segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Oh não: o mundo não mudou.
Sem dúvida, 2007 foi um ano bizarro. Tanto que eu, nem afeito a fazer balanço, resolvi dar mais esta blogada antes que o ano termine, pois este planetóide cheio de antropóides não deixa de divertir, espantar e desapontar (tá, mais desapontar do que outra coisa) todos os dias. No mais, beba bastante (vale até cerveja quente), dance, curta um sossego e, mais do que não dirigir bêbado, não passe nem perto da linha amarela do metrô, senão você vai pro buraco antes do ano.
domingo, 30 de dezembro de 2007
Cnidários nos jornais diários
“Jesus respondeu, e disse-lhe: se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.” (Jo 4, 10)
Jornalismo na internet é foda, ainda mais no final do ano: equipes que já são sobrecarregadas, diminutas e mal preparadas devem ser reduzidas a poucos estagiários. Vejam só esta notícia que vi na capa do Uol/da Folha, dizendo que centenas de pessoas foram atacadas por águas-vivas na Praia Grande (litoral sul paulista). Centenas! Imaginei, sei lá, umas 500 pessoas queimadas pelas gelatinas cheias de tentáculos malignos. Quando abri o link, vi que eram pouco mais de 220 pessoas. Nem tantas centenas assim, né. Já pro Terra, confiabilíssimo com sempre, já são mais de 300 pessoas. Os 300 de Long Beach também aparecem n'O Globo e no iG. Já outros jornais divergem, chutando entre 140 e 255 vítimas. Mas o pior de tudo nessa desinformação é que o ataque não foi feito por águas-vivas, mas por suas primas caravelas, também cnidários, porém bem mais venenosos. Melhor ouvir a água-viva do Raulzito ou ler a da Clarice Lispector.
Jornalismo na internet é foda, ainda mais no final do ano: equipes que já são sobrecarregadas, diminutas e mal preparadas devem ser reduzidas a poucos estagiários. Vejam só esta notícia que vi na capa do Uol/da Folha, dizendo que centenas de pessoas foram atacadas por águas-vivas na Praia Grande (litoral sul paulista). Centenas! Imaginei, sei lá, umas 500 pessoas queimadas pelas gelatinas cheias de tentáculos malignos. Quando abri o link, vi que eram pouco mais de 220 pessoas. Nem tantas centenas assim, né. Já pro Terra, confiabilíssimo com sempre, já são mais de 300 pessoas. Os 300 de Long Beach também aparecem n'O Globo e no iG. Já outros jornais divergem, chutando entre 140 e 255 vítimas. Mas o pior de tudo nessa desinformação é que o ataque não foi feito por águas-vivas, mas por suas primas caravelas, também cnidários, porém bem mais venenosos. Melhor ouvir a água-viva do Raulzito ou ler a da Clarice Lispector.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
Eternidades da semana
Enquanto estou de luto pela peda de uma inefável companhia comandando as madrugadas, presos querem mais tempo para estourar a champanha, a temida bactéria (talvez a mesma que apareceu antes do vírus Ebola e que foi removida dos noticiários para não causar pânico, pois matava em um dia) atava novamente, tenho umas perguntas impertinentes: incêndio no HC não é caos na saúde? Trânsito apocalíptico dois dias antes do feriado não é caos rodoviário? Roubo de obras do Masp não é caos artístico? Preso indultado estuprando não é caos carcerário? Enfim, quer saber? O negócio é comemorar o reveião e deixar o Homem trabalhar.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
Xmas, bloody Xmas
“É normal que, num fim de semana, ao viajar, muita gente morra presa nas ferragens de um Fusca sem que ninguém socorra.” (Biquíni Cavadão)
Com a mobilidade das classes D e E para a classe C (assunto mencionado no último post), a estabilidade econômica, os planos de pagamento a-perder-de-vista e a possibilidade de usar o FGTS para financiamento de veículos (além de os espertinhos de classe média que compram mais carros só para driblar o rodízio), temos, como já afirmei aqui 700 novos carros nas ruas de São Pulo todos os dias. Isso tem o lado bom de a economia do setor crescer e, mais que isso, reduzir drasticamente o desemprego na região do ABC, onde estão concentradas as montadoras.
Porém a questão do trânsito não vem sendo considerada devidamente; é mais do que óbvio que São Paulo vai parar definitivamente em poucos anos, devido ao inchaço populacional (vindo, mais que do Nordeste, do norte de Minas Gerais, além dos vizinhos bolivianos, peruanos, paraguaios e demais hermanos semi-escravos) e à falta de estrutura de transporte público (salvo as melhorias feitas na gestão da Marta Suplicy); como por anos e anos as obras viárias para carros foram privilegiadas, nossa malha ferroviária é um lixo, a rodoviária insuficiente e a metroviária, ridícula de tão pequena e sobrecarregada. O que fazer?
Aliás, essa questão do trânsito, que envolve muito egoísmo das classes altas contra as mais baixas (seja na displicência com que o transporte público é tratado, seja na esperteza de comprar mais carros para driblar a lei e dar uma de esperto), evoca o problema da má educação crônica do brasileiro no trânsito: juntemos estradas ruins, bebedeiras, afobação, falta de espírito coletivo e, principalmente, imprudência (que vem da falta de modos), e temos tantos acidentes rodoviários a cada feriado. E as estatísticas mostram que, mais que o alcoolismo (teoria que surge naturalmente pela época de festejos), o problema é a imprudência mesmo. Questão essa que se estende para as vias urbanas, nos semáforos vermelhos ultrapassados, nas brigas de trânsito, nas filas-duplas em porta de escola, nos belicosos motoboys e nos cruzamentos fechados.
Caetano Veloso aborda essa questão, especialmente o ultrapassar de faróis vermelhos, em nada menos que quatro canções – Podres Poderes (1984), Vamo Comer (1987), Neide Candolina (1991) e Haiti (1993) – e já deu diversos depoimentos à imprensa, especialmente na década de 1990, provavelmente pelo mesmo motivo pelo qual Antonio Cícero, em seu livro O Mundo Desde O Fim (1995), mais precisamente no ensaio O Trânsito No Brasil, sugere que a impunidade no trânsito constitui um sintoma da incapacidade de autonomia da sociedade brasileira. Nada mais natural para um povo que precisa ser multado para não correr e, pior, para usar cinto de segurança.
Deixaremos de ser crianças brincando de carrinho de bate-bate antes que as predições de Laerte (numa Chiclete Com Banana da metade dos anos 1980), da revista Mad (do mesmo período, creio) e de Ignácio de Loyola Brandão (em Não Verás País Nenhum, de 1981), com o engarrafamento definitivo, com carros subindo as paredes como baratas, invadindo todos os espaços, e as pessoas tendo que viver dentro de seus automóveis (alguém aí pensou na Catifunda?) ou morreremos todos em acidentes cinematográficos à Crash – Estranhos Prazeres e À Prova De Morte?
“Vamos comemorar como idiotas, a cada fevereiro e feriado, todos os mortos nas estradas.” (Legião Urbana)
Com a mobilidade das classes D e E para a classe C (assunto mencionado no último post), a estabilidade econômica, os planos de pagamento a-perder-de-vista e a possibilidade de usar o FGTS para financiamento de veículos (além de os espertinhos de classe média que compram mais carros só para driblar o rodízio), temos, como já afirmei aqui 700 novos carros nas ruas de São Pulo todos os dias. Isso tem o lado bom de a economia do setor crescer e, mais que isso, reduzir drasticamente o desemprego na região do ABC, onde estão concentradas as montadoras.
Porém a questão do trânsito não vem sendo considerada devidamente; é mais do que óbvio que São Paulo vai parar definitivamente em poucos anos, devido ao inchaço populacional (vindo, mais que do Nordeste, do norte de Minas Gerais, além dos vizinhos bolivianos, peruanos, paraguaios e demais hermanos semi-escravos) e à falta de estrutura de transporte público (salvo as melhorias feitas na gestão da Marta Suplicy); como por anos e anos as obras viárias para carros foram privilegiadas, nossa malha ferroviária é um lixo, a rodoviária insuficiente e a metroviária, ridícula de tão pequena e sobrecarregada. O que fazer?
Aliás, essa questão do trânsito, que envolve muito egoísmo das classes altas contra as mais baixas (seja na displicência com que o transporte público é tratado, seja na esperteza de comprar mais carros para driblar a lei e dar uma de esperto), evoca o problema da má educação crônica do brasileiro no trânsito: juntemos estradas ruins, bebedeiras, afobação, falta de espírito coletivo e, principalmente, imprudência (que vem da falta de modos), e temos tantos acidentes rodoviários a cada feriado. E as estatísticas mostram que, mais que o alcoolismo (teoria que surge naturalmente pela época de festejos), o problema é a imprudência mesmo. Questão essa que se estende para as vias urbanas, nos semáforos vermelhos ultrapassados, nas brigas de trânsito, nas filas-duplas em porta de escola, nos belicosos motoboys e nos cruzamentos fechados.
Caetano Veloso aborda essa questão, especialmente o ultrapassar de faróis vermelhos, em nada menos que quatro canções – Podres Poderes (1984), Vamo Comer (1987), Neide Candolina (1991) e Haiti (1993) – e já deu diversos depoimentos à imprensa, especialmente na década de 1990, provavelmente pelo mesmo motivo pelo qual Antonio Cícero, em seu livro O Mundo Desde O Fim (1995), mais precisamente no ensaio O Trânsito No Brasil, sugere que a impunidade no trânsito constitui um sintoma da incapacidade de autonomia da sociedade brasileira. Nada mais natural para um povo que precisa ser multado para não correr e, pior, para usar cinto de segurança.
Deixaremos de ser crianças brincando de carrinho de bate-bate antes que as predições de Laerte (numa Chiclete Com Banana da metade dos anos 1980), da revista Mad (do mesmo período, creio) e de Ignácio de Loyola Brandão (em Não Verás País Nenhum, de 1981), com o engarrafamento definitivo, com carros subindo as paredes como baratas, invadindo todos os espaços, e as pessoas tendo que viver dentro de seus automóveis (alguém aí pensou na Catifunda?) ou morreremos todos em acidentes cinematográficos à Crash – Estranhos Prazeres e À Prova De Morte?
“Vamos comemorar como idiotas, a cada fevereiro e feriado, todos os mortos nas estradas.” (Legião Urbana)
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Não verás país nenhum.
A terra é uma beleza, o que estraga é essa gente, já dizia o filósofo Roger Moreira; enquanto o governo federal, a despeito da oposição-de-torcida-organizada, da mídia golpista, da classe média “cansadinha” e pasmem, agora até de padres-de-passeata fazendo greve de fome, vem conseguindo constantes avanços, especialmente na área social, incluindo o que talvez será a primeira ação efetiva contra a seca no Nordeste – o que era de se esperar vindo do Lula –, temos que ler coisas de playboys truculentos e marrentos. No primeiro caso temos os típicos ogros que têm grandes bíceps e cérebros inversalmente proporcionais, tendo que resolver todas as questões pessoais e sexuais na base da porrada mesmo; já o menino mimado das tardes de sábado na Globo (de cérebro pequeno e nariz grande), por mais que paparazzo encha o saco mesmo, curiosamente resolve isso na porrada poucos meses depois de reclamar da violência. Sem falar que é engraçado que esses VIPs profissionais, que adoram mostrar a casa e o estilo de vida (credo) na Caras, no Vídeo Show, na Contigo e vão a esses eventos para aparecer e fazer factóides (ou alguém acha que tinha fã do The Police na área reservada aos artistas e demais quase-famosos?), mas se fazem de ofendidinhos quando a imprensa (sic) que eles mesmos alimentam vem lhes cobrar um quinhão. E não é só isso: tivemos o caso do Masp, no qual os caras se aproveitaram da falta de segurança (e/ou da conivência de funcionários) e levaram um Portinari e um Picasso na cara-dura; fico imaginando os dois bandidos andando na Paulista com os quadros debaixo do braço, talvez até parando no ponto de ônibus da Gazeta para pegar a condução. Tivemos a polícia bandida de sempre, corroborando cada vez mais o Rota 66, do Caco Barcelos; eles matam preto pobre, e matam pra valer. Como diria a inefável Regina Duarte, "eu tenho medo". Enfim, podemos ser atrasados em cultura (nunca entendi porque, além do preconceito contra a língua hermana, não somos nem coerentes pra recusar tudo, pois importamos as porcarias descartáveis e ignoramos os graneds artistas deles); mas, sem dúvida, em malandragem e mau-caratismo, temos muito com o que contribuir para o mundo. E para o Natal, nada como uma notícia bem condizente. Jingobéu.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Pull the tapeworm out of your ass.
Como vai a Presidência? Bem, apesar dos pesares. Engraçado como a Folha (e provavelmente o resto da mídia) trata o assunto: não é do governo Lula o mérito, por meio das políticas sociais e da austeridade econômica, que proporciona a diminuição da pobreza e o aumento da mobilidade social, mas é o mercado liberal que, a despeito do governo estatizante e maléfico do Sapo Barbudo, consegue aproveitar a maré econômica favorável que o governo FHC criou.
Como vai o Governo do Estado? Pra classe mérdia, parece tudo ótimo, apesar dos pesares cada vez mais pesados. Impressionante que a famosa elite branca paulista compra qualquer coisa que a imprensa venda, até mesmo a imagem de presidente eleito que colaram no Serra; ele não é só o maior ministro da Saúde que todos os tempos, mas também um grande administrador, austero e pragmático. Disso eu só acho que ele é uma "praga" mesmo. O buracão do metrô ficou que nem o Julião Tavares no Angústia, do Graciliano Ramos, que engravidou Marina, pretendente do protagonista Luis da Silva, e tudo ficou entre a família dela como se Julião fosse um acidente, "viga que cai do andaime e mata o transeunte".
Como vai a Prefeitura? Enquanto temos 700 novos carros emplacados e um novo edifício em São Paulo a cada dia, nosso prefeito e governador eleito continua com seus factóides dos quais dá até preguiça de falar. Vale mencionar esta vergonha, da qual todos sabem, assim como os contrabandos da 25 de Março, e não fazem nada efetivo além de operações no melhor estilo cortina-de-fumaça ou boneco-de-palha.
Já nossa oposição (notadamente o PSDB), que virou outro PMDB, com vários partidos dentro do partido disputando as migalhas do poder que caem da mesa presidencial (tem o PSDB do Serra, o do Aécio, o do Arthur Virgílio, o do FHC, o do Alckmin – esses dois últimos in memorian), sem pensar no Brasil, sem se opor honestamente, sem se importar com alguém que não eles mesmos.
Como vai o Governo do Estado? Pra classe mérdia, parece tudo ótimo, apesar dos pesares cada vez mais pesados. Impressionante que a famosa elite branca paulista compra qualquer coisa que a imprensa venda, até mesmo a imagem de presidente eleito que colaram no Serra; ele não é só o maior ministro da Saúde que todos os tempos, mas também um grande administrador, austero e pragmático. Disso eu só acho que ele é uma "praga" mesmo. O buracão do metrô ficou que nem o Julião Tavares no Angústia, do Graciliano Ramos, que engravidou Marina, pretendente do protagonista Luis da Silva, e tudo ficou entre a família dela como se Julião fosse um acidente, "viga que cai do andaime e mata o transeunte".
Como vai a Prefeitura? Enquanto temos 700 novos carros emplacados e um novo edifício em São Paulo a cada dia, nosso prefeito e governador eleito continua com seus factóides dos quais dá até preguiça de falar. Vale mencionar esta vergonha, da qual todos sabem, assim como os contrabandos da 25 de Março, e não fazem nada efetivo além de operações no melhor estilo cortina-de-fumaça ou boneco-de-palha.
Já nossa oposição (notadamente o PSDB), que virou outro PMDB, com vários partidos dentro do partido disputando as migalhas do poder que caem da mesa presidencial (tem o PSDB do Serra, o do Aécio, o do Arthur Virgílio, o do FHC, o do Alckmin – esses dois últimos in memorian), sem pensar no Brasil, sem se opor honestamente, sem se importar com alguém que não eles mesmos.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Eternidades da semana
Quase nada de muito novo no front: Kassab e suas medidas higienistas revoltantes, bem à moda do PSDB/DEMo, que faz rampas antimendigo e expulsa o mendigos pra periferia. FgagáC continua falando coisas sem nexo e se contradizendo, o Partido da Imprensa Golpista (PIG) continua com seus factóides e Chávez, mais uma vez, calou a boca de todos, mostrando o quão “ditador” ele é. Pelo menos o Renan Encalheiros renunciou, assim pára essa punhetação. Ei, eu disse quase nada porque tem um livro no prelo que promete ser fabuloso... e vejam só, “ainda seremos macacos outra vez”.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Ser corinthiano é ser também um pouco mais brasileiro.
Depois eu falo do higienista Kassab, do "ditador" (sic) Chávez e da mídia-sempre-golpista. A notícia mais importante do momento, visto que atinge diretamente uns 35 milhões de brasileiros, é a queda do Sport Club Corinthians Paulista de Glórias Mil. Resultado natural da desastrosa segunda metade da gestão Dualibi, quando o “rouba, mas faz” deu lugar só ao “rouba”, houve uma seqüência desastrosa de decisões suicidas e inacreditavelmente amadoras:
1. a parceria obscuríssima com a obscuríssima² MSI, que praticamente lhes dava o clube de presente em troca de uma grana que não parecia mesmo vir de boa cepa;
2. a contratação, por parte da diretoria, de um monte de craques geniosos e de salários altíssimos; quem tem que contratar é o técnico, não a diretoria; não adianta fazer um ninho de cobrar (em todos os sentidos) e jogar um técnico lá pra administrar o vulcão;
3. depois das passagens desastrosas do Muçarela e do Palhaço Krusty, o honesto Márcio Bittencourt, volante sanguinário da conquista de 1990, faz um ótimo trabalho e larga o time líder – quando é demitido;
4. vem o estrelíssimo Leão, que não gosta de argentinos, e briga com o elenco inteiro, além de contratar um monte de cabeças-de-bagre inomináveis;
5. Leão abandona o barco, o time mergulha numa crise sem precedentes devido aos desmandos da diretoria bucaneira;
6. os jogadores, que não têm culpa de serem ruins, nem de estarem lá, dão o sangue, mas o melhor deles ainda é uma porcaria;
7. resultado óbvio da falta de elenco, o time cai, com toda a justiça, para a segundona;
8. entre mortos e feridos, salvam-se São Felipe, Vampeta, Betão & Zelão e Arce; Lulinha ainda ta muito verde pra essa fogueira e o resto eu colocava num saco, enchia de pancada e atirava no Tietê.
9. palmas pra torcida, que apoiou, acompanhou, lutou junto, sofreu junto; por isso é a Fiel... e as outras são apenas torcidas;
10. eu sou Corinthians! Eu nunca vou te abandonar porque eu te amo!
1. a parceria obscuríssima com a obscuríssima² MSI, que praticamente lhes dava o clube de presente em troca de uma grana que não parecia mesmo vir de boa cepa;
2. a contratação, por parte da diretoria, de um monte de craques geniosos e de salários altíssimos; quem tem que contratar é o técnico, não a diretoria; não adianta fazer um ninho de cobrar (em todos os sentidos) e jogar um técnico lá pra administrar o vulcão;
3. depois das passagens desastrosas do Muçarela e do Palhaço Krusty, o honesto Márcio Bittencourt, volante sanguinário da conquista de 1990, faz um ótimo trabalho e larga o time líder – quando é demitido;
4. vem o estrelíssimo Leão, que não gosta de argentinos, e briga com o elenco inteiro, além de contratar um monte de cabeças-de-bagre inomináveis;
5. Leão abandona o barco, o time mergulha numa crise sem precedentes devido aos desmandos da diretoria bucaneira;
6. os jogadores, que não têm culpa de serem ruins, nem de estarem lá, dão o sangue, mas o melhor deles ainda é uma porcaria;
7. resultado óbvio da falta de elenco, o time cai, com toda a justiça, para a segundona;
8. entre mortos e feridos, salvam-se São Felipe, Vampeta, Betão & Zelão e Arce; Lulinha ainda ta muito verde pra essa fogueira e o resto eu colocava num saco, enchia de pancada e atirava no Tietê.
9. palmas pra torcida, que apoiou, acompanhou, lutou junto, sofreu junto; por isso é a Fiel... e as outras são apenas torcidas;
10. eu sou Corinthians! Eu nunca vou te abandonar porque eu te amo!
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Mr. Vingança
"Eu sei que você é uma boa pessoa... por isso sabe que tenho que te matar, não sabe?"
Com atraso de cinco anos, o que mostra, mais uma vez, o amadorismo das distribuidoras brasileiras, Mr. Vingança (Boksuneun Naui Geot/ Sympathy For Mr. Vengeance – 2002), primeira parte da trilogia sobre vingança do diretor sul-coreano Chan-wook Park (os seguintes são Oldboy e Lady Vingança)
Este é o filme mais cru, chocante e angustiante da série. E não é pouco para um tríptico cheio de sessões de tortura, vendettas impiedosas e lutas sangrentas, tudo com poucos e inesquecíveis diálogos, trilhas arrebatadoras e imagens deslumbrantes.
O minimalismo (diálogos e canções esparsas) se une ao preciosismo (planos-seqüência meticulosamente engendrados) para construir uma obra deprimente e trágica.
Dois "Senhores Vingança" dividem o filme nos destinos que se cruzam. Ninguém é culpado, ninguém é inocente. Ambos são boas pessoas que, vítimas das mudanças, acabam se opondo um ao outro por não conseguirem lidar com a perda do que têm de mais importante na vida.
Mais que as intensas seqüências de tortura, facadas, profanação de cadáveres e assassinatos, o que mais deprime no filme, como nos dois seguintes da série (que tratam do mesmo tem, mas não têm relação direta entre si), é o final inexorável, porém imprevisível.
Não vou adiantar sobre a trama, pois as surpresas acontecem durante todo o filme. Saiba apenas que é um filme muito forte (o mais forte que já vi), que vai te fazer mal pela história; porém a trilogia inteira é obrigatória para cinéfilos.
Você vai pensar como o destino (contingências + escolhas) pode levar pessoas ingênuas e boas a fazer coisas horríveis. Esta é a história da humanidade.
Com atraso de cinco anos, o que mostra, mais uma vez, o amadorismo das distribuidoras brasileiras, Mr. Vingança (Boksuneun Naui Geot/ Sympathy For Mr. Vengeance – 2002), primeira parte da trilogia sobre vingança do diretor sul-coreano Chan-wook Park (os seguintes são Oldboy e Lady Vingança)
Este é o filme mais cru, chocante e angustiante da série. E não é pouco para um tríptico cheio de sessões de tortura, vendettas impiedosas e lutas sangrentas, tudo com poucos e inesquecíveis diálogos, trilhas arrebatadoras e imagens deslumbrantes.
O minimalismo (diálogos e canções esparsas) se une ao preciosismo (planos-seqüência meticulosamente engendrados) para construir uma obra deprimente e trágica.
Dois "Senhores Vingança" dividem o filme nos destinos que se cruzam. Ninguém é culpado, ninguém é inocente. Ambos são boas pessoas que, vítimas das mudanças, acabam se opondo um ao outro por não conseguirem lidar com a perda do que têm de mais importante na vida.
Mais que as intensas seqüências de tortura, facadas, profanação de cadáveres e assassinatos, o que mais deprime no filme, como nos dois seguintes da série (que tratam do mesmo tem, mas não têm relação direta entre si), é o final inexorável, porém imprevisível.
Não vou adiantar sobre a trama, pois as surpresas acontecem durante todo o filme. Saiba apenas que é um filme muito forte (o mais forte que já vi), que vai te fazer mal pela história; porém a trilogia inteira é obrigatória para cinéfilos.
Você vai pensar como o destino (contingências + escolhas) pode levar pessoas ingênuas e boas a fazer coisas horríveis. Esta é a história da humanidade.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Sou paulista e já desisti.
Serra, o Presidente Eleito, faz de seu governo uma volta de apresentação pro desfile da sua posse em Brasília em janeiro de 2009. Demorou pra se pronunciar no caso impronunciável do buraco do metrô (e ninguém foi punido), que, aliás, continua a passos de tartaruga manca (e a linha lilás continua lá, subutilizada e dando prejuízo); continua seguindo a proposta de seu antecessor e antagonista Alckmin de chegar à marca de um pedágio por habitante; o Tietê continua sujo (a despeito das bravatas alckminianas durante seus desgovernos); nossos museus (exceto o da Língua Portuguesa) e parques continuam padecendo de propaganda e recursos; Fatecs e escolas técnicas continuam sucateadas; o Poupatempo, cada vez mais sobrecarregado; os trens da CPTM continuam um lixo na maioria das linhas; o Rodoanel (Roubanel) deve ter custado mais que o Eurotúnel e nada de ficar pronto; e nem preciso dizer o estado das escolas do estado, né.
Já o pífio Kassab, à moda de Jânio Quadros, vive de factóides, com idéias esdrúxulas e destemperadas como tentar proibir os feirantes de gritar, tirar todos os cartazes da rua de uma vez (radicalismo tolo, pois as fachadas vazias e com o cimento caindo são igualmente feias) e atitudes esdrúxulas e destemperadas como espancar paciente de posto de saúde ou dizer bravatas com pose de xerife pro muambeiro-mór Law Kin Chong.
E o Alckmin? Ah, o Picolé de Chuchu sumiu após o fiasco nas eleições, sumiu ao quadrado quando o metrô afundou e, agora, faz que não é com ele. Simples assim.
Aí você olha as pesquisas para presidente, e lá está o favoritíssimo Serra; para prefeito, Alckmin e Kassab. Pergunto-me que milagre fez a Marta se eleger uma vez.
Já o pífio Kassab, à moda de Jânio Quadros, vive de factóides, com idéias esdrúxulas e destemperadas como tentar proibir os feirantes de gritar, tirar todos os cartazes da rua de uma vez (radicalismo tolo, pois as fachadas vazias e com o cimento caindo são igualmente feias) e atitudes esdrúxulas e destemperadas como espancar paciente de posto de saúde ou dizer bravatas com pose de xerife pro muambeiro-mór Law Kin Chong.
E o Alckmin? Ah, o Picolé de Chuchu sumiu após o fiasco nas eleições, sumiu ao quadrado quando o metrô afundou e, agora, faz que não é com ele. Simples assim.
Aí você olha as pesquisas para presidente, e lá está o favoritíssimo Serra; para prefeito, Alckmin e Kassab. Pergunto-me que milagre fez a Marta se eleger uma vez.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma.
"Old at heart, bhut I'm only twenty-eight, and much too young to let love break my heart. Old at heart, but it's getting much too late to find ouserves so apart."
_Tem todos os anos e cai sempre no mesmo dia, salvo para quem aniversaria no dia 29/2.
Diz-se que o aniversário tem origem na Grécia Antiga, quando os demônios – entidades que vigiavam e assistiam os mortais – possuíam relações místicas com o dia do nascimento de seus protegidos, pois cria-se que no aniversário a pessoa tinha mais proximidade com o mundo espiritual; portanto eram poderes tanto para o bem quanto para o mal. Também foi com os gregos que nasceu o costume de acender velas nos bolos, que eram de mel, redondos, eram colocados nos altares do templo de Ártemis.
Seja para encher a cara, ganhar presentes, fazer revisões sabáticas da existência ou simplesmente para se deleitar com a sensação de o mundo girar ao seu redor uma vez no ano, o fato é que o aniversário existe como parte de nossa ânsia de mensurar os acontecimentos, passar do tempo, enfim, toda a realidade, a fim de que pareça mais ordenada e controlável. E mais, desculpa para se sentir especial e demonstrar carinho por quem se ama.
Pessoas, sonhos, desejos e problemas – um tanto de tudo deixado para trás e outro tanto que me abandonou. E vem tanto disso novamente e sempre.
Não muda nada que eu não mude, mas deixemo-nos fingir e rir. Só não cantem parabéns.
_Tem todos os anos e cai sempre no mesmo dia, salvo para quem aniversaria no dia 29/2.
Diz-se que o aniversário tem origem na Grécia Antiga, quando os demônios – entidades que vigiavam e assistiam os mortais – possuíam relações místicas com o dia do nascimento de seus protegidos, pois cria-se que no aniversário a pessoa tinha mais proximidade com o mundo espiritual; portanto eram poderes tanto para o bem quanto para o mal. Também foi com os gregos que nasceu o costume de acender velas nos bolos, que eram de mel, redondos, eram colocados nos altares do templo de Ártemis.
Seja para encher a cara, ganhar presentes, fazer revisões sabáticas da existência ou simplesmente para se deleitar com a sensação de o mundo girar ao seu redor uma vez no ano, o fato é que o aniversário existe como parte de nossa ânsia de mensurar os acontecimentos, passar do tempo, enfim, toda a realidade, a fim de que pareça mais ordenada e controlável. E mais, desculpa para se sentir especial e demonstrar carinho por quem se ama.
Pessoas, sonhos, desejos e problemas – um tanto de tudo deixado para trás e outro tanto que me abandonou. E vem tanto disso novamente e sempre.
Não muda nada que eu não mude, mas deixemo-nos fingir e rir. Só não cantem parabéns.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
.cinema falado.
Em Nome Do Pai (In The Name Of The Father – Jim Sheridan, 1993): Daniel Day-Lewis, que já havia vencido o Oscar de melhor ator por Meu Pé Esquerdo (My Left Foot, 1989) deu show neste filme, pra variar, concorreu novamente por este filme e, pasmem, perdeu para Tommy Lee Jones, vilão d’O Fugitivo (The Fugitive). Se ainda perdesse para o também nomeado John Malkovitch, que estava ótimo como o vilão de Na Linha De Fogo (In The Line Of Fire), vá lá, mas enfim (em 2002 Daniel perdeu novamente, com o meia-boca Gangues De Nova York (Gangs From New York) desta vez para Adrien Brody, do chatíssimo O Piano (The Piano). O que parece ser só mais um filme sobre tribunais e condenações injustas (no caso um rapaz babaca irlandês associado erroneamente a um atentado do IRA na Inglaterra e condenado à prisão perpétua), à la Hurricane (Hurricane, 1999, com Denzel Washington), torna-se uma parábola sobre acertar as contas com o passado, a vida, as atitudes, as relações consigo e com a família. Filmaço, emocionante – e baseado em fatos reais.
Fugindo Do Inferno (The Great Escape – John Sturges, 1963): sim, um filme de guerra (oficiais ingleses e americanos aprisionados pelos nazistas em 1943 – história verídica) pode ser divertido – mesmo com atores carrancudos e machões como Steve McQueen, James Garner, James Coburn, Charles Bronson e Richard Attenborough (sim, ele mesmo, que depois virou diretor). É um filmaço que, ao longo de 170min (que passam voando) entretem, deixa tenso, diverte, assusta e comove. E McQueen dá show. Apesar de não ser considerado um clássico do cinema, eu recomendo-o com certeza. Diversão garantida por três horas, esteja você sozinho, com seu par, amigos ou família. Todo mundo vai gostar.
Matar Ou Morrer (High Noon – Fred Zinnemann, 1952): Zinnemann, que no ano seguinte se consagraria definitivamente com A Um Passo Da Eternidade (From Here to Eternity, 1953) traz aqui um faroeste único, atemporal e visionário. Pena que o cinema americano não seguiu essa tendência e foi preciso virem os italianos (!), uma década e meia depois, para trazer maturidade ao gênero, que então ainda mostrava mocinhos lustrusos e donzelas indefesas contra mexicanos vagabundos e índios sendo tratados com cenário. Mas vamos ao filme em si: em tempo real (sim, uns 50 anos antes de 24 Horas), o filme nos mostra a apreensão do recém-casado xerife Will Kane e o dilema entre sair em lua-de-mel ou cumprir sua função uma vez mais e enfrentar o vilão Fank Miller (Ian MacDonald) que saiu da cadeia e está vindo, com sede de vingança, no trem que chega ao meio-dia. Aí são uns 40min em que toda a covardia, a hipocrisia e a falsidade da sociedade (não só da época, mas de todos os tempos) vai se revelando – e deixando o protagonista sozinho para o confronto final. Formidável crescendo de tensão sem nenhuma ação (apenas no final), apenas com as tomadas inovadoras e os diálogos fulminantes. Os únicos pontos negativos são para as atuações da então-infante Grace Kelly (inexpressiva) e da desconhecida Kati Jurado (caricata como numa novela mexicana). Lloyd Bridges – com a canastrice já no sobrenome – não compromete, e o então-novato Lee Van Cleef sequer abre a boca. Por isso o filme é só-e-somente-só de Gary Cooper, que dá ao mesmo tempo força, humanidade e dignidade para o xerife Will Kane, e foi “oscarizado” com justiça. Clássico obrigatório; mate se precisar, mas não morra sem vê-lo.
O Exorcista (The Exorcist – William Friedkin, 1973): é sempre um prazer rever este filmaço, ainda mais numa madrugada chuvosa e de vento balançando as árvores. Linda Blair angelical (e depois demoníaca), Max Von Sidov [o ator preferido de Ingmar Bergman nos anos 1950s, tendo estrelado pérolas como O Sétimo Selo (Det Sjunde inseglet, 1957) e A Fonte Da Donzela (Jungfrukällan, 1960)] com toda austeridade, Ellen Burstyn um ano antes de ganhar o Oscar de melhor atriz por Alice Não Mora Mais Aqui (Alice Doesn’t Live Here Anymore), do Scorsese. Mas o filme é, sem dúvida, de Jason Miller, o atormentado padre Damien Karras. O resto deixo pra vocês lerem aqui.
Os Abutres Têm Fome (Two Mules For Sister Sarah – Don Siegel, 1969): sim, não só filmes de guerra, como também faroestes podem ser divertidos. Don Siegel, um dos mestres de Clint Eastwood (depois de Sérgio Leone), conduz uma quase-comédia de faroeste – acho que filme-de-aventura-passado-no Velho-Oeste seria mais adequado – sobre um pistoleiro carrancudo (Clint, claro) e uma freirinha vigarista (Shirley Maclaine, ótima) que se unem para uma arriscada aventura na fronteira com o México. Ação, aventura e risadas, tudo na medida. E o auxílio luxuoso da batuta do mestre dos mestres Ennio Morriconne comandando a trilha sonora. Outro filme para toda a família – e ótimo para desfazer qualquer preconceito contra o gênero faroeste.
Sindicato De Ladrões (On The Waterfront – Elia Kazan, 1954): ex-comunista, Elia Kazan denunciou colegas de seu ex-partido no Comitê de Investigações de Atividades Anti-Americanas. Atitude deplorável daqueles tempos macartistas; porém mais deploráveis são aqueles que desprezam sua obra por causa de sua opção política e/ou de seus erros na vida pessoal. O fato é que, além deste, ele realizou outros clássicos como Vidas Amargas (East Of Eden, 1957) e Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire, 1951). Respeito e consideração, etc.; porém o filme me decepcionou um pouco. É bom, tem algumas cenas marcantes, mas creio que, no geral, envelheceu mal, carece de ritmo e acaba caindo naquela vala de “filmes de transição” daquela época mais ingênua, que iria até o final dos anos 1960s.
Tudo Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, Mas Tinha Medo De Perguntar (Everything You Always Wanted To Know About Sex * But Were Afraid To Ask – Woody Allen, 1972): visivelmente inspirado pelos esquetes do programa inglês Monty Python's Flying Circus (1969–1974), o filme traz diversas historias que fazem paródia a algumas perguntas do livro (sério) homônimo, grande sucesso naquela época de liberação sexual. Embora irregular, o filme vale pelos dois incríveis (e famosos) momentos do Doutor Ross (Gene Wilder) apaixonado pela ovelha Daisy e dos espermatozóides (o próprio Woody Allen entre eles) se preparando para “entrar em ação”.
Fugindo Do Inferno (The Great Escape – John Sturges, 1963): sim, um filme de guerra (oficiais ingleses e americanos aprisionados pelos nazistas em 1943 – história verídica) pode ser divertido – mesmo com atores carrancudos e machões como Steve McQueen, James Garner, James Coburn, Charles Bronson e Richard Attenborough (sim, ele mesmo, que depois virou diretor). É um filmaço que, ao longo de 170min (que passam voando) entretem, deixa tenso, diverte, assusta e comove. E McQueen dá show. Apesar de não ser considerado um clássico do cinema, eu recomendo-o com certeza. Diversão garantida por três horas, esteja você sozinho, com seu par, amigos ou família. Todo mundo vai gostar.
Matar Ou Morrer (High Noon – Fred Zinnemann, 1952): Zinnemann, que no ano seguinte se consagraria definitivamente com A Um Passo Da Eternidade (From Here to Eternity, 1953) traz aqui um faroeste único, atemporal e visionário. Pena que o cinema americano não seguiu essa tendência e foi preciso virem os italianos (!), uma década e meia depois, para trazer maturidade ao gênero, que então ainda mostrava mocinhos lustrusos e donzelas indefesas contra mexicanos vagabundos e índios sendo tratados com cenário. Mas vamos ao filme em si: em tempo real (sim, uns 50 anos antes de 24 Horas), o filme nos mostra a apreensão do recém-casado xerife Will Kane e o dilema entre sair em lua-de-mel ou cumprir sua função uma vez mais e enfrentar o vilão Fank Miller (Ian MacDonald) que saiu da cadeia e está vindo, com sede de vingança, no trem que chega ao meio-dia. Aí são uns 40min em que toda a covardia, a hipocrisia e a falsidade da sociedade (não só da época, mas de todos os tempos) vai se revelando – e deixando o protagonista sozinho para o confronto final. Formidável crescendo de tensão sem nenhuma ação (apenas no final), apenas com as tomadas inovadoras e os diálogos fulminantes. Os únicos pontos negativos são para as atuações da então-infante Grace Kelly (inexpressiva) e da desconhecida Kati Jurado (caricata como numa novela mexicana). Lloyd Bridges – com a canastrice já no sobrenome – não compromete, e o então-novato Lee Van Cleef sequer abre a boca. Por isso o filme é só-e-somente-só de Gary Cooper, que dá ao mesmo tempo força, humanidade e dignidade para o xerife Will Kane, e foi “oscarizado” com justiça. Clássico obrigatório; mate se precisar, mas não morra sem vê-lo.
O Exorcista (The Exorcist – William Friedkin, 1973): é sempre um prazer rever este filmaço, ainda mais numa madrugada chuvosa e de vento balançando as árvores. Linda Blair angelical (e depois demoníaca), Max Von Sidov [o ator preferido de Ingmar Bergman nos anos 1950s, tendo estrelado pérolas como O Sétimo Selo (Det Sjunde inseglet, 1957) e A Fonte Da Donzela (Jungfrukällan, 1960)] com toda austeridade, Ellen Burstyn um ano antes de ganhar o Oscar de melhor atriz por Alice Não Mora Mais Aqui (Alice Doesn’t Live Here Anymore), do Scorsese. Mas o filme é, sem dúvida, de Jason Miller, o atormentado padre Damien Karras. O resto deixo pra vocês lerem aqui.
Os Abutres Têm Fome (Two Mules For Sister Sarah – Don Siegel, 1969): sim, não só filmes de guerra, como também faroestes podem ser divertidos. Don Siegel, um dos mestres de Clint Eastwood (depois de Sérgio Leone), conduz uma quase-comédia de faroeste – acho que filme-de-aventura-passado-no Velho-Oeste seria mais adequado – sobre um pistoleiro carrancudo (Clint, claro) e uma freirinha vigarista (Shirley Maclaine, ótima) que se unem para uma arriscada aventura na fronteira com o México. Ação, aventura e risadas, tudo na medida. E o auxílio luxuoso da batuta do mestre dos mestres Ennio Morriconne comandando a trilha sonora. Outro filme para toda a família – e ótimo para desfazer qualquer preconceito contra o gênero faroeste.
Sindicato De Ladrões (On The Waterfront – Elia Kazan, 1954): ex-comunista, Elia Kazan denunciou colegas de seu ex-partido no Comitê de Investigações de Atividades Anti-Americanas. Atitude deplorável daqueles tempos macartistas; porém mais deploráveis são aqueles que desprezam sua obra por causa de sua opção política e/ou de seus erros na vida pessoal. O fato é que, além deste, ele realizou outros clássicos como Vidas Amargas (East Of Eden, 1957) e Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire, 1951). Respeito e consideração, etc.; porém o filme me decepcionou um pouco. É bom, tem algumas cenas marcantes, mas creio que, no geral, envelheceu mal, carece de ritmo e acaba caindo naquela vala de “filmes de transição” daquela época mais ingênua, que iria até o final dos anos 1960s.
Tudo Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, Mas Tinha Medo De Perguntar (Everything You Always Wanted To Know About Sex * But Were Afraid To Ask – Woody Allen, 1972): visivelmente inspirado pelos esquetes do programa inglês Monty Python's Flying Circus (1969–1974), o filme traz diversas historias que fazem paródia a algumas perguntas do livro (sério) homônimo, grande sucesso naquela época de liberação sexual. Embora irregular, o filme vale pelos dois incríveis (e famosos) momentos do Doutor Ross (Gene Wilder) apaixonado pela ovelha Daisy e dos espermatozóides (o próprio Woody Allen entre eles) se preparando para “entrar em ação”.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Febeapá
O golpismo (vulgo tucanagem) está em todas, não perdoa uma. Enquanto isso, vai tudo bem em São Paulo, repito. Transportes, administração das estatais, níveis de segurança, níveis de educação... enquanto isso os pássaros bicudos vão se desentendendo entre si e sendo desmascarados quando o circo não é previamente combinado. Ainda bem que o Legislativo é confiável.
De tudo que é humano, nada me é estranho.
O que você está fazendo no Vietnã? Churrasco! O que você está fazendo no velório? Churrasco! Ei, este é meu, vá fazer o seu!
Como vovó já dizia, pedra que quica não cria musgo e chaminé de bêbado não tem dono.
Mondo bizarro: pobres violas sendo violadas, um filme imperdível investimentos eclesiásticos diversificados, "Procon é o caralho" e desemprego que vai estar chegando a níveis alarmantes.
Como vovó já dizia, pedra que quica não cria musgo e chaminé de bêbado não tem dono.
Mondo bizarro: pobres violas sendo violadas, um filme imperdível investimentos eclesiásticos diversificados, "Procon é o caralho" e desemprego que vai estar chegando a níveis alarmantes.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
In the Electric Cinema or on the telly
Agora uns filmes sem (muita) polêmica.
Colheita Do Mal: tem Hillary Swank quase bonita, efeitos especiais fascinantes um tema interessante (missionária que vira cética após sua família ser morta por fundamentalistas religiosas, começa a percorrer o mundo, à James Randi, desmascarando crendices religiosas cientificamente, até que começam a surgir indícios de pragas semelhantes às que Jeová jogou nos egípcios). Só que o resultado e horrível: a resolução da história é pífia e a Ciência sai desmerecida ao final da projeção, com uma apologia às pseudociências e ao obscurantismo. Sem dúvida um desserviço.
***
O Exorcista II – O Herege: tentei ver de novo, pela terceira vez, acho, e num tem jeito, é muito ruim. John Boorman deve ter feito sob efeito de entorpecentes (ou, sei lá, na falta deles) e comete um filme confuso, de má vontade, com “defeitos especiais”, uma história frouxa que tenta explicar (e nem consegue) coisas que sequer precisavam ser explicadas do primeiro filme, aquela obra-prima imortal que já até mereceu post aqui. Junte isso a uma Linda Blair gorduchinha, já se entupindo de bolinhas, e um Richard Burton visivelmente constrangido. Sorte de Kubrick, que recusou o projeto, e de Max Von Sydow, que aparece pouco. Ah, o terceiro filme eu nem vi; e o prequel (O Início) é medonho.
***
Joe Kiddo, Django e A Marca Da Forca: três bons exemplares do western spaggethi, gênero que ao mesmo tempo profanou (onde já se viu italianos filmando italianos em paisagens italianas – e tudo como se fosse o Velho Oeste) e levou o estilo a um patamar mais elevado (mais crueza e realismo – e ao mesmo tempo mais expressionismo –, menos prefonceitos ou estereotipações contra índios e mexicanos. O primeiro é o mais fraco dos três, mas rende boas cenas de ação, com direito até a um trem invadindo um bar cheio de vagabundos e Clint saindo dele já passando fogo geral. O segundo traz Franco Nero arrastando seu caixão, cujo conteúdo ninguém sabe, pelas pradarias enlameadas, cena imortal que foi homenageada pelo mariachi de Tarantino. E o terceiro começa num ritmo alucinante (Clint com o pescoço na forca logo aos 4min de filme) e tem cenas antológicas com enquadramentos idem, a despeito do ritmo irregular.
***
O Fora-Da-Lei Josey Wales: este bangue-bangue merece um parágrafo à parte, pois é impecável, dos melhores que já vi. Trilha sonora, direção de arte, fotografia, atuações, equilíbrio entre drama e ação sem queda no ritmo, roteiro, tudo é perfeito. Vale muito a pena ver, especialmente para quem tem preconceito contra esse gênero cinematográfico. A cena de Josey Wales (Clint, claro) propondo um acordo de paz com o chefe dos comanches é de chorar; daqueles momentos em que penso “PQP, é por isso que eu amo cinema.”. Imperdível.
[Obrservação: uso o termo faroeste italiano e seu correlatos mesmo patra filmes americanos, como os feitos pelo Clint quando foi filmar na América, que usem da estética criada por mestres como Leone e Corbucci.]
***
Crash – Estranhos Prazeres (não confunda com o recente e oscarizado Crash – No Limite): como a maioria dos filmes do David Cronenberg, este aborda os aspectos grotescos, insólitos, animalescos e bizarros da condição humana, o que faz com que cheguemos a pensar de realmente devemos gostar do que ele nos mostra. Porém nada é exatamente gratuito: quem entende de cinema sabe que a obra do diretor é extremamente ímpar, coerente e conceitual... e para estômagos fortes e cabeças-feitas.
Se você já curte, experimente, mas vá preparado. Caso não esteja familiarizado com a mente doentia desse canadense maluco, procure títulos não-tão-pesados como Gêmeos – Mórbida Semelhança, Marcas Da Violência (meu preferido) ou Spider – Desafie Sua Mente (PQP, olha os subtítulos que eles colocam). Curiosamente, saiu no Estadão deste domingo uma matéria sobre o relançamento do livro que deu origem ao filme.
***
Os Duelistas: o visual deste primeiro filme de Ridley Scott impressiona, mas tudo se explica quando se sabe que ele já tinha milhares (!) de comerciais de televisão no currículo; não era, portanto, um debutante das câmeras. O que parece um tema banal (dois soldados napoleônicos duelando a vida inteira por um motivo fútil que acaba se perdendo com o passar dos anos) torna-se uma monumental metáfora sobre o sentido da vida (Bergman deve ter adorado), com um final que, nas mãos de um palerma qualquer, seria o desfecho previsível de um filme repetitivo, mas que é inesperado e belíssimo. Enfim, como sempre e desde sempre, é Ridley Scott mostrando como se faz.
***
Amor À Flor Da Pele: Wong kar-wai também sabe o que faz, sempre nos brindando com pérolas de delicadeza narrativa e conceitual, trilha sonora arrebatadora e visual deslumbrante, além de atuações sóbrias e marcantes. Este aqui não tem o visual tão incrível quanto o de 2046, nem a beleza de Zhang Zyhi, mas Tony Leung está lá, as belas canções também, o romantismo poético... e a já veterana Maggie Cheung também dá show. Deve ser o mais belo, poético e delicado romance que já vi na tela. Obra-prima.
Colheita Do Mal: tem Hillary Swank quase bonita, efeitos especiais fascinantes um tema interessante (missionária que vira cética após sua família ser morta por fundamentalistas religiosas, começa a percorrer o mundo, à James Randi, desmascarando crendices religiosas cientificamente, até que começam a surgir indícios de pragas semelhantes às que Jeová jogou nos egípcios). Só que o resultado e horrível: a resolução da história é pífia e a Ciência sai desmerecida ao final da projeção, com uma apologia às pseudociências e ao obscurantismo. Sem dúvida um desserviço.
***
O Exorcista II – O Herege: tentei ver de novo, pela terceira vez, acho, e num tem jeito, é muito ruim. John Boorman deve ter feito sob efeito de entorpecentes (ou, sei lá, na falta deles) e comete um filme confuso, de má vontade, com “defeitos especiais”, uma história frouxa que tenta explicar (e nem consegue) coisas que sequer precisavam ser explicadas do primeiro filme, aquela obra-prima imortal que já até mereceu post aqui. Junte isso a uma Linda Blair gorduchinha, já se entupindo de bolinhas, e um Richard Burton visivelmente constrangido. Sorte de Kubrick, que recusou o projeto, e de Max Von Sydow, que aparece pouco. Ah, o terceiro filme eu nem vi; e o prequel (O Início) é medonho.
***
Joe Kiddo, Django e A Marca Da Forca: três bons exemplares do western spaggethi, gênero que ao mesmo tempo profanou (onde já se viu italianos filmando italianos em paisagens italianas – e tudo como se fosse o Velho Oeste) e levou o estilo a um patamar mais elevado (mais crueza e realismo – e ao mesmo tempo mais expressionismo –, menos prefonceitos ou estereotipações contra índios e mexicanos. O primeiro é o mais fraco dos três, mas rende boas cenas de ação, com direito até a um trem invadindo um bar cheio de vagabundos e Clint saindo dele já passando fogo geral. O segundo traz Franco Nero arrastando seu caixão, cujo conteúdo ninguém sabe, pelas pradarias enlameadas, cena imortal que foi homenageada pelo mariachi de Tarantino. E o terceiro começa num ritmo alucinante (Clint com o pescoço na forca logo aos 4min de filme) e tem cenas antológicas com enquadramentos idem, a despeito do ritmo irregular.
***
O Fora-Da-Lei Josey Wales: este bangue-bangue merece um parágrafo à parte, pois é impecável, dos melhores que já vi. Trilha sonora, direção de arte, fotografia, atuações, equilíbrio entre drama e ação sem queda no ritmo, roteiro, tudo é perfeito. Vale muito a pena ver, especialmente para quem tem preconceito contra esse gênero cinematográfico. A cena de Josey Wales (Clint, claro) propondo um acordo de paz com o chefe dos comanches é de chorar; daqueles momentos em que penso “PQP, é por isso que eu amo cinema.”. Imperdível.
[Obrservação: uso o termo faroeste italiano e seu correlatos mesmo patra filmes americanos, como os feitos pelo Clint quando foi filmar na América, que usem da estética criada por mestres como Leone e Corbucci.]
***
Crash – Estranhos Prazeres (não confunda com o recente e oscarizado Crash – No Limite): como a maioria dos filmes do David Cronenberg, este aborda os aspectos grotescos, insólitos, animalescos e bizarros da condição humana, o que faz com que cheguemos a pensar de realmente devemos gostar do que ele nos mostra. Porém nada é exatamente gratuito: quem entende de cinema sabe que a obra do diretor é extremamente ímpar, coerente e conceitual... e para estômagos fortes e cabeças-feitas.
Se você já curte, experimente, mas vá preparado. Caso não esteja familiarizado com a mente doentia desse canadense maluco, procure títulos não-tão-pesados como Gêmeos – Mórbida Semelhança, Marcas Da Violência (meu preferido) ou Spider – Desafie Sua Mente (PQP, olha os subtítulos que eles colocam). Curiosamente, saiu no Estadão deste domingo uma matéria sobre o relançamento do livro que deu origem ao filme.
***
Os Duelistas: o visual deste primeiro filme de Ridley Scott impressiona, mas tudo se explica quando se sabe que ele já tinha milhares (!) de comerciais de televisão no currículo; não era, portanto, um debutante das câmeras. O que parece um tema banal (dois soldados napoleônicos duelando a vida inteira por um motivo fútil que acaba se perdendo com o passar dos anos) torna-se uma monumental metáfora sobre o sentido da vida (Bergman deve ter adorado), com um final que, nas mãos de um palerma qualquer, seria o desfecho previsível de um filme repetitivo, mas que é inesperado e belíssimo. Enfim, como sempre e desde sempre, é Ridley Scott mostrando como se faz.
***
Amor À Flor Da Pele: Wong kar-wai também sabe o que faz, sempre nos brindando com pérolas de delicadeza narrativa e conceitual, trilha sonora arrebatadora e visual deslumbrante, além de atuações sóbrias e marcantes. Este aqui não tem o visual tão incrível quanto o de 2046, nem a beleza de Zhang Zyhi, mas Tony Leung está lá, as belas canções também, o romantismo poético... e a já veterana Maggie Cheung também dá show. Deve ser o mais belo, poético e delicado romance que já vi na tela. Obra-prima.
Meu Brasil brasileiro
TURISTAS: eu sabia que seria ruim, como meu irmão havia me advertido, porém tinha certeza de que me divertiria. E foi o que aconteceu – o filme é tão tosco e surreal que é invariavelmente engraçado. Esqueça toda aquela melindragem da mídia brasileira, da Embratur e de outros babacas: é um filme ruim de terror porque é um filme ruim de terror, independentemente de denegrir ou não nosso Brasil varonil.
É ruim porque segue o que há de pior no subgênero de terror slasher: na primeira hora do filme não acontece nada, apenas somos apresentados aos personagens, babacas e tão estereotipados que você mal consegue distingui-los e nem sente falta quando um dele é morto – às vezes você até torce para que determinado babaca seja estripado logo e pare de estorvar; o roteiro tem mais buracos que um chocolate aerado, com erros de continuidade (não dá pra saber nem em que lugar do Brasil exatamente eles estão), de lógica (brasileiro que começa falando inglês de Tarzan e termina o filme quase um nativo ianque, vilão caricato com falas clichê que mata um comparsa sem quê nem por quê) e sequer consegue chocar [ainda que bem feitinho, com uma produção correta, as cenas de suspense e horror são pífias e tudo ainda culmina numa perseguição chatíssima sob a água (!)].
[Aliás brasileiro precisa se decidir se tem orgulho só em época de Copa, Olimpíada, filme ruim e episódio d'Os Simpsons, está ficando ridículo. Nossos patrícios ficam o ano inteiro falando mal dos conterrâneos, do país, da situação, dos políticos, do tal “espírito malandro” – mas, num arroubo de “do meu país só eu posso falar mal”, surge da tumba esse patriotismo bobo e essa indignação torpe à movimento “Cansei”. Você viu algum australiano reclamando de Wolf Creek ou dos rednecks americanos protestanto contra todos os filmes em que aparecem como jecas psicóticos racistas, desde Amargo Pesadelo e Texas Chainsaw Massacre, nos 1970s?]
Quanto ao Brasil mostrado no filme: olha, exceto pelo tráfico de órgãos (do qual nada sei, mas, vai saber, né), é mais ou menos aquilo mesmo. As mulheres daqui estão sempre de graça pros gringos, quando você precisa de polícia na “quebrada”, nunca consegue ajuda, os motoristas de ônibus cariocas correm demais e são imprudentes, os gringos são bobos, se entopem de caipirinha e levam golpe de prostitutas, coisas assim. Nada grave. Mas ainda prefiro a jibóia engolindo o Bart n’Os Simpsons.
Enfim vale para dar risadas, especialmente pelo final, no qual toca uma música hilariante (durante o filme rola pancadão carioca e Marcelo D2).
É ruim porque segue o que há de pior no subgênero de terror slasher: na primeira hora do filme não acontece nada, apenas somos apresentados aos personagens, babacas e tão estereotipados que você mal consegue distingui-los e nem sente falta quando um dele é morto – às vezes você até torce para que determinado babaca seja estripado logo e pare de estorvar; o roteiro tem mais buracos que um chocolate aerado, com erros de continuidade (não dá pra saber nem em que lugar do Brasil exatamente eles estão), de lógica (brasileiro que começa falando inglês de Tarzan e termina o filme quase um nativo ianque, vilão caricato com falas clichê que mata um comparsa sem quê nem por quê) e sequer consegue chocar [ainda que bem feitinho, com uma produção correta, as cenas de suspense e horror são pífias e tudo ainda culmina numa perseguição chatíssima sob a água (!)].
[Aliás brasileiro precisa se decidir se tem orgulho só em época de Copa, Olimpíada, filme ruim e episódio d'Os Simpsons, está ficando ridículo. Nossos patrícios ficam o ano inteiro falando mal dos conterrâneos, do país, da situação, dos políticos, do tal “espírito malandro” – mas, num arroubo de “do meu país só eu posso falar mal”, surge da tumba esse patriotismo bobo e essa indignação torpe à movimento “Cansei”. Você viu algum australiano reclamando de Wolf Creek ou dos rednecks americanos protestanto contra todos os filmes em que aparecem como jecas psicóticos racistas, desde Amargo Pesadelo e Texas Chainsaw Massacre, nos 1970s?]
Quanto ao Brasil mostrado no filme: olha, exceto pelo tráfico de órgãos (do qual nada sei, mas, vai saber, né), é mais ou menos aquilo mesmo. As mulheres daqui estão sempre de graça pros gringos, quando você precisa de polícia na “quebrada”, nunca consegue ajuda, os motoristas de ônibus cariocas correm demais e são imprudentes, os gringos são bobos, se entopem de caipirinha e levam golpe de prostitutas, coisas assim. Nada grave. Mas ainda prefiro a jibóia engolindo o Bart n’Os Simpsons.
Enfim vale para dar risadas, especialmente pelo final, no qual toca uma música hilariante (durante o filme rola pancadão carioca e Marcelo D2).
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Se gritar "pega ladrão", não fica um
Afundando São Paulo
Tucanos afundam São Paulo. Em 8 anos, SP tem 941 mil grávidas na adolescência. Dieese: São Paulo deveria empregar mais. Renda na Grande SP cresce abaixo da média do Brasil. Assembléia aprova criação da disciplina "Deus na escola" em São Paulo.
Afundando mesmo
Erro no metrô causa desencontro de túneis. Metrô de São Paulo: buracos de túneis não se encontram. Metrô agora vê falha primária em desencontro de túneis. Desvio em túneis de Metrô pode ser de 1,4 metro. "Dados de Serra são tão precisos quanto túneis do Metrô". Serra omite informação sobre crime.
Afundando o Brasil e se afundando
De onde vem o $ do valerioduto? Os documentos do mensalão mineiro. Verba do Bemge foi para valerioduto, diz PF. Ação vai cobrar dinheiro desviado de estatais pelo mensalão mineiro. A caixa de Pandora de Marcos Valério. As diferenças entre mensalões. Marcos Valério, o operador de aluguel. Editora Abril é citada como suspeita no relatório da Polícia Federal sobre Mensalão do PSDB Mineiro. Azeredo afirma que ajudou na campanha de FHC em 98. Mensalão ou caixa 2; os gráficos ignorados pela investigação. A armadilha do PSDB.
Tucanos afundam São Paulo. Em 8 anos, SP tem 941 mil grávidas na adolescência. Dieese: São Paulo deveria empregar mais. Renda na Grande SP cresce abaixo da média do Brasil. Assembléia aprova criação da disciplina "Deus na escola" em São Paulo.
Afundando mesmo
Erro no metrô causa desencontro de túneis. Metrô de São Paulo: buracos de túneis não se encontram. Metrô agora vê falha primária em desencontro de túneis. Desvio em túneis de Metrô pode ser de 1,4 metro. "Dados de Serra são tão precisos quanto túneis do Metrô". Serra omite informação sobre crime.
Afundando o Brasil e se afundando
De onde vem o $ do valerioduto? Os documentos do mensalão mineiro. Verba do Bemge foi para valerioduto, diz PF. Ação vai cobrar dinheiro desviado de estatais pelo mensalão mineiro. A caixa de Pandora de Marcos Valério. As diferenças entre mensalões. Marcos Valério, o operador de aluguel. Editora Abril é citada como suspeita no relatório da Polícia Federal sobre Mensalão do PSDB Mineiro. Azeredo afirma que ajudou na campanha de FHC em 98. Mensalão ou caixa 2; os gráficos ignorados pela investigação. A armadilha do PSDB.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
The Manchurian Candidate
Demo_cracia é isto mesmo. Pluripartidarismo, etc. e tal. Até a imprensa pode montar seu próprio partido partido político, tomando partido desavergonhadamente, sem medo nem vergonha de ser feliz. Tem os secretários da antipropaganda, que tratam de "esconder o que é ruim e faturar o que é pior". Tem o presidente-de-desonra, que não foi apelidado de Farol de Alexandria à toa, pois adora dar palpite sobre tudo (e reclamam do Caetano Veloso), com direito a coluna períodicas e entrevistas domingo-sim-domingo-também nos dois maiores jornais do país.
Rape me
Brasil Legal
"O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer.
O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Dizem que há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer.
O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Dizem que há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer."
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer.
O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Dizem que há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer.
O Brasil legal é o que vamos apresentar
E nossa vida vai espelhar como uma bandeira
Dizem que há um ponto que nos faz gozar a todos
E nos transforma assim em um povo
Com a vocação do prazer."
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Caetano Veloso em sessenta canções
É Proibido Proibir (versão de estúdio e versão do festival de 1968): cansado da patrulha ideológica da esquerda, mais do que da repressão da direita, Caetano aproveita para sabotar o 3° Festival Internacional da Canção (FIC), da TV Globo, no Teatro da PUC num discurso furioso e antológico.
Vida Boa (do disco Prenda Minha, de 1999; cover de Armandinho e Fausto Nilo): o que originalmente era um frevo eletrificado tornou-se um samba-frevo-gafieira carnavalesco que levanta até defunto.
A Voz Do Morto (ao vivo com Os Mutantes num compacto de 1967): canção inédita só lançada nesse compacto ao vivo. “Eles querem guardar as glórias nacionais... coitados!”
Acrilírico (Caetano Veloso, 1969): incursão pelo experimentalismo de colagens à la Revolution #9 (Beatles) e uma letra inspirada no concretismo. Originalmente a letra diria “Santo Amargo da Putrificação”, mas Caê temeu que sua mãe, Dona Cano (que, aliás, fez 100 anos semana passada), toda católica, ficasse chateada. Ah, e entre os ruídos da canção, tem participação de Gilberto Gil e até uma flatulência do maestro Rogério Duprat.
Alegria, Alegria (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção do Caetano Veloso, de 1967): além da canção que inaugurou a linguagem pop (de colagens do cotidiano, fragmentadas – o título era um bordão de Wilson Simonal) no Brasil, essa versão do último show de Caê e Gil antes do exílio faz parte de um medley com o hino do Esporte Clube Bahia (que era comumente tocado em trios elétricos e, dizem, cantado até por torcedores do Vitória, por causa de seu forte refrão) e a inédita Aquele Abraço; como era proibida qualquer menção à prisão ou ao exílio, restava o recado poético.
Araçá Azul (Araçá Azul, 1974): canção que encerra o disco homônimo, é uma das mais climáticas e menos experimentais; o araçá (goiaba) azul vem de um sonho que Caetano teve, no qual Bethânia estava trepada em uma árvore, devorando esse estranho fruto. Quanto a letra, o ateu Caetano diz que “com fé em Deus, não vai morrer tão cedo”. Ironia ou apenas lirismo impessoal?
Atrás Do Trio Elétrico (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção de Caetano Veloso, do mesmo ano): a música que fez os trios elétricos ficarem famosos no Brasil inteiro; homenagem de Caê ao talento pioneiro de Armandinho, Dodô e Osmar, com a pegada roqueira de um jovem Pepeu Gomes (com 14 anos) na guitarra.
Cajuína (Cinema Transcendental, 1979): quando o poeta piauiense e tropicalista Torquato Neto cometeu suicídio, em 1972, Caetano foi a Teresina e, de um encontro com o pai do falecido, regado a suco de caju, saiu essa conversa filosófica (um forró/xaxado existencialista?) e uma rosa de presente.
Cambalache (Caetano Veloso, 1969 – canção de E. S. Discépolo): Caetano encara qualquer ritmo em qualquer língua, inclusive esse tango de letra mais-que-ácida.
Canto Do Povo De Um Lugar (Jóia, 1975): talvez a canção mais convencional (tirando a cover beatle) deste disco que é tão experimental nas letras (seguindo a estética de Oswald de Andrade – cubofuturismo, poema-pílula, pema-piada – inclusive com um poema seu musicado no fim do disco) quanto Araçá Azul é na sonoridade (Jóia já é basicamente voz & violão).
Chuvas De Verão (Caetano Veloso, 1969 – canção de Fernando Lobo): tristíssima canção do irmão de Edu Lobo, bem ao estilo dos velhos sambas despedaça-coração. Caetano canta-a com verdadeira dor na voz.
Cinema Olympia (Barra 69 Ao Vivo): versão ao vivo da canção (gravada por Gal Costa) sobre um antigo cinema de Belém do Pará (hoje extinto).
Cobra-Coral (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Noites Do Norte, de 2000): parceria com Wally Salomão (obrigado ao Daniel pela correção), esta bela canção é cantada ao vivo com Lulu Santos, no dia do aniversário de Caetano. Seria a formosa e colorida serpente da canção uma mulher insinuante?
Ela Ela (Circuladô, 1991): estranha vinheta com guitarras nada melódicas fazendo ruído e uma letra com referências a lesbianismo.
Ele Me Deu Um Beijo Na Boca (Cores, Nomes, 1982): conversa filosófica de Caê eu seu pai, incluindo religião, existencialismo e citações do enigmático poeta maranhense Sousândrade.
Épico (Araçá Azul, de 1974): dá-lhe experimentalismo... início climático como uma trilha sonora, até que Caetano entra cantando, entre sons ambientes de pessoas e carros, cantando como uma velha lavadeira nordestina, fala de Hermeto (Pascoal) e (Walter) Smetak (músicos vanguardistas)... e Muzak (música ambiente para elevadores), segue com colagens sonoras e poéticas, falando sobre a vida conturbada e poluída em São Paulo, complicada especialmente como um nordestino – seria o épico de cada retirante no Brasil, por isso os sons ambientes e a trilha cinematográfica imponente – até arrematar com os geniais versos “Destino eu faço não peço / Tenho direito ao avesso / Botei todos os fracassos / Nas paradas de sucessos”. E tudo é engolido por uma barulheira claustrofóbica à la A Day In The Life, dos Beatles).
Eu E Ela Estávamos Ali Encostados Na Parede (Doces Bárbaros, 1967 – parceria com Gil): “E sem perceber a chegada da paz, nós dois estávamos alojados dentro dela.”
Eu Quero Essa Mulher (Araçá Azul, 1973 – canção de Monsueto Menezes, Lanny, e José Batista): pesada e estridente, talvez a mais barulhenta que Caetano já gravou.
Eu Sou Neguinha (Caetano, 1987): enigmática canção com toques de reggae; seria uma descrição das mil faces e possibilidades não só de Caê, mas de todas as pessoas?
For No One (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Lennon & McCartney): neste disco, lançado simultaneamente com Jóia (era pra ser duplo, mas a gravadora não deixou), também calcado uma sonoridade acústica, porém recheada de covers, traz esta canção de onde Caê tirou parte da melodia de Superbacana. Repare na letra, a melhor que Sir McCartney já fez.
Fora Da Ordem (Circuladô, 1991): auto-explicativa... “Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”. Pessoas incompletas num país incompleto.
Haiti (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Tropicália 2, de 1992): com toques de rap, esta pesada canção deve ser o mais certeiro relato sobre a degradação da nossa sociedade, desde sempre até hoje. Não deixe de notar a construção cinematográfica das imagens “do alto da Fundação Casa de Jorge Amado”.
Help! (Jóia, 1975 – canção de Lennon & McCartney): a delicada e melancólica versão nos faz atentar para a triste letra de Lennon. Só não sei porque justamente essa canção no concretista Jóia.
If You Hold A Stone (Transa, 1972): quando em 1969 Caetano adaptou a canção de domínio público Marinheiro Só, nem devia imaginar que a citaria novamente aqui, com mais propriedade (“Não sou daqui, eu não tenho amor, eu sou da Bahia de São Salvador”) enquanto exilado do outro lado do Atlântico.
In The Hot Sun Of A Christmas Day (Caetano Veloso, 1971): assim como em London London, a beleza de Londres – que ele consegue ver, mas não sentir – deixa-o ainda mais triste e só.
Irene (Caetano Veloso, 1969) com um clima de “ao vivo no estúdio” (com direito a falsos começos e brincadeiras de Gil) e um palíndromo ocasional (“Irene ri” – que Caetano só percebeu quando alertado pelos irmãos concretistas de Campos), Caê homenageou uma de suas irmãs nesta canção.
It’s A Long Way (Transa, 1972): seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
La Flor De La Canela (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Chabuca Granda): talvez a única canção peruana conhecida no Brasil além de El Condor Pása (famosa na versão de Simon & Garfunkel).
Lady Madonna (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Lennon & McCartney): mais uma cover do Fab Four, personalíssima como sempre.
Língua (Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Velô, de 1984): o primeiro samba-rap brasileiro (quem é Marcelo D2?), com letra absolutamente genial e inventiva e, graças a Zeus, sem a irritante presença de Elza Soares, que canta o refrão na versão de estúdio. Ah, e sim, “Hollywood” quer dizer “Azevedo” mesmo... e a "Holanda" do Chico Buarque está com um “L” só porque é menção à peça buarquiana Calabar, na qual o protagonista (personagem real da nossa História) “trai a pátria” e luta do lado dos holandeses no Nordeste.
London London (Caetano Veloso, 1971): Caetano deprimido e só no exílio londrino, triste porém com esperança no futuro... e a mais bela aliteração em língua inglesa já feita (“Green grass blue eyes grey sky God bless silent pain and hapiness”).
Lua Lua Lua Lua (Jóia, 1975): delicada e singela ode ao nosso satélite – tema caro a poetas de todas as gerações.
Marcianita (ao vivo com Os Mutantes num compacto de 1967 – cover de J.I.Marcone e G.V.Aldreto): clássico trash da Jovem Guarda e regravada por meio mundo até hoje; repare na declamação nonsense que Caê no final, com direito a menção até ao famoso “caso das máscaras de chumbo”.
Maria Bethânia (Caetano Veloso, 1971): uma carta para a irmã, pedindo força e querendo notícias do Brasil.
Maria Bethânia (Caetano Veloso E Maria Bethânia Ao Vivo, de 1979 – canção de Capiba): esta o próprio Caetano explica... "Pouco antes de eu completar quatro anos de idade, nasceu nossa irmã mais nova, para quem eu escolhera o nome de Maria Bethânia, por causa de uma bela valsa do compositor pernambucano Capiba, que começava com estas linhas majestosas e, à época, indecifráveis para mim: "Maria Bethânia, tu és para mim/ a senhora do engenho", e era grande sucesso na segunda metade da década de 40, na voz potente de Nelson Gonçalves. Naturalmente todos achavam graça no fato de eu saber cantar canções de gente grande, e mais ainda na minha determinação de nomear minha irmãzinha segundo uma dessas canções. Mas ninguém se sentia com coragem de realmente pôr esse nome "tão pesado" num bebê. Como havia várias outras sugestões (iam de Cristina a Gislaine), meu pai resolveu escrever todos os nomes em pedacinhos de papel que, depois de dobrados, ele jogou na copa de meu pequeno chapéu de explorador e me deu para tirar na sorte. Saiu o da minha escolha. Meu pai então pôs um ar resignado (que era uma ordem para que todos também se resignassem) e disse: "Pronto. Agora tem que ser Maria Bethânia". E saiu para registrar a recém-nascida com esse nome. Recentemente, ouvi de minhas irmãs mais velhas uma versão que diz que meu pai escrevera Maria Bethânia em todos os papéis. Não é de todo improvável. E, de fato, na expressão resignada de meu pai era visível - ainda hoje o é, na lembrança - um intrigante toque de humor. Mas, embora me encha ele orgulho o pensamento de que meu pai possa ter trapaceado para me agradar, eu sempre preferi crer na autenticidade do sorteio: essa intervenção do acaso parece conferir mais realidade a tudo o que veio a se passar desde então, pois ela faz crescerem ao mesmo tempo as magias (que nos dão a impressão de se excluírem mutuamente) do presságio e da unicidade absolutamente gratuita de cada acontecimento."
Minhas Lágrimas (Cê, de 2006): a primeira das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne, no disco quase inteiramente dedicado a isso.
Mora Na Filosofia (Transa, 1972 – canção de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos): este clássico da música brasileira ganha aqui uma versão climática, densa, tensa e pesada.
Não Me Arrependo (do disco Cê, de 2006): a segunda das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne.
Neolithic Man (Transa, 1972): a mais convencional canção, pelo menso liricamente, deste disco, é um legítimo blues-rock em forma de vinheta.
Nicinha (Qualquer Coisa, 1975): delicada vinheta para outra irmã de Caetano.
Nine Out Of Ten (Transa, 1972): provavelmente a primeira vez em que se ouviram acordes de reggae no Brasil (na música, ele desce a Portobello Road, em Londres, ao som desse ritmo). Atualmente, de volta ao setlist, ela é acrescida de toques de rock e ska.
No Dia Em Que Eu Vim-Me Embora (Caetano Veloso, de 1967): inventiva e paródica na estrutura melódica, própria dos primórdios tropicalistas, a letra, que começa um tanto irônica, termina melancólica, num retrato da solidão e dos temores juvenis de Caetano indo do interior à capital da Bahia.
Nostalgia (Transa, 1972): assim como em It’s A Long Way, seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
O Cu Do Mundo (Circuladô, 1991): a violência urbana, especialmente o ato do linchamento – crime punido, sem julgamento, com outro crime –, como ápice da degradação humana.
O Quereres (versão ao vivo do Totalmente Demais, de 1986, para a canção do Velô, 1984): não há tema batido nem esgotado quando falamos de um gênio como Caetano; nesta impecável letra, a eterna luta entre querer e não querer alguém , poder e não poder ficar com uma pessoa... a “bruta flor do querer”.
Onde Andarás (Caetano Veloso, 1967): segunda canção tropicalista, de quando Caê foi tentar a vida no Rio de Janeiro, traz imagens de lugares como Ipanema, um clima de tristeza bossanovista no início e no final; no meio, paródia a cantores de “grande voz”como Orlando Silva.
Oração Ao Tempo (Cinema Transcendental, 1979): um ode ao tempo, da fase hippie tardia de Caetano, de volta do exílio havia já alguns anos, pós "milagre econômico" e pós fiasco do "milagre", e sabendo que a Ditadura não era uma invasão alienígena, mas uma manifestação, infelizmente, do desejo de parte da população.
Os Argonautas (Caetano Veloso, 1969): mais um gênero interpretado com propriedade por Caê – o fado, com direito a citação Pessoana e sotaque português (homenagem e paródia ao mesmo tempo, sempre) no refrão.
Outro (Cê, de 2006): a terceira das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne.
Paisagem Útil (Caetano Veloso, 1967): primeira canção tropicalista, de quando Caê foi tentar a vida no Rio de Janeiro, é uma lenta marchinha com arranjo onipresente de cordas e uma bela visão do Aterro do Flamengo, porém com a visão (própria da Tropicália) ao mesmo tempo reverente e crítica da modernização tardia do Brasil, incluindo uma paródia à voz de cantores como Orlando Silva.
Pipoca Moderna (Jóia, 1975 – canção da Banda De Pífanos De Caruaru, letra de Caetano): já gravada na versão instrumental por Gil no Expresso 2222, uns três anos antes, com a própria tosca banda de pífanos, aparece aqui em versão mais delicada e com letra (nonsense).
Shoot Me Dead (Caetano Veloso, 1971): samba-blues acústico, uma mistura que só Caetano poderia fazer dar certo.
Sugar Cane Fields Forever (Araçá Azul, de 1974): além da óbvia paródia a Strawberry Fields Forever, dos Beatles (cinco anos depois haveria outra paródia, Chuckberry Fields Forever, no disco Doces Bárbaros), tem a folclórica Dona Edith do Prato e sua voz, digamos, peculiar.
Superbacana (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção do Caetano Veloso, de 1967): além da já mencionada citação a For No One, dos Beatles, esta canção de ar lúdico e ensolarado, quase infantil, faz um retrato de uma sociedade jeca metida a modernizada, onde todos os produtos, como Supervicky e Super-Hist, tinham grandes adjetivos.
Tigresa (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Bicho, de 1977): homenagem a Sônia Braga e crítica à geração “engajada” que tanto o patrulhou e criticou nos 1960s e, na década seguinte, entregou-se à “descerebrada” discoteca, em voga na época (“Frenetic Dancin’ Days” era a danceteria, no Morro da Urca, de propriedade do jornalista-forrest-gump Nélson Motta).
Trem Das Cores (Cores, Nomes, 1982): letra das mais geniais – uma singela viagem de trem pelo interior de algum lugar retratada unicamente pelas memórias das cores. Inigualável.
Tropicália (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Caetano Veloso, de 1967): com nome de instalação do artista plástico Hélio Oiticica, é, digamos, o manifesto do movimento, com sua relação e seu confronto de tudo que o país tinha e tem de urbano e rural, moderno e atrasado, incluindo menções ao filme Viva Maria (de Louis Malle), à canção A Banda, de Chico, ao movimento dadaísta, ao subgênero musical “fossa” e ao programa O Fino da Bossa. O movimento tropicalista ao mesmo tempo parodiava e homenageava tudo isso, pois sabia-se inserido no contexto.
Tu Me Acostumbraste (Araçá Azul, de 1974 – canção de F. Dominguez): num disco tão radical que ganhou o rótulo de campeão de devoluções nas lojas e foi retirado de catálogo por 13 anos, até a canção mais “bonitinha” teria que ser anarquizada, gravada com qualidade ruim e com Caê arriscando cantar uma oitava acima na segunda parte. Mesmo assim, dilacerante de tão bela.
Um Índio (versão do Circuladô Vivo, de 1992, para a canção originalmente no Doces Bárbaros, de 1976 – na voz de Bethânia, e no Bicho, de 1977): o índio representando uma tomada de consciência do povo brasileiro para uma nova e esperançosa realidade, um “novo aeon”.
You Don’t Know Me (Transa, 1972): tal como em Nostalgia e It’s A Long Way, seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
Vida Boa (do disco Prenda Minha, de 1999; cover de Armandinho e Fausto Nilo): o que originalmente era um frevo eletrificado tornou-se um samba-frevo-gafieira carnavalesco que levanta até defunto.
A Voz Do Morto (ao vivo com Os Mutantes num compacto de 1967): canção inédita só lançada nesse compacto ao vivo. “Eles querem guardar as glórias nacionais... coitados!”
Acrilírico (Caetano Veloso, 1969): incursão pelo experimentalismo de colagens à la Revolution #9 (Beatles) e uma letra inspirada no concretismo. Originalmente a letra diria “Santo Amargo da Putrificação”, mas Caê temeu que sua mãe, Dona Cano (que, aliás, fez 100 anos semana passada), toda católica, ficasse chateada. Ah, e entre os ruídos da canção, tem participação de Gilberto Gil e até uma flatulência do maestro Rogério Duprat.
Alegria, Alegria (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção do Caetano Veloso, de 1967): além da canção que inaugurou a linguagem pop (de colagens do cotidiano, fragmentadas – o título era um bordão de Wilson Simonal) no Brasil, essa versão do último show de Caê e Gil antes do exílio faz parte de um medley com o hino do Esporte Clube Bahia (que era comumente tocado em trios elétricos e, dizem, cantado até por torcedores do Vitória, por causa de seu forte refrão) e a inédita Aquele Abraço; como era proibida qualquer menção à prisão ou ao exílio, restava o recado poético.
Araçá Azul (Araçá Azul, 1974): canção que encerra o disco homônimo, é uma das mais climáticas e menos experimentais; o araçá (goiaba) azul vem de um sonho que Caetano teve, no qual Bethânia estava trepada em uma árvore, devorando esse estranho fruto. Quanto a letra, o ateu Caetano diz que “com fé em Deus, não vai morrer tão cedo”. Ironia ou apenas lirismo impessoal?
Atrás Do Trio Elétrico (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção de Caetano Veloso, do mesmo ano): a música que fez os trios elétricos ficarem famosos no Brasil inteiro; homenagem de Caê ao talento pioneiro de Armandinho, Dodô e Osmar, com a pegada roqueira de um jovem Pepeu Gomes (com 14 anos) na guitarra.
Cajuína (Cinema Transcendental, 1979): quando o poeta piauiense e tropicalista Torquato Neto cometeu suicídio, em 1972, Caetano foi a Teresina e, de um encontro com o pai do falecido, regado a suco de caju, saiu essa conversa filosófica (um forró/xaxado existencialista?) e uma rosa de presente.
Cambalache (Caetano Veloso, 1969 – canção de E. S. Discépolo): Caetano encara qualquer ritmo em qualquer língua, inclusive esse tango de letra mais-que-ácida.
Canto Do Povo De Um Lugar (Jóia, 1975): talvez a canção mais convencional (tirando a cover beatle) deste disco que é tão experimental nas letras (seguindo a estética de Oswald de Andrade – cubofuturismo, poema-pílula, pema-piada – inclusive com um poema seu musicado no fim do disco) quanto Araçá Azul é na sonoridade (Jóia já é basicamente voz & violão).
Chuvas De Verão (Caetano Veloso, 1969 – canção de Fernando Lobo): tristíssima canção do irmão de Edu Lobo, bem ao estilo dos velhos sambas despedaça-coração. Caetano canta-a com verdadeira dor na voz.
Cinema Olympia (Barra 69 Ao Vivo): versão ao vivo da canção (gravada por Gal Costa) sobre um antigo cinema de Belém do Pará (hoje extinto).
Cobra-Coral (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Noites Do Norte, de 2000): parceria com Wally Salomão (obrigado ao Daniel pela correção), esta bela canção é cantada ao vivo com Lulu Santos, no dia do aniversário de Caetano. Seria a formosa e colorida serpente da canção uma mulher insinuante?
Ela Ela (Circuladô, 1991): estranha vinheta com guitarras nada melódicas fazendo ruído e uma letra com referências a lesbianismo.
Ele Me Deu Um Beijo Na Boca (Cores, Nomes, 1982): conversa filosófica de Caê eu seu pai, incluindo religião, existencialismo e citações do enigmático poeta maranhense Sousândrade.
Épico (Araçá Azul, de 1974): dá-lhe experimentalismo... início climático como uma trilha sonora, até que Caetano entra cantando, entre sons ambientes de pessoas e carros, cantando como uma velha lavadeira nordestina, fala de Hermeto (Pascoal) e (Walter) Smetak (músicos vanguardistas)... e Muzak (música ambiente para elevadores), segue com colagens sonoras e poéticas, falando sobre a vida conturbada e poluída em São Paulo, complicada especialmente como um nordestino – seria o épico de cada retirante no Brasil, por isso os sons ambientes e a trilha cinematográfica imponente – até arrematar com os geniais versos “Destino eu faço não peço / Tenho direito ao avesso / Botei todos os fracassos / Nas paradas de sucessos”. E tudo é engolido por uma barulheira claustrofóbica à la A Day In The Life, dos Beatles).
Eu E Ela Estávamos Ali Encostados Na Parede (Doces Bárbaros, 1967 – parceria com Gil): “E sem perceber a chegada da paz, nós dois estávamos alojados dentro dela.”
Eu Quero Essa Mulher (Araçá Azul, 1973 – canção de Monsueto Menezes, Lanny, e José Batista): pesada e estridente, talvez a mais barulhenta que Caetano já gravou.
Eu Sou Neguinha (Caetano, 1987): enigmática canção com toques de reggae; seria uma descrição das mil faces e possibilidades não só de Caê, mas de todas as pessoas?
For No One (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Lennon & McCartney): neste disco, lançado simultaneamente com Jóia (era pra ser duplo, mas a gravadora não deixou), também calcado uma sonoridade acústica, porém recheada de covers, traz esta canção de onde Caê tirou parte da melodia de Superbacana. Repare na letra, a melhor que Sir McCartney já fez.
Fora Da Ordem (Circuladô, 1991): auto-explicativa... “Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”. Pessoas incompletas num país incompleto.
Haiti (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Tropicália 2, de 1992): com toques de rap, esta pesada canção deve ser o mais certeiro relato sobre a degradação da nossa sociedade, desde sempre até hoje. Não deixe de notar a construção cinematográfica das imagens “do alto da Fundação Casa de Jorge Amado”.
Help! (Jóia, 1975 – canção de Lennon & McCartney): a delicada e melancólica versão nos faz atentar para a triste letra de Lennon. Só não sei porque justamente essa canção no concretista Jóia.
If You Hold A Stone (Transa, 1972): quando em 1969 Caetano adaptou a canção de domínio público Marinheiro Só, nem devia imaginar que a citaria novamente aqui, com mais propriedade (“Não sou daqui, eu não tenho amor, eu sou da Bahia de São Salvador”) enquanto exilado do outro lado do Atlântico.
In The Hot Sun Of A Christmas Day (Caetano Veloso, 1971): assim como em London London, a beleza de Londres – que ele consegue ver, mas não sentir – deixa-o ainda mais triste e só.
Irene (Caetano Veloso, 1969) com um clima de “ao vivo no estúdio” (com direito a falsos começos e brincadeiras de Gil) e um palíndromo ocasional (“Irene ri” – que Caetano só percebeu quando alertado pelos irmãos concretistas de Campos), Caê homenageou uma de suas irmãs nesta canção.
It’s A Long Way (Transa, 1972): seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
La Flor De La Canela (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Chabuca Granda): talvez a única canção peruana conhecida no Brasil além de El Condor Pása (famosa na versão de Simon & Garfunkel).
Lady Madonna (Qualquer Coisa, 1975 – canção de Lennon & McCartney): mais uma cover do Fab Four, personalíssima como sempre.
Língua (Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Velô, de 1984): o primeiro samba-rap brasileiro (quem é Marcelo D2?), com letra absolutamente genial e inventiva e, graças a Zeus, sem a irritante presença de Elza Soares, que canta o refrão na versão de estúdio. Ah, e sim, “Hollywood” quer dizer “Azevedo” mesmo... e a "Holanda" do Chico Buarque está com um “L” só porque é menção à peça buarquiana Calabar, na qual o protagonista (personagem real da nossa História) “trai a pátria” e luta do lado dos holandeses no Nordeste.
London London (Caetano Veloso, 1971): Caetano deprimido e só no exílio londrino, triste porém com esperança no futuro... e a mais bela aliteração em língua inglesa já feita (“Green grass blue eyes grey sky God bless silent pain and hapiness”).
Lua Lua Lua Lua (Jóia, 1975): delicada e singela ode ao nosso satélite – tema caro a poetas de todas as gerações.
Marcianita (ao vivo com Os Mutantes num compacto de 1967 – cover de J.I.Marcone e G.V.Aldreto): clássico trash da Jovem Guarda e regravada por meio mundo até hoje; repare na declamação nonsense que Caê no final, com direito a menção até ao famoso “caso das máscaras de chumbo”.
Maria Bethânia (Caetano Veloso, 1971): uma carta para a irmã, pedindo força e querendo notícias do Brasil.
Maria Bethânia (Caetano Veloso E Maria Bethânia Ao Vivo, de 1979 – canção de Capiba): esta o próprio Caetano explica... "Pouco antes de eu completar quatro anos de idade, nasceu nossa irmã mais nova, para quem eu escolhera o nome de Maria Bethânia, por causa de uma bela valsa do compositor pernambucano Capiba, que começava com estas linhas majestosas e, à época, indecifráveis para mim: "Maria Bethânia, tu és para mim/ a senhora do engenho", e era grande sucesso na segunda metade da década de 40, na voz potente de Nelson Gonçalves. Naturalmente todos achavam graça no fato de eu saber cantar canções de gente grande, e mais ainda na minha determinação de nomear minha irmãzinha segundo uma dessas canções. Mas ninguém se sentia com coragem de realmente pôr esse nome "tão pesado" num bebê. Como havia várias outras sugestões (iam de Cristina a Gislaine), meu pai resolveu escrever todos os nomes em pedacinhos de papel que, depois de dobrados, ele jogou na copa de meu pequeno chapéu de explorador e me deu para tirar na sorte. Saiu o da minha escolha. Meu pai então pôs um ar resignado (que era uma ordem para que todos também se resignassem) e disse: "Pronto. Agora tem que ser Maria Bethânia". E saiu para registrar a recém-nascida com esse nome. Recentemente, ouvi de minhas irmãs mais velhas uma versão que diz que meu pai escrevera Maria Bethânia em todos os papéis. Não é de todo improvável. E, de fato, na expressão resignada de meu pai era visível - ainda hoje o é, na lembrança - um intrigante toque de humor. Mas, embora me encha ele orgulho o pensamento de que meu pai possa ter trapaceado para me agradar, eu sempre preferi crer na autenticidade do sorteio: essa intervenção do acaso parece conferir mais realidade a tudo o que veio a se passar desde então, pois ela faz crescerem ao mesmo tempo as magias (que nos dão a impressão de se excluírem mutuamente) do presságio e da unicidade absolutamente gratuita de cada acontecimento."
Minhas Lágrimas (Cê, de 2006): a primeira das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne, no disco quase inteiramente dedicado a isso.
Mora Na Filosofia (Transa, 1972 – canção de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos): este clássico da música brasileira ganha aqui uma versão climática, densa, tensa e pesada.
Não Me Arrependo (do disco Cê, de 2006): a segunda das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne.
Neolithic Man (Transa, 1972): a mais convencional canção, pelo menso liricamente, deste disco, é um legítimo blues-rock em forma de vinheta.
Nicinha (Qualquer Coisa, 1975): delicada vinheta para outra irmã de Caetano.
Nine Out Of Ten (Transa, 1972): provavelmente a primeira vez em que se ouviram acordes de reggae no Brasil (na música, ele desce a Portobello Road, em Londres, ao som desse ritmo). Atualmente, de volta ao setlist, ela é acrescida de toques de rock e ska.
No Dia Em Que Eu Vim-Me Embora (Caetano Veloso, de 1967): inventiva e paródica na estrutura melódica, própria dos primórdios tropicalistas, a letra, que começa um tanto irônica, termina melancólica, num retrato da solidão e dos temores juvenis de Caetano indo do interior à capital da Bahia.
Nostalgia (Transa, 1972): assim como em It’s A Long Way, seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
O Cu Do Mundo (Circuladô, 1991): a violência urbana, especialmente o ato do linchamento – crime punido, sem julgamento, com outro crime –, como ápice da degradação humana.
O Quereres (versão ao vivo do Totalmente Demais, de 1986, para a canção do Velô, 1984): não há tema batido nem esgotado quando falamos de um gênio como Caetano; nesta impecável letra, a eterna luta entre querer e não querer alguém , poder e não poder ficar com uma pessoa... a “bruta flor do querer”.
Onde Andarás (Caetano Veloso, 1967): segunda canção tropicalista, de quando Caê foi tentar a vida no Rio de Janeiro, traz imagens de lugares como Ipanema, um clima de tristeza bossanovista no início e no final; no meio, paródia a cantores de “grande voz”como Orlando Silva.
Oração Ao Tempo (Cinema Transcendental, 1979): um ode ao tempo, da fase hippie tardia de Caetano, de volta do exílio havia já alguns anos, pós "milagre econômico" e pós fiasco do "milagre", e sabendo que a Ditadura não era uma invasão alienígena, mas uma manifestação, infelizmente, do desejo de parte da população.
Os Argonautas (Caetano Veloso, 1969): mais um gênero interpretado com propriedade por Caê – o fado, com direito a citação Pessoana e sotaque português (homenagem e paródia ao mesmo tempo, sempre) no refrão.
Outro (Cê, de 2006): a terceira das três mais belas canções feitas sobre o fim do casamento com Paula Lavigne.
Paisagem Útil (Caetano Veloso, 1967): primeira canção tropicalista, de quando Caê foi tentar a vida no Rio de Janeiro, é uma lenta marchinha com arranjo onipresente de cordas e uma bela visão do Aterro do Flamengo, porém com a visão (própria da Tropicália) ao mesmo tempo reverente e crítica da modernização tardia do Brasil, incluindo uma paródia à voz de cantores como Orlando Silva.
Pipoca Moderna (Jóia, 1975 – canção da Banda De Pífanos De Caruaru, letra de Caetano): já gravada na versão instrumental por Gil no Expresso 2222, uns três anos antes, com a própria tosca banda de pífanos, aparece aqui em versão mais delicada e com letra (nonsense).
Shoot Me Dead (Caetano Veloso, 1971): samba-blues acústico, uma mistura que só Caetano poderia fazer dar certo.
Sugar Cane Fields Forever (Araçá Azul, de 1974): além da óbvia paródia a Strawberry Fields Forever, dos Beatles (cinco anos depois haveria outra paródia, Chuckberry Fields Forever, no disco Doces Bárbaros), tem a folclórica Dona Edith do Prato e sua voz, digamos, peculiar.
Superbacana (versão do Barra 69 Ao Vivo para a canção do Caetano Veloso, de 1967): além da já mencionada citação a For No One, dos Beatles, esta canção de ar lúdico e ensolarado, quase infantil, faz um retrato de uma sociedade jeca metida a modernizada, onde todos os produtos, como Supervicky e Super-Hist, tinham grandes adjetivos.
Tigresa (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Bicho, de 1977): homenagem a Sônia Braga e crítica à geração “engajada” que tanto o patrulhou e criticou nos 1960s e, na década seguinte, entregou-se à “descerebrada” discoteca, em voga na época (“Frenetic Dancin’ Days” era a danceteria, no Morro da Urca, de propriedade do jornalista-forrest-gump Nélson Motta).
Trem Das Cores (Cores, Nomes, 1982): letra das mais geniais – uma singela viagem de trem pelo interior de algum lugar retratada unicamente pelas memórias das cores. Inigualável.
Tropicália (versão do Noites Do Norte Ao Vivo, de 2001, para a canção do Caetano Veloso, de 1967): com nome de instalação do artista plástico Hélio Oiticica, é, digamos, o manifesto do movimento, com sua relação e seu confronto de tudo que o país tinha e tem de urbano e rural, moderno e atrasado, incluindo menções ao filme Viva Maria (de Louis Malle), à canção A Banda, de Chico, ao movimento dadaísta, ao subgênero musical “fossa” e ao programa O Fino da Bossa. O movimento tropicalista ao mesmo tempo parodiava e homenageava tudo isso, pois sabia-se inserido no contexto.
Tu Me Acostumbraste (Araçá Azul, de 1974 – canção de F. Dominguez): num disco tão radical que ganhou o rótulo de campeão de devoluções nas lojas e foi retirado de catálogo por 13 anos, até a canção mais “bonitinha” teria que ser anarquizada, gravada com qualidade ruim e com Caê arriscando cantar uma oitava acima na segunda parte. Mesmo assim, dilacerante de tão bela.
Um Índio (versão do Circuladô Vivo, de 1992, para a canção originalmente no Doces Bárbaros, de 1976 – na voz de Bethânia, e no Bicho, de 1977): o índio representando uma tomada de consciência do povo brasileiro para uma nova e esperançosa realidade, um “novo aeon”.
You Don’t Know Me (Transa, 1972): tal como em Nostalgia e It’s A Long Way, seguindo a gíria da época, o importante aqui é “transar” um som, curtir; por isso a mistura de ritmos, a gravação com cara de “ao vivo” e as letras que vão costurando trechos inéditos, citações de hits brasileiros e internacionais e até colagens de cantigas de domínio público.
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Eternidades da semana
Semana de Renan Encalheiros: a mídia, que virou mesmo partido político, fez de tudo, com seu agenda setting descarado, para lobotomizar a opinião pública (hein?) grudando a absolvição do já-culpado-antes-mesmo-de-julgado Renan, que, pra imprensa marrom-merda, virou petista de carteirinha. Enquanto isso em São Paulo, reduto dos “cansados” e do tucanato – além de reaças em geral –, temos choque de gestão nos transportes, na saúde, e na alimentação (choque “digestão”?). Enquanto isso, na Sala de Justiça mesmo que não deixem o homem trabalhar, ele trabalha. E dá trabalho. Ta certo que há notícias tristes, mas, no final, tudo vai melhorar.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Nada fácil, cara.
Não é fácil ser turista em São Paulo. Nem paulistano em São Paulo. Nem filha do Camus. Nem Lygia. Nem suicida.
Sem Deus, sem lei.
Cazaquistão sem lei. Estradas sem lei. Bélgica sem lei. Deus sem lei. Guiné-Bissau sem lei. Eutanásia sem lei. Vítimas do Césio sem lei. "Bob Dylan" sem lei. CPIs sem lei. Mídia (cada vez mais) golpista sem lei, nenhuma lei.
terça-feira, 28 de agosto de 2007
Eternidades da semana
José Dirceu vira réu em processo por formação de quadrilha (com mais 37 réus). Mas... existiu mesmo o tal mensalão? Vejamos o que os insuspeitos Luis Nassif, Mino Carta e Paulo Henrique Amorim têm a dizer sobre isso. Ah, e por que não dar voz ao próprio Zé?
O Dentinho Malcriado, de Jane Carruth, foi o segundo livro que li, lá pelos idos de 1981 (o primeiro foi A Nova Casa De Bebeto). Agora Heloísa Helena protagoniza, em vídeo, a esperada (?) continuação da saga: O Pivozão Fujão. Desde já um sucesso!
Post-Script: seiscentos carros novos por dias em São Paulo & Lula versus FHC.
PS do PS: e pensar que vocês têm o Superbacana de graça... vou começar a cobrar.
O Dentinho Malcriado, de Jane Carruth, foi o segundo livro que li, lá pelos idos de 1981 (o primeiro foi A Nova Casa De Bebeto). Agora Heloísa Helena protagoniza, em vídeo, a esperada (?) continuação da saga: O Pivozão Fujão. Desde já um sucesso!
Post-Script: seiscentos carros novos por dias em São Paulo & Lula versus FHC.
PS do PS: e pensar que vocês têm o Superbacana de graça... vou começar a cobrar.
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Tô cansado de me cansar.
O tal “Cansei”, que juntou com o “Fora Lula”, o acidente da TAM e, sei lá, os terremotos no Peru, foram uma coisa tão chacoteira que nem a Folha de S. Paulo comprou a idéia. Restaram a Veja, os reaças de internet, o PSDB e umas semicelebridades de sei lá o quê, daquelas que caducam em horário nobre ou gravam DVD no Maracanã às moscas. A seguir, um compacto com os melhores (?) momentos.
Infelizmente, os "esquerdistas millitantes de internet", que, tais e quais os "ateus militantes", são apenas reaças crentões de sinal trocado, deram excessivo cartaz a essaa bobagem so que trouxe risos e nada mais (obrigado Deborah). Mas enfim...
Estas tias tão mesmo cansadas. Mas vão se cansar em outro lugar! O Piauí e a Philips, parte I, parte II e parte III. E dá-lhe cansaço aqui, aqui e aqui. Mensalão (o original, não aceite imitações): não se cansam de roubar? Este não cansa de caducar: em inglês, FHC não diz besteira; já aqui no Brasil... falando nisso, Veja quanta bobagem. O Brasil acabou ou foi só o bom senso? E Deus... existe?
Infelizmente, os "esquerdistas millitantes de internet", que, tais e quais os "ateus militantes", são apenas reaças crentões de sinal trocado, deram excessivo cartaz a essaa bobagem so que trouxe risos e nada mais (obrigado Deborah). Mas enfim...
Estas tias tão mesmo cansadas. Mas vão se cansar em outro lugar! O Piauí e a Philips, parte I, parte II e parte III. E dá-lhe cansaço aqui, aqui e aqui. Mensalão (o original, não aceite imitações): não se cansam de roubar? Este não cansa de caducar: em inglês, FHC não diz besteira; já aqui no Brasil... falando nisso, Veja quanta bobagem. O Brasil acabou ou foi só o bom senso? E Deus... existe?
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo daqueles que velam pela alegria do mundo.
Os paulistas "cansados" não aprendem mesmo.
Será que os “cansados” se lembram disto?
Será que os “cansados” vão protestar? A casa caiu (literalmente) e continua caindo. E agora José?
Será que os “cansados” se lembram disto?
Será que os “cansados” vão protestar? A casa caiu (literalmente) e continua caindo. E agora José?
segunda-feira, 23 de julho de 2007
Só sei que não vou por aí.
Ignoro o acidente da TAM (devem ter sido os urubus da imprensa que voaram pra dentro da turbina e causaram o acidente) – a imprensa marrom-merda e seus jornalistas-carniceiros fazendo uso político de um acidente que não mata mais do que morre de preto pobre a cada final de semana na pariferia –, assim como ignoro o PAN (rebarba do esporte cucaracha, visto que EUA e Canadá mandam os times C) – o ufanismo em acompanhar esportes que o povo normalmente ignora, como handebol, pelota basca, badminton e críquete – e ignorei o papa (legítimo King Nothing) num país que há muito já não é católico.
terça-feira, 17 de julho de 2007
Pálido ponto azul
"Vivemos com o baralho viciado contra nós, e depois morremos: é só isso? Nada a não ser um sono sem sonhos e sem fim? Onde é que está a justiça nisso tudo? É desolador, brutal, impiedoso. Não deveríamos ter uma segunda chance numa arena nivelada? (...) Assim seria, se o mundo fosse ideado, pré-planejado, justo. Assim seria, se os que sofrem com a dor e o tormento recebessem o consolo que merecem. E, se o mundo não corresponde em todos os aspectos a nossos desejos, isso é culpa da ciência ou dos que querem impor a sua vontade ao mundo?”
O Mundo Assombrado Pelos Demônios. Dei-me este livro de presente no Natal de 2002. Tá, eu nem gosto dessas datas comemorativas, mas são ótimas desculpas para presentear pessoas queridas (isso me inclui – às vezes). Lembro-me de tê-lo comprado, acompanhado de uma amiga, na Saraiva do Shopping Paulista, junto com O Paraíso Perdido, de John Milton. Eu já namorava o livro do Carl Sagan (e mesmo sem conhecer tanto o autor, já nutria grande admiração por seu trabalho de divulgação científica) havia tempos, desde que fora lançado aqui, um pouco antes do meio da década de 1990. Recordo-me também de estar no último ano do Ensino Médio (na Federal significava o quarto ano), 1998, e uma amiga do primeiro ano (ensino “normal”) mostrá-lo como leitura obrigatória para nota, dada por um professor de Física. Mesmo sem não tê-lo lido até então, e mesmo com relativa pouca idade, me animou e estimulou o fato de que houvesse docentes preocupados não só com passar transparências, dar provas, fazer chamadas e ir logo tomar café na sala dos professores, mas sim em também formar cidadãos conscientes. Porém, não sei ao certo o motivo, só fui adquirir a obra (por conta própria, como já dito) quatro anos depois.
Lembro de começar a lê-lo num dia qualquer, chuvoso, meio de semana, rumo a Avenida Paulista, ao encontro com outra amiga. Caminho longo, a leitura começou a fluir.
À época, eu estava perdido entre o panteísmo e o deísmo e, mesmo tendo sempre gostado de Física e ciências em geral, não fazia idéia do quão fascinante aquilo podia ser e, mais que isso, prático e útil para nossa vida cotidiana e para a existência humana.
Este livro é tão revelador e educativo que deveria ser considerado leitura obrigatória para estudantes do Ensino Médio, como o tal professor (que nem conheço) fez com a turma da minha amiga da Federal.
Cristais, astrologia, profecias, santas que choram, abduções por extraterrestres, entortadores de colheres... enfim, todo tipo de charlatanismo é dizimado impiedosamente pelo autor ao longo do livro, numa defesa apaixonada e sincera da Ciência, da racionalidade, da coerência, enfim, de “deixar a cabeça aberta mas não a ponto de o cérebro cair pra fora dela” como modo de vida. Compreendi que o pensamento científico é uma filosofia de vida.
Carl Sagan dedicou a vida não só a divulgar a Ciência para os leigos, mas para defender ideais dos quais precisamos cada vez mais, como a democratização do conhecimento e a formação do pensamento crítico não só nos adultos, mas desde a infância. Tudo para que consigamos manter a Terra um lugar habitável. Nós, uma espécie de macaco absurdamente arrogante e pretensiosa num planetinha na periferia de uma galáxia na periferia do Universo, um pálido ponto azul. Afinal "ninguém virá dos céus para nos salvar de nós mesmos".
Quando a Ciência é mal divulgada e mal compreendida, é recebida como algo chato e abstrato. Aí o que acontece: as crendices, superstições e pseudociências tornam-se ainda mais populares.
Carl Sagan nos mostra a importância do senso crítico e da racionalidade para a construção de uma sociedade democrática, pois conhecimento significa liberdade.
Eis o release da obra:
“Este livro é uma defesa apaixonada e apaixonante da ciência e da racionalidade humana. Carl Sagan, que não tem poupado esforços para divulgar os conhecimentos científicos de forma correta e clara, ataca o vírus do analfabetismo científico que faz, por exemplo, com que a maioria dos americanos pense que os dinossauros conviveram com os seres humanos e que desapareceram no Dilúvio porque não cabiam na Arca de Noé. Ou que acredite em explicações pseudocientíficas e ficções, do monstro de Loch Ness às estátuas lacrimejantes da Virgem Maria, do Abominável Homem das Neves ao poder das pirâmides e dos cristais, do Santo Sudário a terapias de vidas passadas, de anjos e demônios a seres extraterrestres que seqüestram e estupram. Para o autor de Pálido Ponto Azul, longe de serem inócuas, essas crenças e modismos podem causar danos terríveis; nos Estados Unidos pais inocentes estão sendo condenados em decorrência de falsas lembranças de abuso sexual de seus filhos, induzidas por terapeutas incompetentes. Da mesma forma, ele mostra que a crença nos argumentos de autoridade e o declínio da compreensão dos métodos da ciência prejudicam a capacidade de escolha política e põem em risco os valores da democracia.
Como todos os livros de Sagan, O mundo assombrado pelos demônios está cheio de informações surpreendentes, transmitidas com humor e graça. Seus ataques muitas vezes divertidos à falsa ciência, às concepções excêntricas e aos irracionalismos do momento são acompanhados por lembranças felizes da infância, quando seus pais o colocaram em contato pela primeira vez com os dois modelos de pensamento centrais para o método científico: o ceticismo e a admiração.
Para aqueles que vivem bombardeados diariamente pelos fenômenos "fantásticos" da vida, este livro funciona como um tratamento de desintoxicação. Mais que uma vela bruxeleante, trata-se de um jato de luz destinado a varrer os demônios do obscurantismo que pairam sobre nosso tempo.”
É, Carl Sagan faz falta.
O Mundo Assombrado Pelos Demônios. Dei-me este livro de presente no Natal de 2002. Tá, eu nem gosto dessas datas comemorativas, mas são ótimas desculpas para presentear pessoas queridas (isso me inclui – às vezes). Lembro-me de tê-lo comprado, acompanhado de uma amiga, na Saraiva do Shopping Paulista, junto com O Paraíso Perdido, de John Milton. Eu já namorava o livro do Carl Sagan (e mesmo sem conhecer tanto o autor, já nutria grande admiração por seu trabalho de divulgação científica) havia tempos, desde que fora lançado aqui, um pouco antes do meio da década de 1990. Recordo-me também de estar no último ano do Ensino Médio (na Federal significava o quarto ano), 1998, e uma amiga do primeiro ano (ensino “normal”) mostrá-lo como leitura obrigatória para nota, dada por um professor de Física. Mesmo sem não tê-lo lido até então, e mesmo com relativa pouca idade, me animou e estimulou o fato de que houvesse docentes preocupados não só com passar transparências, dar provas, fazer chamadas e ir logo tomar café na sala dos professores, mas sim em também formar cidadãos conscientes. Porém, não sei ao certo o motivo, só fui adquirir a obra (por conta própria, como já dito) quatro anos depois.
Lembro de começar a lê-lo num dia qualquer, chuvoso, meio de semana, rumo a Avenida Paulista, ao encontro com outra amiga. Caminho longo, a leitura começou a fluir.
À época, eu estava perdido entre o panteísmo e o deísmo e, mesmo tendo sempre gostado de Física e ciências em geral, não fazia idéia do quão fascinante aquilo podia ser e, mais que isso, prático e útil para nossa vida cotidiana e para a existência humana.
Este livro é tão revelador e educativo que deveria ser considerado leitura obrigatória para estudantes do Ensino Médio, como o tal professor (que nem conheço) fez com a turma da minha amiga da Federal.
Cristais, astrologia, profecias, santas que choram, abduções por extraterrestres, entortadores de colheres... enfim, todo tipo de charlatanismo é dizimado impiedosamente pelo autor ao longo do livro, numa defesa apaixonada e sincera da Ciência, da racionalidade, da coerência, enfim, de “deixar a cabeça aberta mas não a ponto de o cérebro cair pra fora dela” como modo de vida. Compreendi que o pensamento científico é uma filosofia de vida.
Carl Sagan dedicou a vida não só a divulgar a Ciência para os leigos, mas para defender ideais dos quais precisamos cada vez mais, como a democratização do conhecimento e a formação do pensamento crítico não só nos adultos, mas desde a infância. Tudo para que consigamos manter a Terra um lugar habitável. Nós, uma espécie de macaco absurdamente arrogante e pretensiosa num planetinha na periferia de uma galáxia na periferia do Universo, um pálido ponto azul. Afinal "ninguém virá dos céus para nos salvar de nós mesmos".
Quando a Ciência é mal divulgada e mal compreendida, é recebida como algo chato e abstrato. Aí o que acontece: as crendices, superstições e pseudociências tornam-se ainda mais populares.
Carl Sagan nos mostra a importância do senso crítico e da racionalidade para a construção de uma sociedade democrática, pois conhecimento significa liberdade.
Eis o release da obra:
“Este livro é uma defesa apaixonada e apaixonante da ciência e da racionalidade humana. Carl Sagan, que não tem poupado esforços para divulgar os conhecimentos científicos de forma correta e clara, ataca o vírus do analfabetismo científico que faz, por exemplo, com que a maioria dos americanos pense que os dinossauros conviveram com os seres humanos e que desapareceram no Dilúvio porque não cabiam na Arca de Noé. Ou que acredite em explicações pseudocientíficas e ficções, do monstro de Loch Ness às estátuas lacrimejantes da Virgem Maria, do Abominável Homem das Neves ao poder das pirâmides e dos cristais, do Santo Sudário a terapias de vidas passadas, de anjos e demônios a seres extraterrestres que seqüestram e estupram. Para o autor de Pálido Ponto Azul, longe de serem inócuas, essas crenças e modismos podem causar danos terríveis; nos Estados Unidos pais inocentes estão sendo condenados em decorrência de falsas lembranças de abuso sexual de seus filhos, induzidas por terapeutas incompetentes. Da mesma forma, ele mostra que a crença nos argumentos de autoridade e o declínio da compreensão dos métodos da ciência prejudicam a capacidade de escolha política e põem em risco os valores da democracia.
Como todos os livros de Sagan, O mundo assombrado pelos demônios está cheio de informações surpreendentes, transmitidas com humor e graça. Seus ataques muitas vezes divertidos à falsa ciência, às concepções excêntricas e aos irracionalismos do momento são acompanhados por lembranças felizes da infância, quando seus pais o colocaram em contato pela primeira vez com os dois modelos de pensamento centrais para o método científico: o ceticismo e a admiração.
Para aqueles que vivem bombardeados diariamente pelos fenômenos "fantásticos" da vida, este livro funciona como um tratamento de desintoxicação. Mais que uma vela bruxeleante, trata-se de um jato de luz destinado a varrer os demônios do obscurantismo que pairam sobre nosso tempo.”
É, Carl Sagan faz falta.
segunda-feira, 16 de julho de 2007
Miséria traz tristeza e vice-versa.
Um em cada seis paulistanos vive em favela. Polícia do Rio mata 41 civis para cada policial morto.
"Cine xadrez" aproxima presos rivais no Rio. [Detentos de delegacia de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, têm projeto com cinema, música, literatura e poesia. Diferenças entre membros de facções rivais têm diminuído; na delegacia também há jornal feito pelos presos e biblioteca.]
"Cine xadrez" aproxima presos rivais no Rio. [Detentos de delegacia de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, têm projeto com cinema, música, literatura e poesia. Diferenças entre membros de facções rivais têm diminuído; na delegacia também há jornal feito pelos presos e biblioteca.]
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Mas pelo fato de ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio.
A morte anda tão viva, a vida anda pra trás. Mas só agora a mídia percebeu e a sociedade ficou na dúvida se fica indgnada ou não. E tem alguma coisa errada: não era pra gente ter medo dos "bandidos"?
Pena de morte para trabalhador que não aceitou tapa na cara. Um PM é preso a cada 25 horas no Rio. Ator de Malhação é acusado de espancar travestis e roubar prostituta. Jovem é preso após atear fogo em prostituta. Rio: funcionário de limpeza é espancado na Barra. Babá espanca e mata criança de três anos no Rio. Especialistas vêem risco de trauma e doença [para jovens e crianças do complexo do Alemão].
Pena de morte para trabalhador que não aceitou tapa na cara. Um PM é preso a cada 25 horas no Rio. Ator de Malhação é acusado de espancar travestis e roubar prostituta. Jovem é preso após atear fogo em prostituta. Rio: funcionário de limpeza é espancado na Barra. Babá espanca e mata criança de três anos no Rio. Especialistas vêem risco de trauma e doença [para jovens e crianças do complexo do Alemão].
quinta-feira, 28 de junho de 2007
Grandes (?) momentos do futéco
Edmundo levando nocaute de Zandoná
Flamengo 3 X 0 Velez Sarsfield – Supercopa de 1995
http://www.youtube.com/watch?v=lXnQwi--tHE
Diego sambando na pizza
São Paulo 3x2 Santos – Brasileirão de 2002
http://www.youtube.com/watch?v=vdxCw5aZjX8
Embaixadinhas do Edílson
Corinthians 3 x 0 palmeiras – Paulistão de 1999
http://www.youtube.com/watch?v=fo8BDn8atUI
Zidane nocauteando Materazzi
Itália 1 x 1 França – Copa de 2006 (Alemanha)
http://www.youtube.com/watch?v=7IE2JBaBSBk
Invasão corinthiana no Maracanã
Fluminense 1 x 1 Corinthians – Brasileirão de 1976
http://www.youtube.com/watch?v=FqfcNqa-TGc
Diego expulso na cobrança de pênaltis
Porto 0 x 0 Once Caldas – Mundial Interclubes 2004 (Tóquio)
http://www.youtube.com/watch?v=6wsdma8DL_A
Golaço contra do Oséas
Palmeiras 1 X 1 Corinthians – (Paulistão de 1998)
http://www.youtube.com/watch?v=wyunhU3Fcu8
Palermo perde três pênaltis na mesma partida
Côlombia 3 x 0 Argentina – Copa América de 1999 (Paraguai)
http://www.youtube.com/watch?v=UNg1L5LNIkg
Isso sim é fairplay (depois d’uma puta mancada)!
Ajax x ADO Den Haag (não achei mais dados)
http://www.youtube.com/watch?v=PstjMCBAMdU
Gol do juiz Aragão
Palmeiras 2 x 2 Santos – Paulistão de 1983
http://www.spiner.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1005
http://www.museudosesportes.com.br/noticia.php?id=7119
Almir Pernambuquinho brigando contra todo o time do Bangu
Flamengo 0 x 3 Bangu – Cariocão de 1966
http://carrinhonoolho.blogspot.com/2004_02_01_archive.html#107785568176056211
http://www.museudosesportes.com.br/noticia.php?id=19284
http://www.gazetaesportiva.net/almanaque/futebol/almir/index.htm
Armando Marques errando a contagem dos pênaltis
Portuguesa 0 x 0 Santos – Paulistão de 1973
http://www.gazetaesportiva.net/album/1973/galeria.htm
Flamengo 3 X 0 Velez Sarsfield – Supercopa de 1995
http://www.youtube.com/watch?v=lXnQwi--tHE
Diego sambando na pizza
São Paulo 3x2 Santos – Brasileirão de 2002
http://www.youtube.com/watch?v=vdxCw5aZjX8
Embaixadinhas do Edílson
Corinthians 3 x 0 palmeiras – Paulistão de 1999
http://www.youtube.com/watch?v=fo8BDn8atUI
Zidane nocauteando Materazzi
Itália 1 x 1 França – Copa de 2006 (Alemanha)
http://www.youtube.com/watch?v=7IE2JBaBSBk
Invasão corinthiana no Maracanã
Fluminense 1 x 1 Corinthians – Brasileirão de 1976
http://www.youtube.com/watch?v=FqfcNqa-TGc
Diego expulso na cobrança de pênaltis
Porto 0 x 0 Once Caldas – Mundial Interclubes 2004 (Tóquio)
http://www.youtube.com/watch?v=6wsdma8DL_A
Golaço contra do Oséas
Palmeiras 1 X 1 Corinthians – (Paulistão de 1998)
http://www.youtube.com/watch?v=wyunhU3Fcu8
Palermo perde três pênaltis na mesma partida
Côlombia 3 x 0 Argentina – Copa América de 1999 (Paraguai)
http://www.youtube.com/watch?v=UNg1L5LNIkg
Isso sim é fairplay (depois d’uma puta mancada)!
Ajax x ADO Den Haag (não achei mais dados)
http://www.youtube.com/watch?v=PstjMCBAMdU
Gol do juiz Aragão
Palmeiras 2 x 2 Santos – Paulistão de 1983
http://www.spiner.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1005
http://www.museudosesportes.com.br/noticia.php?id=7119
Almir Pernambuquinho brigando contra todo o time do Bangu
Flamengo 0 x 3 Bangu – Cariocão de 1966
http://carrinhonoolho.blogspot.com/2004_02_01_archive.html#107785568176056211
http://www.museudosesportes.com.br/noticia.php?id=19284
http://www.gazetaesportiva.net/almanaque/futebol/almir/index.htm
Armando Marques errando a contagem dos pênaltis
Portuguesa 0 x 0 Santos – Paulistão de 1973
http://www.gazetaesportiva.net/album/1973/galeria.htm
terça-feira, 26 de junho de 2007
Stupid White Men
[ http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1709317-EI5030,00.html ]
[ http://ponteaerearj.nominimo.com.br/?p=1542 ]
Cadê o cidadão de bem querendo justiça? Cadê as manchetes de jornal convocando ao linchamento? Cadê a indignação dos humanos direitos que defendem repressão policial e apartheid social? É culpa dos remédios? Da televisão? Cadê as passeatas pedindo paz, exigindo rigidez das autoridades? Cadê a mídia massacrando o espectador com detalhes sórdidos e discursos inflamados?
[ http://ponteaerearj.nominimo.com.br/?p=1542 ]
Cadê o cidadão de bem querendo justiça? Cadê as manchetes de jornal convocando ao linchamento? Cadê a indignação dos humanos direitos que defendem repressão policial e apartheid social? É culpa dos remédios? Da televisão? Cadê as passeatas pedindo paz, exigindo rigidez das autoridades? Cadê a mídia massacrando o espectador com detalhes sórdidos e discursos inflamados?
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Caia na estrada e perigas ver.
Brasil-sil-sil: sai daí, pobraiada! Eu disse sai daí! Senão vou te linchar! Cambada de bandido... hmpf.
Parada do orgulho desocupado. Parada do orgulho desonesto. A revista preferida dos reaças.
Relaxei, mas não gozei. Quem sabe de Aerotrem? Vai uma laranjada aí? Ou pelo menos um(a) vale docinha de volta...
Parada do orgulho desocupado. Parada do orgulho desonesto. A revista preferida dos reaças.
Relaxei, mas não gozei. Quem sabe de Aerotrem? Vai uma laranjada aí? Ou pelo menos um(a) vale docinha de volta...
quarta-feira, 13 de junho de 2007
O mais querido – Do Rio De Janeiro A Tóquio De Dezembro
[Campeonato Brasileiro de 1980]
Melhores momentos das primeiras fases
Final: Flamengo 3x2 Atlético Mineiro
[Taça Libertadores da América – 1981]
Time-base: Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico (Técnico: Paulo César Carpeggiani).
Campanha: 14 jogos –9 vitórias, 4 empates e 1 derrota (28 gols pró e 13 contra).
Artilheiro da competição: Zico, com 11 gols.
[Primeira fase]
3/8 – Atlético Mineiro 2x2 Flamengo
14/8 – Flamengo 5x2 Cerro Porteño (PAR)
24/8 – Flamengo 1x1 Olimpia (PAR)
7/8 – Flamengo 2x2 Atlético Mineiro
11/8 – Cerro Porteño (PAR) 2x4 Flamengo
14/8 – Olimpia (PAR) 0x0 Flamengo
21/8 – Flamengo 0x0 Atlético Mineiro
[Segunda fase]
2/10 – Deportivo Cali (COL) 0x1 Flamengo
13/10 – Jorge Wilstermann (BOL) 1x2 Flamengo
23/10 – Flamengo 3x0 Deportivo Cali (COL)
30/10 – Flamengo 4x1 Jorge Wilstermann (BOL)
[Finais]
13/11 – Flamengo 2x1 Cobreloa
20/11 – Cobreloa 1x0 Flamengo
23/11 – Flamengo 2x0 Cobreloa
[Mundial Interclubes – 1981]
12/12 – Flamengo 3x0 Liverpool
[Bônus]
Flamengo 6x0 Botafogo (o jogo da vingança)
Flamengo 3x0Santos (final do Brasileirão de 1983, com 155.000 no Maracanã)
Esporte espetacular: 25 anos do Mundial
Melhores momentos das primeiras fases
Final: Flamengo 3x2 Atlético Mineiro
[Taça Libertadores da América – 1981]
Time-base: Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico (Técnico: Paulo César Carpeggiani).
Campanha: 14 jogos –9 vitórias, 4 empates e 1 derrota (28 gols pró e 13 contra).
Artilheiro da competição: Zico, com 11 gols.
[Primeira fase]
3/8 – Atlético Mineiro 2x2 Flamengo
14/8 – Flamengo 5x2 Cerro Porteño (PAR)
24/8 – Flamengo 1x1 Olimpia (PAR)
7/8 – Flamengo 2x2 Atlético Mineiro
11/8 – Cerro Porteño (PAR) 2x4 Flamengo
14/8 – Olimpia (PAR) 0x0 Flamengo
21/8 – Flamengo 0x0 Atlético Mineiro
[Segunda fase]
2/10 – Deportivo Cali (COL) 0x1 Flamengo
13/10 – Jorge Wilstermann (BOL) 1x2 Flamengo
23/10 – Flamengo 3x0 Deportivo Cali (COL)
30/10 – Flamengo 4x1 Jorge Wilstermann (BOL)
[Finais]
13/11 – Flamengo 2x1 Cobreloa
20/11 – Cobreloa 1x0 Flamengo
23/11 – Flamengo 2x0 Cobreloa
[Mundial Interclubes – 1981]
12/12 – Flamengo 3x0 Liverpool
[Bônus]
Flamengo 6x0 Botafogo (o jogo da vingança)
Flamengo 3x0Santos (final do Brasileirão de 1983, com 155.000 no Maracanã)
Esporte espetacular: 25 anos do Mundial
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Souvenirs
Conforme divulgado no site oficial da banda (e confirmado em seu myspace), Anneke van Giersbergen está deixando o The Gathering, rumo à carreira-solo.
Os motivos alegados, por ambas as partes, são os de sempre (e com a costumeira polidez): novos horizontes musicais, diferenças artísticas, vontade de mudar de ambiente, etc. Enquanto a moça já tem um novo projeto, a banda buscará outra vocalista e seguirá a carreira.
O que isso significa? Bem, pra música de massa no mundo todo e pro público médio consumidor de cultura pop, nada vai mudar. A banda tinha um estilo difícil de ser rotulado e não tinha grande base de fãs na maioria dos continentes. Mas, macrocosmo à parte, faz uma diferença desgraçada pra mim imaginar o mundo sem a combinação Anneke + The Gathering. Tá certo, ela não morreu, a banda não acabou, ambas as parte têm projetos e tudo seguirá com provável criatividade e qualidade. Além disso, as obras já concretizadas estão aí, por toda parte, prontas para serem ouvidas (eu mesmo tenho aqui todos os CDs, bootlegs e até um DVD duplo).
Mas é um pedaço de mim que fica para trás, sinal dos tempos, de que as coisas vão passando, mudando, acabando. A arte que abraçamos para que a vida nauseante e cheia de existência não nos destrua.
Nem parece que faz dez anos que ouvi Nighttime Birds pela primeira vez, num final de domingo, nas ondas da Brasil 2000 FM com o clássico Backstage (apresentado pelo gordo sem-graça Vitão Bonesso). Tempos em que a internet não servia pra quase nada e pra descobrir bandas novas só havia esse programa, as revistas (e os fanzines) especializados, os amigos lojistas da Galeria do Rock.
Lembro-me de, no sábado seguinte, ir a Galeria, pegar o CD e levá-lo assim que o mal-humorado lojista (mas gente-boa) colocou a primeira faixa pra tocar (On Most Surfaces).
Creio que há a possibilidade de eu ter ouvido Nighttime Birds numa coletânea da Century Media que veio como CD-bônus junto com o A Dead Poem, do Rotting Christ.
Talvez a música ouvida tenha sido Strange Machines (versão ao vivo). Mas não importa. Desde sempre era Anneke.
Importam as canções, o sentimento transcendental de abrir aquele encarte, com sua borboleta, seu tornado, suas folhas, pegar o CD cheio de constelações desenhadas e sair do corpo ao som de Kevin’s Telescope, minha predileta durante muito tempo, e cujo sabor especial se mantêm até hoje.
Valem – e muito – as vivências do final da adolescência que tiveram The Gathering como trilha sonora sentimental. Têm valor inestimável as pessoas relacionadas com as canções. E até a camiseta que mandei fazer com uma foto da Anneke. Tudo é válido.
The Gathering já existia antes dela (houve dois discos com vocal masculino, mais voltados ao doom-metal) e continuará daqui por diante (pelo menos o ótimo instrumental se manterá). Mas como imaginar outra pessoa cantando You Learn About It, Broken Glass ou In Motion #1?
Não era daquelas bandas pelas quais você faz campanha para que todas ouçam. Creio que não há como não gostar, mas, por outro lado, não consigo descrever o sentimento, o enlevo, às altitudes estelares a que as canções deles me levavam, levam e levarão.
Como toda relação, eu mudei, a banda mudou (de doom atmosférico até um rock alternativo psicodélico mas ainda doomy); estranhei a mudança, fiquei tempos sem ouvi-los, até compreendê-los. E carrego comigo a grande agonia de não tê-los visto ano passado aqui no Brasil, por falta de dinheiro.
Não pela vida ser como é, mas pelas coisas estarem como estão. Mas, em algum universo paralelo, eu fui ao show, e há um momento em que estou eternamente vendo-os e ouvindo-os ao vivo. A arte é perpétua, eterna, perene. Anneke, transcendental.
Os motivos alegados, por ambas as partes, são os de sempre (e com a costumeira polidez): novos horizontes musicais, diferenças artísticas, vontade de mudar de ambiente, etc. Enquanto a moça já tem um novo projeto, a banda buscará outra vocalista e seguirá a carreira.
O que isso significa? Bem, pra música de massa no mundo todo e pro público médio consumidor de cultura pop, nada vai mudar. A banda tinha um estilo difícil de ser rotulado e não tinha grande base de fãs na maioria dos continentes. Mas, macrocosmo à parte, faz uma diferença desgraçada pra mim imaginar o mundo sem a combinação Anneke + The Gathering. Tá certo, ela não morreu, a banda não acabou, ambas as parte têm projetos e tudo seguirá com provável criatividade e qualidade. Além disso, as obras já concretizadas estão aí, por toda parte, prontas para serem ouvidas (eu mesmo tenho aqui todos os CDs, bootlegs e até um DVD duplo).
Mas é um pedaço de mim que fica para trás, sinal dos tempos, de que as coisas vão passando, mudando, acabando. A arte que abraçamos para que a vida nauseante e cheia de existência não nos destrua.
Nem parece que faz dez anos que ouvi Nighttime Birds pela primeira vez, num final de domingo, nas ondas da Brasil 2000 FM com o clássico Backstage (apresentado pelo gordo sem-graça Vitão Bonesso). Tempos em que a internet não servia pra quase nada e pra descobrir bandas novas só havia esse programa, as revistas (e os fanzines) especializados, os amigos lojistas da Galeria do Rock.
Lembro-me de, no sábado seguinte, ir a Galeria, pegar o CD e levá-lo assim que o mal-humorado lojista (mas gente-boa) colocou a primeira faixa pra tocar (On Most Surfaces).
Creio que há a possibilidade de eu ter ouvido Nighttime Birds numa coletânea da Century Media que veio como CD-bônus junto com o A Dead Poem, do Rotting Christ.
Talvez a música ouvida tenha sido Strange Machines (versão ao vivo). Mas não importa. Desde sempre era Anneke.
Importam as canções, o sentimento transcendental de abrir aquele encarte, com sua borboleta, seu tornado, suas folhas, pegar o CD cheio de constelações desenhadas e sair do corpo ao som de Kevin’s Telescope, minha predileta durante muito tempo, e cujo sabor especial se mantêm até hoje.
Valem – e muito – as vivências do final da adolescência que tiveram The Gathering como trilha sonora sentimental. Têm valor inestimável as pessoas relacionadas com as canções. E até a camiseta que mandei fazer com uma foto da Anneke. Tudo é válido.
The Gathering já existia antes dela (houve dois discos com vocal masculino, mais voltados ao doom-metal) e continuará daqui por diante (pelo menos o ótimo instrumental se manterá). Mas como imaginar outra pessoa cantando You Learn About It, Broken Glass ou In Motion #1?
Não era daquelas bandas pelas quais você faz campanha para que todas ouçam. Creio que não há como não gostar, mas, por outro lado, não consigo descrever o sentimento, o enlevo, às altitudes estelares a que as canções deles me levavam, levam e levarão.
Como toda relação, eu mudei, a banda mudou (de doom atmosférico até um rock alternativo psicodélico mas ainda doomy); estranhei a mudança, fiquei tempos sem ouvi-los, até compreendê-los. E carrego comigo a grande agonia de não tê-los visto ano passado aqui no Brasil, por falta de dinheiro.
Não pela vida ser como é, mas pelas coisas estarem como estão. Mas, em algum universo paralelo, eu fui ao show, e há um momento em que estou eternamente vendo-os e ouvindo-os ao vivo. A arte é perpétua, eterna, perene. Anneke, transcendental.
Assinar:
Postagens (Atom)