quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Saturday Night Fever

FOLHA - Não dá para erradicar a febre amarela?
DRAUZIO - É impossível. Só se se puser fogo em todas as florestas, matar todos os macacos.


O Partido da Imprensa Golpista (PIG) cria crises, como se sabe; depois do caos aéreo, vem o apagão (tudo bem que apagão de verdade foi em 2001, com FHC) e, agora, o caos da vacinação, destinada a alarmar a população, criar filas intermináveis na porta dos postos de saúde, espantar os turistas e desestabilizar o governo Lula.

Vejamos por exemplo esta matéria da Folha. Alguns trechos:

"Com sua licença, vou usar este espaço para fazer um apelo para você que mora no Brasil, não importa onde: vacine-se contra a febre amarela! Não deixe para amanhã, depois, semana que vem... Vacine-se logo!"

"O fantasma da febre amarela, portanto, paira sobre o país como um alerta num momento crucial, para que a saúde e a educação sejam preservadas antes de tudo o mais. Senão, Lula, o Aedes Aegypti vem, pica e mata sabe-se lá quantos neste ano --e nos seguintes."


Em primeiro lugar, é bom deixar claro que a autora do texto, Eliane Cantanhêde, chefe da sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo, é mulher de Gilnei Rampazzo, um dos donos da GW, a produtora que cuidou das últimas campanhas eleitorais de Geraldo Alckmin e de José Serra. Gilnei Rampazzo é sócio de Luiz Gonzales, o marqueteiro escolhido pelo PSDB para coordenar a campanha presidencial de Geraldo Alckmin. Gilnei foi acusado pela Folha de S.Paulo de participar de um esquema de desvio de recursos da Nossa Caixa.

Agora vamos lá.

Impressionante como esses colunistas falam de epidemia com uma facilidade incrível para quem não entende o que quer dizer o termo. Epidemia não é o aparecimento de casos de uma doença no jornal. Uma epidemia só se caracteriza quando ocorre um aumento maior que duas vezes o desvio padrão sobre a incidência média de uma doença nos últimos anos. Ou seja: Incidência média + 2x desvio padrão.

Não vi até agora nenhum jornal mostrar a incidência da febre amarela nos últimos 10 anos para uma comparação. Repare na média de casos do período FHC e Lula, será por isso que ninguém mostra os números? Segundo o Ministério da Saúde:

1996 – 15 casos
1997 – 3 casos
1998 – 34 casos
1999 – 76 casos
2000 – 85 casos e 42 mortes
2001 – 41 casos e 22 mortes
2002 – 15 casos e 6 mortes
2003 – 64 casos e 22 mortes – (58 dos casos no Sudeste)
2004 – 5 casos e 3 mortes
2005 – 3 casos e 3 mortes
2006 – 2 casos e 2 mortes
2007 – 6 casos e 5 mortes


Todos esses casos são da forma de transmissão em área silvestre da febre amarela. Desde a década de 1940 que não há relatos da transmissão urbana da febre amarela. Veja bem, transmissão em zona urbana é diferente de diagnóstico em zona urbana. A forma silvestre é endêmica principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste e se comporta de forma cíclica, com surtos a cada 5-7 anos.

A transmissão em área silvestre é feita pelo mosquito do género Haemagogus, e se dá através, principalmente, de macacos infectados para humanos não imunizados por vacina. A forma urbana é transmitida do homem para homem através do Aedes Aegypti, o mesmo da dengue. O risco de retorno da forma urbana não é novo, e existe desde a década de 1980 quando houve a reintrodução do Aedes Aegypti no Brasil.

Até o momento (15/01/08), apesar de toda histeria, apenas 2 casos foram comprovadamente de febre amarela este ano. E todos contraídos em áreas silvestres. Ou seja, nada de anormal.

Estão noticiando morte de macacos, supostamente com febre amarela, como se isso fosse um sinal de que a doença está fora de controle. O pior, vários dos macacos noticiados tiveram exame negativo para febre amarela. Ou seja, estão noticiando apenas morte de macacos.

Estão noticiando as mortes por febre amarela como um fato novo do governo Lula, como se ninguém morresse da doença nos anos anteriores. Estão confundindo a ausência de casos urbanos com ausência de casos em geral.

Não há epidemia de febre amarela porque continua sendo uma doença silvestre. Ou seja, é preciso ir à mata e ser picado pelo mosquito transmissor – o Haemagogus. Esse mosquito não é o Aedes Aegypti. Os macacos mortos por febre amarela foram contaminados na floresta. Portanto, foram contaminados pelo Haemagogus. As mortes até aqui ocorridas se deram por contaminação direta, na floresta, por picada do mosquito que só vive na floresta.

FOLHA - Qual a dificuldade de achar a cura para febre amarela?
DRAUZIO - É uma doença de pobre, que atinge um número muito pequeno de pessoas.


Enquanto isso, com os protegidos do PIG, tudo vai bem.

Um comentário:

@mands disse...

e tratam como se não fosse tão grave assim...