sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

The silence of sound [III de III]


Encerrando o Listão do Vanzão 2019, a lista internacional, certamente a mais idiossincrática e difícil de fazer.

Батюшка, Панихида
Projeto polonês [ninguém faz música extrema mais doida que os polacos] que é basicamente uma missa ortodoxa tocada como black metal  - sim, e isso mesmo, o primeiro disco [Litourgiya, de 2015] é sensacional, e ao vivo é uma experiência extasiante, com todo o cerimonial no palco [velas, turíbulos] e as vestimentas sacerdotais. Porém, houve uma treta no projeto, e, assim como no Gorgoroth, enquanto a justiça não decide quem é o dono da marca, há duas bandas ativas com o mesmo nome; a diferença aqui é que esta usa o nome em cirílico e outra grafa a transliteração [Batushka]. Na prática, este Батюшка segue a linha evolutiva do debute, enquanto o outro parece alguém tentando imitar porcamente a estreia do grupo. Abra sua cabeça e mergulhe nisto aqui, é coisa finíssima.
Ouça: Песнь 1


Këkht Aräkh, Night And Love
A estreia desta one-man band ucraniana, aparentemente, não tem nada demais: a capa, os timbres, as levadas, tudo remete ao black metal norueguês noventista. E, de fato, não há nenhuma grande revolução aqui: levadas meio Darkthrone, tecladinhos meio Burzum, aquele vocal áspero, mais falado que cantado [entre o Nocturno Culto e o Satyr]. Mas, olha, deixei o disco rolar aqui na primeira vez, e tudo fluiu de forma excelente: intros, intermezzos e outros de violão [ótimo timbre, aliás] entram e saem de forma coesa; teclados não cedem à autoindulgência travestida de minimalismo; tem momento inesperados de declamações quase sussurradas, de intensa melancolia – e é legal que dá ao mesmo tempo um respiro e um reforço no vazio espiritual que o disco pretende passar. Um disco legal de ouvir, mostrando que não precisa nem negar o passado e nem se apegar demais a ele pra fazer uma obra de arte competente e bem feita.
Ouça: Elegy For The Memory Of Me



Oiseaux-Tempête, From Somewhere Invisible
O som é grandioso como uma trilha sonora. Solene feito uma sinfonia. Tem baixo, guitarra, bateria. Teclados discretíssimos. Orquestrações de sopro e cordas. E Vocais declamados. Ah, e tudo feito na base da improvisação. Fora esse descritivo, não faço ideia de como enquadrar esse ~coletivo~ francês, que me chamou a atenção há quase dois anos, quando ouvi a estreia, Ütopiya, de 2015. É post-rock/metal, progressivo, krautrock, free-jazz, free-rock, free-music?, não faço a menor ideia, e, de repente, nem eles. Mas ouça esse From Somewhere Invisible com atenção, pois a viagem e o assombro são garantidos.
Ouça: We, Who Are Strewn About In Fragments



Rivers Like Veins, Z Iskier Srebrnych Orszaków

Mais um grupo da Polônia, estreando com disco cheio, após um EP [2017] e um split com a banda Stworz; black metal com boa produção, som sujo mas tudo bem audível, e nada mal feito; aquela pegada polonesa única nas timbragem e levadas; uns tecladinhos Burzum [impressionante como é referência nisso], batera meio primitiva, mas sólida, vocal OKzão; cadenciado, nem muito lento, nem muito desesperado [quase não tem blastbeat], com uns ritmos mais roquinho; acaba ficando meio pop [pro quão pop esse tipo de desgraceira pode ser]; som de batera maneiríssimo e – o que mais me atraiu – riffs [coisa meio rara no estilo] matadores, sem guitarras fazendo trêmolo o tempo todo. Baita disco.
Ouça: Kształt Obcego Ducha 


White Ward, Love Exchange Failure

Em 30/07/17, escrevi no Twitter: “E este White Ward mano, um post-black metal impiedoso com SOLOS DE SAX MOENDO no meio. E fica foda!”. No final daquele ano, Futility Report entrou na lista de melhores discos internacionais: “Descobri por acaso este quinteto ucraniano de post-metal, e que belo acaso: black metal gélido, climas contemplativos de post-rock (com leves toques de eletrônica), algumas levadas de pós-punk e hardcore aqui e ali, e muitas viagens malucas de jazz se debatendo em seis longas faixas. Por mais caótico que pareça, o resultado é sempre muito coerente, ainda que inesperado. A música vai aonde você nunca espera, e, mesmo assim, quando ocorre a mudança, você pensa que só poderia ser daquele jeito mesmo. Imperdível”. Pois este Love Exchange Failure está mais coeso: se foram, por exemplo, os climas pós-punk e hardcore; mas, mesmo assim, surpreende, pois as partes brutais estão mais desgraçadas, e a as partes jazzy estão quase chill-out.
Ouça: Love Exchange Failure





That’s all, folks! Se ainda não viu, veja a lista nacional e a lista latina. E até daqui a pouco.

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