Não vou me alongar muito, pois é só um comentário cinéfilo, e não uma análise sociológica. É só uma introdução para evitar possíveis visões anacrônicas sobre o filme.
Final da década de 1960. Contracultura, protestos políticos, sexo + drogas + rock, etc. Hoje isso pode parecer vazio, distante; afinal a industria cultural (Theodor Adorno falou, Theodor Adorno avisou), de lá pra cá, vem absorvendo tudo que surge mais ou menos espontaneamente, processando e devolvendo como produto de massa, de forma pasteurizada.
Portanto deve-se contextualizar o filme ao vê-lo; para quem não está acostumado aos filmes dessa época, o paradoxo entre realismo extremo e delírios lisérgicos pode parecer monótono ou banal.
Vamos ao filme: Peter Fonda e Denis Hopper compram cocaína de um mexicano (com direito a um rápido “teco”, revendem pelo triplo do preço para um americano e, com o dinheiro, trocam as motos velhas por duas Harley-Davidson e saem sem rumo pela estrada. Sim, e tudo isso antes de aparecerem os créditos! Cocaína, motos, tráfico... Peter Fonda joga o relógio no chão e eles saem pela estrada. Começa a tocar Born To Be Wild, do Steppenwolf, e você lembra de como a música era legal antes de encher o saco por causas das bandas cover de rock clássico.
O filme corre lentamente, tão sem destino quanto o título em português do filme. Entre belas imagens estradeiras e canções de Hendrix, Dylan e Byrds, os dois motoqueiros cruzam cidades e mais cidades em busca de liberdade. Eles cheiram, fumam, trepam, divagam, conhecem comunidades hippies, bebem.
Sempre à margem da sociedade, que lhes nega abrigo, refeições, que os maltrata e ofende. A liberdade é ofensiva, como diz Jack Nicholson, em ótima aparição como um advogado que larga tudo para se juntar aos viajantes. As pessoas não gostam de ver seus semelhantes livres. Não há lugar para isso no mundo. Não havia e não há. Haverá um dia?
Como bom filme da época, é tudo seco, duro, na veia. Não faz apologia a nada, nem condena qualquer comportamento. Simplesmente mostra uma face que o mundo insiste em negar. E o final, árido, não deixa esperanças nem oferece alternativas.
Obrigatório, faz jus à fama de clássico.
Mais do mesmo: http://www.roquenrou.com.br/roquenrou/aprovado.asp?cod=10 e http://us.imdb.com/title/tt0064276
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