sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O concreto já rachou.

Estou atrasado, eu sei, era pr’esta porra sair ano passado, as idéias estavam na cabeça e os links no Bloco de Notas fazia tempo, mas deu preguiça; e, enfim, ninguém vem aqui mesmo, portanto se é para falar sozinho, me dou o direito de fazê-lo na hora em que eu quiser. Hmpf.

Aproveitei o centenário do Niemeyer para fazer alguns comentários – não sem antes estudar um pouco de arquitetura moderna, assunto no qual, para variar, eu era ignorante – sobre a obra dele, especialmente no que tange a São Paulo, já que é o que conheço dele pessoalmente (e sei se funciona ou não). E lá fui eu estudar sobre Le Corbusier, concreto armado e Lúcio Costa (não só nestes links, evidentemente, mas nos imprescindíveis livros físicos) e ler uns estudos que sobre a obra do Oscar.

Brasília, do que se vê e sabe, é uma Xangrilá feita para carros em vez de pessoas, com tudo extremamente árido, distante, impessoal, faraônico. Para a Praça do Patriarca, em São Paulo, ele projetou uma cobertura horrível em forma de til que deixou ainda pior aquele lugar já tão sem graça. Na Ilha Porchat, em São Vicente (e não em Santos, como eu havia dito), tem um negócio bem parecido, feito com clara má vontade, num mirante. Em Curitiba, num museu cujo nome me escapa à memória, um bizarro olho gigante. E minha maior implicância com ele, verdadeiro crime ambiental, que é o Memorial da América Latina. Além de merecer prisão perpétua (morando lá mesmo) por encher com mais concreto nossa cidade tão cinzenta, tudo foi projetado (num só dia, dizem) tão impessoalmente que parece de sacanagem: todo o espaço é gradeado, com portões minúsculos e sinalização inexistente, além de edificações distantes umas das outras (todas sempre de portas fechadas e vidros escuros) e um "frio palmeiral de cimento”, como disse Caê do belíssimo Aterro do Flamengo (feito por Burle Marx, esse sim um paisagista que integra as obras com o meio) – será que o Caetano, mais de 20 anos depois, viu o Memorial e se desculpou com o Aterro? –. Enfim uma excrescência.

Como disse um dos principais críticos de arquitetura do mundo, o espanhol Josep Maria Montaner, "existe realmente tal mitificação sobre sua figura no Brasil, razão por que ainda não há livros bons e críticos o suficiente sobre ele. Continuam dominando os panegíricos sentimentais e nacionalistas."

Porém aqui no Brasil há um excesso de complacência (como ocorre com pessoas que são mitificadas em vida, como Chico Buarque, João Gilberto e Fernanda Montenegro): sendo praticamente unanimidades, tudo que fazem é genial e acima de críticas Veja só o que se se diz do nefando Memorial e de outras obras, por exemplo:

“E, se ainda puder fazer essa viga protendida e resolver tudo em apenas dois apoios extremos, com cascas de concreto armado repousando nela, terá os protótipos dos pavilhões que Niemeyer criou no Memorial da América Latina (1987). O Memorial, portanto, é um exercício de construção, como se juntasse uma pedrinha aqui, outra ali, e pegasse os templos astecas e incas para dizer que agora nós vamos arrumar as pedras de outro modo.” (José Guilherme Wisnik)

"O Palácio dos Arcos é um deslumbramento, a catedral de Brasília é um espetáculo, o MAC de Niterói é uma obra de arte, o Teatro do Ibirapuera é um monumento. Se funcionam é outra questão, irrelevante para a função poética." (Teixeira Coelho)

Como assim? Então é só sair fazendo desenhos divertidos, cheios de leveza e poesia, e a paisagem em volta, com sua população, que se foda? Poética inútil com dinheiro público?

Concluo, pois, que Oscar é um ótimo artista plástico, quiçá um respeitável poeta. Mas é mau arquiteto.

2 comentários:

Amanda Beatriz disse...

adorei a conclusão!
te achei meio rebelde, mas gostei do seu jeito de escrever! visitarei aqui mais vezes! então não deixe o blog abandonado!
beijos!

Anônimo disse...

Não existe nenhuma Ilha Porchat em Santos. A Ilha Porchat fica em São Vicente, é outra cidade.