segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Hacked up for barbecue
[17h14min] Sabe, às vezes sinto vergonha de minha profissão, dá vontade de pedir pra cancelarem meu MTB. O que a imprensa brasileira (sim, sei que mundo afora é assim também, mas estou falando específica e empiricamente daqui) faz com cada tragédia é uma coisa revoltante. Sempre tem o João Hélio da vez. Depois do moleque, cujo espetáculo de grotesquidão teve direito a apresentadores à Datena pedindo pena de morte, redução da maioridade penal e o caralho e demais absurdos "jogando pra torcida" e até uma reconstituição do crime filmada ao vivo!, tivemos os mesmos desdobramentos inúteis no caso Isabela Nardoni. Qualquer não-fato novo-velho era devorado com sofreguidão pelos abutres-jornalistas. E nos últimos dias tivemos uma emocionante [/bocejo] não-evento: vários dias com as câmeras focalizando uma janela semi-aberta, enquanto pseudocomentaristas de boteco faziam análises psico-sociológicas sobre o seqüestro da Eloá e de sua amiga Nayara. Chegou-se ao cúmulo de hoje, após consumada a tragédia, a Globo anunciar uma matéria com a intenção de "orientar os pais sobre o namoro de adolescentes". Morri. Sabem, eu ainda acredito no biscoito fino para as massas, no melhor estiulo mariodeandradeano. Temos, sim, uma curiosidade mórbida para as coisas, devido à nossa confusões para lidas com questões de vida/morte – tememos nossa finitude –, mas a imprensa devias dar o exemplo e educar os espectadores com um material mais analítico e menos sensacionalista. Encarar os monstros sem temer tornar-se um deles. E, em casos como esses, a mídia faz de todos nós criaturas desprezíveis. [17h23min]
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3 comentários:
É verdade, mas por outro lado a tv mostra o que as pessoas querem ver, pergunte qual o assunto mais pesquisado na internet nos últimos dias. Tá ruim de um lado e pior do outro, mas tenho que admitir que a maior responsável por isso é a própria televisão, a grande formadora de opinião...
bjs
talvez sejamos mesmo criaturas desprezíveis por tudo isso. criamos monstros e nos aproveitamos deles para obter lucro.
Acho que é a primeira vez nos meus 21 anos que eu desisti, a sério.
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