segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Vinícius (o filme)

Independentemente de as canções e os poemas serem de qualidade indiscutível [ainda que eu não goste de poema declamado (as poesias declamadas 'tavam tão chatas que os próprios produtores desencanaram e, em certa parte do filme, simplesmente desaparecem), e a maioria das músicas é interpretada por ilustres desconhecidos], acho que falta um pouco de ritmo... tá certo que bossa-nova é algo já meio sem ritmo, e a época em que a maioria das história se passa também não era nenhum primor de acontecimentos velozes. Mas, ainda assim, achei o filme cansativo, com uma história legal aqui e ali (e o final é genial).

Sem falar que, ideologicamente falando, o filme é bastante discutível. Afinal, é o tempo todo aquele papo de celebração dos amores, de paixão pela vida, de curtição, boemia. Tá, é tudo muito lindo, mas o cara era rico, vinha de família abastada, e ainda descolou um emprego de diplomata. Assim é fácil, né.

Sem falar que ele trocava de mulher que nem de cueca, abandonava as esposas, deixava faltar até comida em casa, enquanto torrava a grana em putaria e cachaça. Não me parece exemplo de nada, a não ser de um pré-Cazuza, um pré-Raul, da estirpe de rebeldes sem causa, cada um à sua maneira.

Niilismo-hedonismo (dá pra conciliar isso?) com o bolso cheio de dólar é fácil. E os amigos ainda contam tudo como se fosse glorioso e exemplar. Mas as pistas para o fiasco estão nos depoimentos ressentidos das filhas, vale prestar atenção.


Há também parentesco com Chico Buarque, sabem? Esse negócio de playboy metido a malandro, que nunca subiu o morro de verdade. Por mais que a obra fique boa, soa caricata, como personagens inventados nos quais eles mesmos acreditaram. Essa negação superficial das raízes aristocráticas (não vai trampar, fica comendo a graninha, mas posando de outsider) é tão ingênua...

Em contraponto, há o exemplo do Caetano, que aparece no filme. Vejam só: ele nunca escondeu que é culto, até elitista, que veio de boa família, tem um bom background cultural, etc.

Mas vale dar uma conferida, até porque tem Chico, Edu Lobo, Caê, Gil, Toquinho.

Um comentário:

Anônimo disse...

:O como ousa falar mal dos deuses intocáveis da MPB?
:P se não vai puxar o saco, melhor ficar quieto... e larga esse violão.