quinta-feira, 30 de julho de 2009

Não acredita no que vê, não daquela maneira.

Joãozinho acorda de manhã bem cedo
Com as costelas tremendo de frio e medo
E vai até a porta de seu barraco de madeira
Olha com desdém onde jaz ali à beira
Seu padrasto desmaiado de aguardente
Naquela cena tão comum e deprimente
E vai olhar o sol se levantar dos destroços
Pedindo com os olhos a companhia dos moços
Que saem logo bem cedo para trabalhar
Em obras, lixões, em balcões de bar.

A luz da manhã lhe arde os olhos pequenos
Com o cheiro do esgoto e seus tantos venenos
Ratos passando pelo chão batido de terra
Todos animais, vivendo na mesma guerra
Não tem nada para comer ou beber na mesa
Não há nada senão confiar na mesma reza
Que a mãe faz para as coisas melhorarem na vida
Para que a desventura resolva dar partida
Na carroça de miséria que puxa aquelas almas
Para tão longe de onde vem a calma.

Longe do grande estereótipo de preto
Mais longe ainda do caminho mais correto
Ele é seguido pela sombra criminosa
A saída, creia em mim, mais honrosa
Do que passar fome ou esperar ajuda
Do que ouvir o ronco da barriga muda
Que grita sozinha por uma intervenção
Da política que jamais traz solução
E das propagandas que anunciam promoções
Que requerem dinheiro aos borbotões.

Joãozinho fecha os olhos, imaginando
Outro mundo se lhe desvendando
Com a mesa posta, a família unida
Seus quatorze irmãos e muita comida
Seu pai fora da cadeia, com ele no colo
Verdes plantas nascendo num fértil solo
O perfume das flores, brinquedos de verdade
Nada de imaginar mais mortes e maldade
Mas os olhos se abrem, cheio de lágrima
E o livro da sua vida ainda está na mesma página.

2 comentários:

Dani Valente disse...

Fecha os olhos, Joãozinho! não vale a pena olhar pra essa realidade...

[Devia ser proibido criança sofrer desse jeito nesse mundo cão] =(

Ótimo texto, Gary! =P

Lari disse...

Concordo com a Dani...deveria ser proibido pra crianças sofrerem assim. Ficou muito bom, amei.
Beijos