quarta-feira, 3 de junho de 2009

Quem vê caramujo, não vê coração.

Uma noite com o caramujinho guitarrista (II)


Após o ensaio de sábado à noite, o caramujinho foi convidado pelos outros integrantes, as lesmas, para curtir uma balada. Gastrópode que é, tem preguiça de ficar fora do casulo a noite toda. Mas insistiram tanto que acabou aceitando. Foram a um pico que, diziam, teria open-bar.

_Open-bar? Por que não disseram antes, vamos, suas lesmas!

Tá certo que esse termo é sinônimo de roubada, visto que espanta as caramujinhas, atrai caracóis bêbados e só contêm bebidas que nem um visigodo que levou fora da concumbina aceitaria.

Mas aquilo era demais pro caramujinho.

O interior parecia que havia pegado fogo, sido atingido por um aerólito e depredado por hordas de ETs belicosos.

O banheiro era o círculo infernal ao qual Virgílio não teve coragem de levar Dante, com medo de perder a amizade. Devia haver ali cepas de todas as doenças mais mortíferas, de varíola a ebola, passando por peste negra e gripe espanhola.

O open-bar era composto de bebidas altamente nocivas, certamente aparentadas do zyklon-B, do BHC e do ácido muriático. Achou que o bar só estava open porque o Conselho de Segurança da ONU não teve coragem de ir até lá verificar as armas de destruição em massa.

Desejou que aquelas lesmas secassem num cimentado em dia de sol.

No palco, em meio a um calor que deixava o ar mefítico irrespirável com seus miasmas, uma banda cover assassinava Stone Temple Pilots com solos fora de escala e vocal fraquinho embromando no ingrêis.

_Vou embora.

(Leia com sotaque bêbado)

_Vai nada, caramujinho, fica aí, vai ter mais bandas, tem bebida de graça.

_Suas lesmas, eu não vou beber esses venenos. Tô indo, é sério.

Foi embora.

Tinha um caracol em coma alcoólico, tentando ser reanimado pelos amigos. Outro vomitado na escada, perto da porta.

E não era nem uma da madrugada.

Um comentário:

Mariel Moura disse...

Essa lesma aqui, desajeitada e enropecida, ama você, rapá!

Bjus