Jersey e branquelos raquíticos misantrópicos querendo destruir o cristianismo na Noruega. Tudo depende do interesse midiático. Ou nenhuma música boa foi feita no Brasil durante as ondas de lambada, sertanejo, pagode, axé e pancadão? E agora, após o tosco revival 80s e em pleno império emo (pagode com guitarras), não há gente fazendo boas sonzeiras por aí?

E isso serve de preâmbulo pro que vemos hoje.

Tive o desprazer de acompanhar o último Top 10 da MTV (devem ser os únicos dez clipes que eles ainda passam, já que virou um canal sub-Home & Health.), e o que vi?

À exceção do Weezer, do qual não gosto, mas sei que é uma banda de verdade, e apresentou um clipe mais ou menos criativo (mesmo que a idéia de fã-clipes tenha sido usada aqui pelo finado Gram uns três anos antes), o resto parecia a mesma música com mixagens visuais e sonoras um pouco diferentes. De Fall Out Boy e My Chemical Romance, passando por Pussycat Dolls, Alanis Morrisette e Avril Lavigne, eram superproduções cheias de efeitos, linguagem visual acelerada, roteiro brega e cheio de clichê e músicas parecidíssimas – tudo over, nem muito leve, nem muito pesado, pastel-de-vento total, com letras inócuas e rebeldia blasê calculada.

Fiquei triste por quem se perde naquilo, deixando de conhecer tanta coisa boa do passado e do presente, e feliz por estar alheio a isso, ouvindo e fazendo a música que me agrada. Mas é assim mesmo: os Beatles não foram recusados por uma gravadora em 1962 porque "aquele negócio de grupos de rock já estava fora de moda"? Então...

2 comentários:

Carolina Molina disse...

o rrrock anda quadrado?

Mariel Moura disse...

A música retrata épocas e estados políticos de um lugar. Crenças também.

Normalmente, quando mais adversos forem esses estados, mais criatividade aflorará dos músicos.

Por isso, muitos consideram a década de 60 a mais rica da história da música pop. ( Eu, inclusive ).

Não devemos desprezar as novas tendências, claro, mas, hoje não se cria muita coisa, as bandas usam muitos elementos do que esses caras fizeram há 30 ou 40 anos atrás.

É um assunto bacana de se discutir, de qualquer forma.