Só que os direitinhas da internet se recusam: como assim a maioria, que não é a minha maioria, venceu? Óbvio que são ignorantes, manipulados; deviam todos ler mais Veja! Dêem uma passeada por suas comunidades do orkut, sua lista de MSN, fotologs e blogs conhecidos: sendo a maioria de classe média, fatalmente haverá um monte de ofensas pessoais ao nosso presidente reeleito e à vontade dos eleitores. Gente que leu meia dúzia de livros, viajou pra Miami, estudou em escola paga pelo pai e acha que conhece o mundo, que entende tudo de política, que sabe muito mais que o “presidente ignorante, analfabeto, etc.” A eles, sim, falta cultura para cuspir na estrutura. Falta muita maturidade política e democrática a essas pessoas, dá até pena. (Sim, estou generalizando; não gostou, pega eu.)
E isso levou à derrota, e Geraldo Alckmin perdeu por dois fatores simples, mas cruciais.
I. A oposição, a mídia e a classe média não compreenderam, especialmente aqui em São Paulo, que o Brasil vai além do que aparece na Vejinha. Há 42 milhões de pobres no país, e nunca eles tiveram um governo que olhasse tanto para eles. Isso é fato, não há o que discutir com a enxurrada de números e links que venho postando desde a outra eleição. Para os eleitores tucanos parece complicado imaginar que exista gente sem luz, sem comida, sem dentes, para quem R$ 60 façam diferença, para quem programas que levem energia elétrica e tratamento dentário sejam algo importante.
II. Geraldo Alckmin não foi um candidato de verdade, nunca foi um opositor, uma alternativa, simplesmente porque não propôs nada! A campanha inteira – e isso pode ser medido também pelos direitinhas da web – foi limitada a acusações e críticas (nem sempre fundamentadas) ao governo Lula. Nenhuma alternativa foi apresentada. As maiores promessas dele, em termos objetivos, foram “Não vou privatizar a Petrobras” e “Vou ampliar o Bolsa-Família”. De resto, os pastéis-de-vento de “trabalho”, “crescimento”, “educação” e afins. Contou-se muito com o apoio golpista da mídia e os instintos preconceituosos e elitistas da classe média. Falharam clamorosamente. Enquanto os feitos do governo Lula estão aí, a olhos vistos e sentidos na vida das pessoas, notadamente as de classe mais baixa, Alckmin nunca conseguiu contornar os problemas que trazia de seu governo. Por exemplo, como ele podia dizer que não transferia responsabilidades por os erros de sua gestão se, a todo momento, tentava jogar a culpa do PCC para o Governo Federal? Sempre contraditório, ele não tinha pudores em se apresentar como esquerdista, em se dissociar do Fernando Henrique e se intitular competente, mesmo com o rombo de R$ 1,2 bilhão. Diz-se honesto e transparente, mas engavetou sete dezenas de CPIs. Na hora dos debates, essas incongruências de Alckmin foram tão evidentes que nem a imprensa conseguiu esconder mais. A vida imitou a publicidade e o caráter “duvidoso” de Geraldo Alckmin ficou claro. A oposição foi muito agressiva e pouco consistente, esta é a verdade.
Por fim, acima de eu ser petista e tudo mais, esta vitória de Lula foi importantíssima para a consolidação da democracia, em uma eleição na qual a imprensa fez de tudo para dar o golpe. Uma vitória de Geraldo Alckmin no segundo turno, um segundo turno forçado de forma suja, mostraria que a mídia e as oligarquias ainda teriam o mesmo poder de eleger governantes que tiveram de, no mínimo, 1889 a 1989.
Deixem o homem trabalhar. E mais que isso, deixem o povo escolher!