quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

The silence of sound [II de III]


Chegou a parte mais variada do Listão do Vanzão: a seleta latina tem ritmos e países bem diversos, e é a seção mais prazerosa de ser feita.



Electric Mistakes, Vicente

Conheci estes bogotanos [um duo] meio por acaso – uma vez que a Colômbia não é uma país com tradição em rock [conhecia apenas Nicolás Y Los Fumadores, Aguas Ardientes e Piel Camaleón] – e foi surpreendente descobrir este som melancólico, garageiro [destoando do pop meio electro de grande parte das bandas latinas atuais, especialmente da cena mexicana, a maior e mais influente dos últimos temos]. Juan Hernández [voz, guitarra] + Laura Perilla [bateria], que, ao vivo são um quarteto, com adição de baixo e outra guitarra, fazem um som obsessivo, quase uma opressão sonora: ritmos duros, pesados, secos, hipnóticos, climas de pós-punk, dor e melancolia [mesmo nas músicas sonoramente mais leves, o clima  permanece denso], e letras que falam sobre perturbações mentais sortidas. E com a capa latina mais bonita do ano.
Ouça: La Fe


Little Jesus, Disco De Oro
A estreia destes mexicanos, em 2013 [Azul], é dos meus discos preferidos: indie pop rock dançante malemolente, ao mesmo tempo emocionante e sem se levar a sério [tem horas que lembra o nosso Holger]. Esperei muito este terceiro disco, e logo veio o sorriso que poucas bandas me dão: Little Jesus tem sabor de sábado, duas da tarde, aquele solzão rachando, você com uma long neck de draft, sal + limão. Aí você até lembra dos problemas, sabe que alguns estão além de suas possibilidades de resolução, mas sabe que, no fim das contas, tudo vai dar certo e que você vai ficar bem, e com quem você ama por perto. Leve-os para sua playlist de férias. “Fuegos artificiales | En todas las ciudades | Y en mi estómago también, vem | Entendí las señales | Tú y yo somos iguales | No nos pueden detener | Ni entender.
Ouça: Los Años Maravillosos


Los Mesoneros, Pangea
Estes venezuelanos [radicados no México]  seguem voando. Em dois anos, dois discos de altíssimo nível. A expectativa por este lançamento estava lá em cima, e não decepcionou, pelo contrário, só confirmou a vitalidade da cena local. A faixa-título, com participação da colombiana Elsa Carvajal [Elsa Y Elmar], é a coisa mais bonita que ouvi neste ano. Melódica e harmonicamente, uma joia pop: simples, bem cuidada, toca fundo em letra & música. O disco em si segue uma linha mais ‘animada’, mas sempre bela e emotiva. Los Mesoneros faturam pelo segundo ano seguido o título de melhor álbum latino que ouvi. "Existen fuerzas | Que nos acercan | Que nos alejan | Y si se enfrentan | ¿Cuál queda?"
Ouça: Pangea



No Rules Clan, Pantone
Desde o debute, Rap Nativo [2012] eu não ouvia falar ou lembrava deste do trio colombiano. Direto de Medellín, Anyone/Cualkiera e Sison Beats, junto do DJ Kario One, fazem um som extremamente consistente neste disco, mesmo sendo bem jovens [média de 25 anos]: rap assumidamente noventista, no estilo relaxadão da saudosa Death Row [ex-gravadora de Dr. Dre], acrescido de jazz, pop, milongas, boleros e outros tantos ritmos, especialmente latinos. Tem o flow necessário pra manter a atenção, mas sem o excesso de discurso que torna muitos discos de rap cansativos de ouvir num fôlego só. Serve pra uma caminhada, serve pra relaxar. “Verdades son verdades por mucho que se escondan | Y como esto es rap yo no digo nada y dale play al disco.
Ouça: Give Me The Loop


V/A, Fuego: Canciones De Emergencia
Vários artistas chilenos lançaram, neste ano, canções sobre os protestos que chacoalham o país feito terremotos: Leo Saavedra, [ex-Primavera De Praga], Kuervos del Sur, Ases Falsos [que já figurou num Listão do Vanzão], Alex Anwandter, Ana Tijoux... mas a iniciativa de Yorka Pastenes [que apareceu por aqui ano passado, com o duo que tem com sua irmã Daniela], artista engajada full-time, é incrível: pediu a seus alunos de uma oficina de composição musical que trouxessem composições sob o tema ‘fogo’, dirigiu e produziu o resultado, lançado por um coletivo chileno, acrescido de uma canção da própria dupla Yorka. Um disco obviamente irregular, muitas vezes urgente demais, às raias da pressa [o que é perfeitamente compreensível], que por ora resvala na ingenuidade, porém, absolutamente necessário. Uma obra já destinada à História.
Ouça: Cae



Aqui tem a lista nacional e logo mais ter a terceira e última parte, com meus discos internacionais prediletos do ano.

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