sábado, 28 de fevereiro de 2009

Dia Anterior

A vida sempre acaba, e não é uma vez só. É como se tudo que fizessemos embolorasse logo depois, fazendo que com esquecêssemos do gosto do que comemos. Fica só a lembrança daquele cheiro de mofo e aquela aparência decrépita, de coisa passada do ponto, de oportunidade perdida, coisa mal aproveitada. Por que eu bebo a vida mesmo? Afasta de mim! A vida acaba ficando meio janta requentada, café de vó (muito doce, fraco e escaldante), pão amanhecido. Você já não sentiu ressaca da existência? Os dias vão passando e parece que a cerveja sempre acaba, e nas horas improváveis, quando a adega do bairro já fechou. A esperança é um engradado vazio, só decepção e inutilidade. Você está faminto, pega o pão e não há fatias o bastante de salaminho para preencher o sanduíche. Coito interrompido, banheiro sem papel, festa só com vodca barata, visita da sogra. A existência é o óbvio desagradável, a surpresa de má-fé, a surpresa perversa. É despertar continuamente dos sonhos bons. Ano inteiro de quarta-feira-de-cinzas. A vida é sempre o dia anterior.

Nenhum comentário: