quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

The silence of sound [I de III]




[Devido ao adoecimento e à consequente morte do meu pai [4/12], com todas as questões práticas, para além das metafísicas, que isso trouxe, traz e trará, neste ano o Listão do Vanzão será mais enxuto em comentários, e sem as menções honrosas, senão não ficaria pronto neste ano; vai ficar muita coisa boa de fora, mas paciência. Pelo menos os selecionados são, como de praxe, gabaritadíssimos.]


Pois vamos à seleta nacional de disco que mais curti escutar neste ano.


Ave Sangria, Vendavais
Em 18/04/2014 escrevi isto no Twitter, após um espetáculo no Sesc Belenzinho: “Esse show do Ave Sangria foi das coisas mais ricas musicalmente que já vi: hard rock, psicodelia, prog, samba, maracatu, latinidad à Santana...”. Pois a mistura continua neste disco novo, após hiato de incríveis 45 anos!, com essa mistura toda que já citei - só que mais coesa, com os elementos mais espalhados pelas faixas do que tudo de uma vez só -, soando tudo redondinho, como um Alceu Valença tendo os Novos Baianos, fase ‘Ferro Na Boneca’, como banda. Bem tocado, bem gravado, bem produzido, com belas e esclarecidas letras [ "Eu tenho medo | Por mim e por vocês | E pelo que vem depois do fim deste mês."]. Vai bem a qualquer hora, ouve que não tem erro.
Ouça: O Poeta






Beto Cupertino, A Gente Vai Encontrar Sossego

Segundo disco do maior artista que Goiânia nos deu desde Mirosmar, finalmente temos um trabalho do nível de sua eterna banda Violins. Para quem gosta do já clássico Direito De Ser Nada [2014], não tem erro aqui: aquela insustentável leveza no meio de tantas arestas, a busca por alguma paz no meio e tanto caos, a crescente maturidade e, tempos tão niilistas e desesperançosos. Beto aceita o fado e encara os fatos. Um álbum inspirador, mesmo em sua aparente incompletude filosófica do ser-aí-em-qualquer-lugar ["Fica a gratidão do meu pesar | E meu constrangimento por viver | Sem graça do Divino | Sem compromisso."]. E, por tudo isso, o disco nacional que mais curti ouvir em 2019.
Ouça: Baque Do Instinto




Continental Combo, Cósmica Conexão
Os sazonais paulistanos do CC estão de volta, com seu rock sessentista à Byrds [guitarra de 12 cordas é característica demais, não tem jeito]; eles sempre me atraíram, desde a estreia epônima lá em 2005. A boa notícia, além da volta, é que o  som ganhou bastante em psicodelia, ficando bem mais denso, e, melhor!, com uns toques meio Clube da Esquina, aquele proguinho nacional maroto 1970s. Tem faixas predominantemente acústicas, percussões insuspeitas, abrindo muito , leque, porém, sem descaracterizar o som já estabilizado. Discão pra dar uma viajada suave.
Ouça: Andaimes E Cavalos





Dresden, Azul

A capa nacional mais bonita do ano embala o post-rock bacana do Dresden, de Ribeirão Preto, que estreia com este belo EP. Se você curte post-rock nacional, como Kalouv, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, ruído/mm, num tem erro: é aquele som tranquilo que gira concentricamente até o caos controlado – porém, com mais melodia do que caos, e mais para o formato ‘canção’ [o quão uma faixa instrumental possa estar nesse âmbito], do que longas viagens eletroeletrônicas – ou seja, bem mais pro Explosions In The Sky do que pro Mogwai, por exemplo. Ótimo para momentos contemplativos, de ser-em-si.
Ouça: L'appel Du Vide (Chamado Do Vazio)



Jair Naves, Rente
Nunca havia me interessado pelo trabalho desse rapaz porque não me aprouvia sua voz no Ludovic [embora o som e as letras fossem de qualidade], sua famosa? Ex-banda. Continuo achando seus vocais estranho, porém, com a sonoridade mais contida, do que o rock tenso e intenso de outrora, dá outra conotação a suas tonalidades. Combina, ou, ao menos, não incomoda. E que melodias e harmonias bacanas, parece, vá lá, o Violins do Tribunal Surdo tocando as músicas do Aurora Prisma, aquela tensão contida, “a ponto de explodir”, como o próprio Jair canta na primeira faixa. Baladas tortas, roquinhos tortos, tudo bem instigante, e visceral mesmo quando delicado: “Quão forte é o instinto que me faz sobreviver | Eu ainda existo, não me deixa esquecer!”. Surpreendeu-me. Discão!
Ouça: Alívio Cômico/Palanque




Nos próximos dias, vêm as partes II [latina] e III [internacional] da lista, fiquem ligadinhos.

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