terça-feira, 16 de junho de 2009

No fim da tarde, a sensação da missão cumprida

Engraçado como as pessoas se interessam mais pelas eleições do Irã do que pelas do Brasil. Vide os escroques que temos elegido, especialmente em São Paulo.

Lembrou-me 1999, no primeiro ano da faculdade, quando uma mina me abordou no corredor pedindo uma doação para os refugiados de Kosovo. Respondi: ah, legal, mas por que antes vocês não arrecadam alguns mantimentos para aquelas famílias que moram no viaduto que fica a 100 metros daqui?

Exceto quando se trata da África (porque aí ninguém liga mesmo) as pessoas parecem ficar com a consciência mais tranqüila quando “ajudam” sem se envolver.

E vale notar que esses supostos interesses vão e vêm ao sabor da mídia. Cada semana é uma comoção diferente que assola essa “gente honesta, boa e comovida”. Aposto um picolé de limão que os persas serão esquecidos, em prol de um novo assunto (seja um moleque arrastado pelas ruas ou uma cantora gorda internada por estresse) mais rapidamente do que você consegue dizer “Mahmoud Ahmadinejad”.

Ah, vou doar roupas velhas pra Santa Catarina, adotar financeiramente um moleque da LBV que nunca precisarei ver na vida e colocar no Orkut um avatar “Free Palestina” (mesmo que eu sequer saiba apontá-la no mapa).

Porém, quando o pivete da esquina aparece, fecho o vidro. Quando vejo o mendigo dormindo sob uma marquise, viro o rosto.

Dou minhas ofertas na igreja, mas não sei amar o próximo. Só o distante.

4 comentários:

Jorge Cordeiro disse...

Mandou muito bem, Vanzo!! Tava pensando nisso nos ultimos dias, principalmente com essa preocupação toda do pessoal com o Irã. Porra, e o Peru? As vitimas da barragem no Piaui? A favela aqui do lado? Bando de hipocritas...

Marcus disse...

Não sei o que o leva a pensar que quem está se preocupando com as eleições no Irã não se preocupa com as do Brasil.

Fábio Vanzo disse...

Marcus, eu já imaginava que ia ter gente, especialmente do FORO, pegando nesse ponto. Mas veja que, além de isso ser só um gancho para o texto (que é muito mais amplo que isso), eu falo de quem se preocupa MAIS com o Irã, e você sabe que isso existe, lá mesmo na OdeC Nos Odeia. Abrazzos.

Bowler Hat Strange Guy disse...

Nossa compaixão tem como chave-mestra a assepsia no bem-fazer.
Dou a mão a quem não a alcança.

Às vezes, esse querer o impossível que nos torna humanos, nos desumaniza como nem a crueldade consegue.

Belo texto, triste análise.
Abraço.