“Existencialista / Com toda razão / Só faz o que manda / O seu coração.”
Não pedimos para nascer e encontramo-nos sós aqui, por desejo e de outrem, rodeados de existência e contingência por todos os lados e todas as dimensões.
Mais que o vir do nada ou o ir para o nada, mais do que as questões de nascimento e morte, o que mais angustia e escandaliza é o meio, o existir em-si. É a náusea, a sensação de absurdo ante não só a finitude/ transitoriedade, mas a gratuidade sem sentido da vida. Nascemos, morremos e tanto faz como tanto fez.
Vem o desespero, a vontade de fugir para a infância ou o útero materno, quando ainda não nos dávamos conta da existência. Porém isso é impossível, e nossos genes egoístas (pois estamos minimamente sãos) não nos permitem o suicídio (sem entrar nas implicações morais do ato perante a cultura e a sociedade); então resta viver.
E é neste momento que começamos a buscar nossa essência no existir. Estamos sós, abandonados na vida, rodeados de facticidades. Pois a vida é o que fazemos do que fazem de nos, ou seja, são relevantes não só as contingências anteriores ao início da construção essencial, mas o resultado de nossas decisões e das decisões de todas as outras pessoas, numa interação total e irrestritamente caótica. O destino é tudo isso que fazemos e tudo isso que não pedimos; não criamos o mundo, nem a nós mesmos (fisicamente falando), mas podemos recriar a ambos – um com a presença e outro com as atitudes.
E é um processo contínuo, eterno retorno em que, no niilismo dos projetos, a essência é destruída, transvalorada, para ser reerguida indefinidamente. O homem é uma ponte, não uma partida ou finalidade. Prometeu sem arrependimento, Sísifo feliz com sua rocha. Ver-se solitário, inútil... e livre. Mais do que em qualquer plano de vida, mais do que a arte, mais do que no amor, a busca em-si é a própria finalidade. Sejamos inteiros em nossa incompletude, vivendo cada momento de imersão na realidade, com a rocha nos ombros, ou acorrentado nela, qual uma cruz redentora. Sem esperança, sem medo, sem desespero. O sentido da vida é ela-mesma, a todo instante tornar-se o que se é. Parodiando Simone de Beauvoir, on ne naît pás homme: on le devient.
Um comentário:
vc estuda filosofia?!
eu já desisti de encontrar o sentido da vida! talvez a falta de sentido é que torne ela melhor!
beijos!
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